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terça-feira, 25 de setembro de 2012
O que é Meditar?
O termo meditação designa diversos tipos de práticas.
A meditação não é necessariamente uma técnica, mas uma atitude em que a mente permanece calma, silenciosa, alerta e concentrada.
Descansar a mente com atenção plena permite revelar a verdadeira natureza da realidade.
A melhor maneira de aprender a meditar é com a orientação de um mestre ou professor qualificado de uma tradição autêntica.
Não há meditação sem sabedoria, não há sabedoria sem meditação.
Naquele em que há meditação e sabedoria, este na verdade está na presença do nirvana.
Dhammapada
segunda-feira, 30 de julho de 2012
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Medos: Caminhos da Realização - dos medos do Eu ao mergulho no Ser / Por Jean-Yves Leloup
Os Medos de Jonas e os nossos medos
Maslow e a psicologia humanista fazem de Jonas o arquétipo do homem que tem medo da realização. O homem que foge da sua vocação, da sua palavra exterior ou dos acontecimentos numinosos. Alguns de nós encontramos esta outra dimensão em determinadas circunstâncias, não somente por uma palavra, mas na natureza, durante uma doença, após um acidente, através de uma experiência amorosa ou admirando uma obra de arte. Cada um sabe em que momento numinoso o tocou, o questionou, o inquietou, para convida-lo a se tornar um ser mais autêntico.
Antes de falar deste medo do numinoso e desta recusa provocada pelo convite à profundidade, a esta realização do Self por meio da superação do Eu, é preciso observar os diferentes medos que precedem este medo da transcendência.
O medo do sucesso
Em 1915, Freud observou, tratando as neuroses, um fenômeno inesperado em alguns de seus pacientes: o sucesso profissional provocava neles uma grande ansiedade. Freud explicou este fato através de um postulado: “Para algumas pessoas, o sucesso equivale a uma morte simbólica do genitor do mesmo sexo”. Quando conseguimos alguma coisa, temos medo de humilhar nossos pais.
Uma tal idéia vai criar, junto à ansiedade, um sentimento de culpa, produzindo um estado de melancolia que pode durar vários anos. Freud descrevia essas pessoas como aquelas a quem o sucesso destrói. Pelo medo de fazer melhor que os seus pais, de vencer onde eles não conseguiram, seja a nível profissional, seja a nível afetivo.
Este medo existe em crianças, mas frequentemente o encontramos em adultos também. Adultos que não se permitem ser felizes como casais porque na união de seus pais havia muito sofrimento ou adultos que se sentem culpados por ganhar dinheiro se em sua família não se ganha dinheiro.
Isso pode parecer curioso, porque nós sempre desejamos que nossos filhos sejam melhores do que nós fomos. É o que os pais geralmente dizem. Eles dizem... mas nem sempre dizem de todo o coração, pois se um filho torna-se mais rico ou mais feliz, ele lhes escapa, sai da família e inconscientemente (nós estamos na esfera do inconsciente, é claro) eles seguem seus filhos no mesmo estado social em que eles pararam e no mesmo estado de dificuldade afetiva em que eles pararam.
Enquanto o sucesso fica ao nível do sonho, do desejo, a neurose do sucesso não necessariamente se manifesta, mas desde que este sucesso se torna uma realidade, por exemplo, após uma promoção, pode ser que aquele que foi beneficiado não o suporte. Talvez vocês conheçam pessoas com este tipo de problema – que obtiveram uma promoção e, curiosamente, em vez de se alegrarem, adoeceram.
Freud dirá que as pessoas adoecem, porque um de seus sonhos, o mais profundo e duradouro, se realiza. Não é raro que o Ego tolere um sonho como inofensivo, enquanto sua existência for apenas uma projeção e que pareça nunca se realizar. É como quando sonhamos ter um homem ou uma mulher e, quando ele ou ela estão lá, nós achamos nosso sonho improvável e o ignoramos.
O Self pode, entretanto, defender-se arduamente desta situação, desde que a realização se aproxime e a concretização seja uma ameaça. Eu creio que este estudo é muito interessante porque existem entre nós muitas pessoas que sonham, que idealizam o sucesso, a plenitude. No entanto, por que estes sonhos jamais se realizam? Eu conheço homens e mulheres muito inteligentes que se organizam sempre e de tal maneira que fracassam em seus exames quando têm capacidade de vence-los. Por que? É o que nós chamamos de neurose do fracasso. No momento em que vamos vencer, no momento em que nosso sonho vai se realizar, inconscientemente nos arranjamos para falharmos. Podemos observar este mecanismo em algumas pessoas como um processo muito doloroso e incompreensível.
Neste contexto, poderíamos dizer que Jonas recusa a voz interior do Ser que o chama, que o chama para que se supere, porque desta maneira ele superará seu pai. Esta é uma explicação edipiana da neurose do fracasso. Tememos o sucesso e suas repercussões, pelo medo de ultrapassarmos nossos pais, seja em felicidade, em educação, em fortuna ou em status. Podemos, assim, nos tornarmos uma ameaça para nossos pais e sermos rejeitados por eles. Vocês percebem que é sempre a presença desta criança em nós que tem medo de não ser amada, que tem medo de não ser reconhecida.
Freud dá, igualmente, o exemplo de um professor universitário que durante muitos anos aspirara à cátedra do seu mestre. Quando seu sonho se realizou, pela aposentadoria do seu mestre, ele foi invadido por uma depressão da qual só saiu depois de longos anos.
Um psicólogo como Fenichel verá, como uma causa profunda do medo de vencer, o sentimento de indignidade. Temos, pois, de observar em nós a nossa relação com o sucesso. Nosso desejo do sucesso e nosso medo do sucesso. E neste medo do sucesso talvez esteja incluído um sentimento de indignidade – esta depreciação de si mesmo que talvez seja a herança de um certo número de julgamentos que nos foram dirigidos. Quando se repete a uma criança que ela nunca será nada, que ela não é inteligente ou que não sabe cantar, ela integrará esta programação. E se um dia ela chegar ao sucesso, inconscientemente, ela pensa que este sucesso não é justo.
Citando Finchel: “O sucesso pode significar a realização de alguma coisa imerecida, que acentua a inferioridade e a culpa. Um sucesso pode implicar não somente em castigo imediato, mas também em aumento de ambição, levando ao medo de futuros fracassos e de sua punição.”
Para Karen Horner, o medo do sucesso resulta do medo de suscitar inveja nos outros, com perda conseqüente do seu afeto. Alguns têm medo de vencer porque não querem que os outros sintam ciúmes dele, o que é muito arcaico. Os gregos expressavam isso da seguinte maneira: “Os deuses têm inveja do sucesso dos homens.” Porque eles consideravam que o sucesso dos homens retirava as suas prerrogativas.
A maioria dos primitivos pensa que muito sucesso atrai para o homem um perigo sobrenatural. Heródoto, em particular, vê em todos os lugares da história a obra da inveja divina. Quando os homens e mulheres são muito ambiciosos, atraem toda sorte de infelicidades. Só está seguro o homem que é obscuro. “Para viver feliz, viva escondido”, para viver feliz, viva deitado.
O medo da diferença
Neste momento reencontramos o arquétipo de Jonas. Talvez ele esteja buscando, através da sua fuga do chamado de Deus, o anonimato mais do que a afirmação da sua própria personalidade. É interessante observar nesta passagem, que alguns podem utilizar a mística, os ensinamentos espirituais para fugir da sua personalidade e regredir ao impessoal ao invés de supera-la. Neste aspecto, a espiritualidade pode servir de pretexto para fugir à afirmação do seu Eu.
Afirmar-se é afirmar-se como diferente. Afirmar-se diferente não quer dizer afirmar-se contra, mas afirmar-se no que temos de próprio, na missão particular que nos foi dada para servir a todos.
O que é pedido a Jonas é que ele não seja apenas um sábio que vive no anonimato de uma cabana no fundo do bosque, mas que seja também um profeta. O silêncio que está nele não é uma ausência de palavras, é a mãe da palavra. Antes de se calar, antes de saborear a beleza do silêncio, ele deverá dizer sua própria palavra.
Antes de chegar a este estado de não-desejo e não-medo, no cume do nosso “vir-a-ser”, do nosso tornar-se, neste estado de Paz integrada, devemos viver esse desejo. Só poderemos supera-lo após tê-lo realizado.
É preciso falar para ir além da palavra. É preciso desejar para ir além do desejo. Algumas vezes nós nos servimos da espiritualidade, nos refugiamos em um falso silêncio e em um não-desejo, que é uma ausência de vida, uma falta de vitalidade que está mais próxima da depressão do que do estar desperto, alerta, mais próximo da despersonalização do que da transpersonalização.
Jonas teme o ciúme e a incompreensão dos seus irmãos. Ele teme ser rejeitado e morto pelo ostracismo de seu povo. Ele teme ser um “colaborador”, um inimigo do seu povo.
O complexo de Jonas não é, apenas, um medo do sucesso, um sentimento de culpa diante do sucesso, um medo de suscitar inveja nos outros. O complexo de Jonas é, também, o medo de ser diferente, de ser rejeitado por aqueles que são diferentes.
Rollo May dizia: “Muitos fatores provam que a maior ameaça, a causa mais nítida da angústia do homem ocidental contemporâneo, não é a castração, mas o ostracismo.” Ou seja, a situação considerada como terrível e aterrorizante é a situação de ser rejeitado pelo grupo ao qual pertencemos.
Muitos de nossos contemporâneos passam por uma castração voluntária, isto é, renunciam ao seu poder, à sua originalidade, à sua independência, pelo medo da rejeição, do exílio. Eles adotam a impotência e o conformismo (para Rollo May o conformismo será a doença mais grave do nosso século) devido à ameaça eficaz e terrível do ostracismo.
O conformismo sempre foi considerado necessário à sobrevida de um grupo e à sua harmonia interna, mas este conformismo pode se tornar opressivo e provocar doenças. Estes fenômenos são observados, algumas vezes, em certos grupos espirituais. Tomam-se as mesmas atitudes, a mesma maneira de olhar mais ou menos inspirada, repetem-se as mesmas frases, sem verdadeiramente pensar em integra-las. Entra-se, assim, em uma atitude mais ou menos esquizóide.
Há aqueles que representam o papel que lhes é pedido, mas o Ser verdadeiro não está neles. Neste caso, ocorre uma espécie de mal-estar, que pode gerar uma doença. Um discípulo de São Tomas de Aquino um dia lhe perguntou: “Se minha consciência me pede para fazer alguma coisa e o Papa me pede para fazer outra, a quem eu devo obedecer?”
Esta questão é muito atual. No lugar do Papa você pode colocar o seu guru, o sol ou a lua, uma pessoa ou autoridade suprema, a referência que você busca quando coloca uma questão profunda. O que acontece se esta autoridade lhe diz para fazer alguma coisa e o seu desejo interior lhe manda fazer outra? A quem obedecer? A qual voz escutar?
Santo Tomas de Aquino dá uma resposta a seu discípulo que talvez surpreenda alguns. Ele não diz: “Obedeça ao Papa”, mas: “Obedeça à sua própria consciência, obedeça à sua consciência procurando esclarecê-la.” Não separe as duas partes da frase: “Obedeça à sua própria consciência” e, ao mesmo tempo, “procure esclarecê-la”.
Essa frase de São Tomas de Aquino é uma boa frase terapêutica. Se ele tivesse dito: “É preciso obedecer ao Papa”, ele teria feito dessa pessoa um hipócrita ou um esquizofrênico. Esta atitude pode ser observada em alguns católicos ou em pessoas que pertencem a outros grupos humanos. Obedecem à autoridade, mas uma personalidade interior se dissocia, pouco a pouco, dos seus atos. Neste divisão entre o que fazemos e o que pensamos vai se introduzir um mal-estar, ou um “estar mal” que gera a doença.
Podemos nos enganar, mas não podemos mais nos mentir. É preciso aceitar que podemos nos enganar, mas ao mesmo tempo devemos buscar esclarecer o nosso caminho, mantendo ambos unidos. Por vezes,ter a coragem de nos diferenciarmos do nosso meio e daqueles que, para nós, constituem uma autoridade. Caso contrário, descobriremos que estamos nos destruindo naquilo que temos de mais autêntico.
O medo de Jonas é o medo de ser diferente, de ser rejeitado por aqueles dos quais ele se diferenciou. O conformismo pode provocar um certo número de patologias. Quantos pássaros tiveram suas asas cortadas ou aparadas para que ficassem felizes e confortáveis em suas gaiolas douradas?
Na lenda do Grande Inquisidor de Dostoievski, esse diz ao Cristo, que retorna à terra: “Vai ser preciso suprimi-lo novamente, porque você vai tornar as pessoas muito infelizes, tornando-as muito livres. Nós queremos tornar os homens felizes. Nós dizemos: faça isto ou aquilo e tudo correrá bem. Ao invés, você quer que os homens sejam livres. Você não diz: façam isso, façam aquilo. O homem é infeliz na sua liberdade. Nós queremos libertar o homem do peso da sua liberdade.”
Este texto continua sendo atual. Estamos, incessantemente, à procura de alguém, de um ensinamento ou de uma instituição que nos diga o que é bom e o que é ruim e que nos isente do exercício da nossa liberdade. Um mestre verdadeiro não nos isenta da nossa liberdade. Ele nos dá elementos de reflexão, um certo número de exercícios ou de práticas a viver a fim de que nos tornemos livres por nós mesmos. Suas palavras não substituem as nossas palavras, elas nutrem nossas palavras. Seu desejo não substitui o nosso desejo. Não somos suas marionetes, seus soldadinhos ou discípulos fanáticos dos seus ensinamentos, mas nos tornamos pessoas livres, nutridas pelas luzes e pela riqueza que ele pode nos comunicar.
A vontade de ser como todo mundo traz um sentimento de impotência excepcional. Os psicólogos humanistas vão nos mostrar que a pressão social é tal e tão forte que a maior parte das pessoas tenta resolver os seus problemas pessoais adaptando-se cegamente, às normas e aos valores do grupo. Cortados da sua atenção primaria, empregam o critério de adaptação como o único ponto de referência para julgar se uma atitude, individual ou coletiva, é aceitável.
Como dizia Harlow: “Parece que a pressão de se conformar (de se adaptar) às normas do grupo é irresistível, mesmo quando esta adaptação está claramente em conflito com as percepções, com as atitudes e convicções do indivíduo.” Este é um bom critério de discernimento.
Um grupo são, saudável, é capaz de conter pessoas muito diferentes, que pensam de maneira diferente e que se enriquecem com suas diferenças. Porque se todos pensarem a mesma coisa, se todos entrarem na mesma concha, não pensaremos mais... Nossa relação deixará de ser uma relação de aliança e se tornará uma relação de submissão a uma doutrina comum. É como a água da chuva que, ao cair em um campo, gerasse flores de uma única cor.
É interessante notarmos que, quando um ensinamento pode florescer sob diferentes formas, ele encontra aplicações em ambientes e mundos diferentes. É o sinal de que estamos num espaço que colabora para nossa evolução em vez de nos destruir, de nos bloquear.
O medo de mudanças
Muitos têm medo de mudanças, mesmo que esta mudança as abra a uma existência melhor e mais feliz. O abandono dos antigos hábitos, a perda do conhecido, cria em algumas pessoas um clima intolerável de insegurança. Não há realmente segurança senão no previsível, mesmo que isto signifique infelicidade e sofrimento.
O desejo de segurança é muito pronunciado nos psicóticos. Em sua infância lhes foi ensinado que toda mudança é uma ameaça. A separação da mãe ou do ambiente familiar foi-lhes apresentado como o equivalente da morte e do caos. Esta noção vai criar, nestas pessoas, um medo de toda e qualquer mudança.
Muita segurança impede a evolução da pessoa, mas muita liberdade vai causar também muita angústia. A criança não sabe mais quais são seus limites. Portanto, o medo de não ser como os outros vai gerar um outro medo: o medo de conhecer-se a si mesmo.
Por Jean-Yves Leloup
Fonte:
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Não Violência com Julia Bacha
Em 2003, a aldeia palestina de Budrus empreendeu um protesto não violento de dez meses para impedir a construção de uma barreira através dos seus olivais. Apesar da grandeza do feito, poucas pessoas ouviram falar na ação. Nesta palestra do TED Global 2011, a realizadora brasileira Julia Bacha pergunta por que razão as pessoas só prestam atenção à violência - e não aos líderes não violentos que podem um dia trazer a paz.
Segundo Julia, apesar de serem pouco vistos nos veículos de comunicação internacionais, existem dezenas de palestinos que estão usando a não violência para defender as suas terras e recursos hídricos dos soldados israelitas e colonos. Segundo a palestrante, esta divisão entre o que está a acontecer no terreno e a percepção no exterior é uma das principais razões para que ainda não exista um movimento pacífico de resistência palestina que tenha sido bem sucedido.
“Acredito que o que está faltando em grande parte para que a não violência aumente não é que os palestinos comecem a adotá-la, mas sim que nós comecemos a prestar atenção àqueles que já o fazem.” - Julia Bacha
Ela conta a história da aldeia de Budrus que, desde 2003, é cenário de um “extraordinário conjunto de acontecimentos” gerados pela mobilização pacífica de seus moradores. “No entanto, as mídias mantêm-se majoritariamente em silêncio em relação a estas histórias. Este silêncio acarreta profundas consequências para a probabilidade do crescimento da não violência, ou até da sua sobrevivência”, defende a brasileira.
Para ela, as resistências violenta e a não violenta têm uma coisa muito importante em comum - ambas são uma forma de teatro a procura de audiência para a sua causa. “Assim, se os atores violentos forem os únicos a conseguir visibilidade nas primeiras páginas e a atrair a atenção internacional para a questão da Palestina, torna-se muito difícil aos líderes não violentos convencer as suas comunidades de que a desobediência civil é uma opção viável para a abordagem do seu empenho”.
Esse “comportamento funcional”, comumente visto na infância, quando as crianças aprendem que a atenção dos pais está relacionada ao choro, pode ser incentivado ou desincentivado também nas grandes causas sociais, diz Julia. “O comportamento de comunidades e países inteiros pode ser influenciado, dependendo de onde a comunidade internacional escolha focar a sua atenção”, diz.
Por isso, a palestrante defende ser fundamental para acabar com o conflito no Médio Oriente que a não violência seja transformada em um comportamento funcional, dando muito mais atenção aos líderes não violentos que estão hoje em ação.
“Eu acredito que a coisa mais importante é compreender que se não prestarmos atenção a estes esforços, eles são invisíveis e é como se nunca tivessem acontecido. Mas eu vi que se lhes prestarmos atenção eles vão se multiplicar”, conclui.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Sonhar... Sonho... Sonhos...
"Sonhar permite que cada um
e todos de nós sejamos loucos,
silenciosamente e com segurança,
cada noite de nossas vidas."
William C. Dement
(Pesquisador de sono e sonhos)
Ao longo de sua história, a humanidade tenta entender o significado dos sonhos. Desta questão cuidaram os filósofos, místicos e cientistas, chegando eles às mais diferentes respostas. Diversas culturas antigas e mesmo muitas atuais, interpretam os sonhos como inspirações, sinais divinos, visões proféticas, fantasias sexuais, realidade alternativa, e diversas outras crenças, medos e conjecturas, dada a sua natureza intrigante e enigmática.
Em 1900, em seu livro "A Interpretação dos Sonhos", Sigmund Freud defendia a idéia de que os sonhos refletiam a experiência inconsciente. Ele teorizou que o pensamento durante o sono tende a ser primitivo ou regressivo e que os efeitos da repressão são reduzidos. Para ele, os desejos reprimidos, particularmente aqueles associados ao sexo e à hostilidade, eram liberados nos sonhos quando a consciência era diminuída.
Entretanto, naquela época, a fisiologia do sono e sonhos era desconhecida, restando a Freud apenas a sua interpretação psicoanalítica dos sonhos.
Somente na década dos 50, com a descoberta de que os movimentos rápidos dos olhos (o chamado sono REM, ou Rapid Eyes Movement sleep), eram frequentemente um indicativo de que o indivíduo estava sonhando, uma nova era da pesquisa sobre sonhos emerge, e alguns elementos da psicanálise tiveram que ser modificados ou abandonados.
Hoje sabemos que os sonhos são entendidos como parte do ciclo do sono determinado biologicamente. Diversas teorias tem sido descritas, baseadas em achados neurofisiológicos e comportamentais, seja através do registro de ondas cerebrais, seja por estudos com lesão e estimulação de estruturas no cérebro (de animais) que são acreditadas estarem envolvidas com os sonhos.
Por que o cérebro sonha?
De natureza muitas vezes bizarra, irreal e confusa, os sonhos são especulados por alguns estudiosos do sono e sonhos como sendo um meio pelo qual o cérebro se livra de informações desnecessárias ou erradas durante o período em que o indivíduo está acordado - um processo de "desaprendizagem" ou aprendizagem reversa, proposta por Francis Crick e Graeme Mitchison, em 1983. Estes pesquisadores postularam que o néocortex, uma complexa rede de associação neural, poderia se tornar carregado por grandes quantidades de informações recebidas. O neocórtex poderia desenvolver, então, pensamentos falsos ou "parasíticos", pensamentos estes que comprometeriam o armazenamento verdadeiro e ordenado da memória.
Isto explicaria porque as crianças, cujo ritmo de aprendizagem é intenso, apresentam mais sono REM que os adultos. Elas necessitariam, segundo esta ideia, esquecer as diversas associações erradas ou sem sentido que se formam durante a sua aprendizagem quando estão acordadas, favorecendo, desta forma, o armazenamento das associações ou informações que são verdadeiramente importantes.
Em linha semelhante de pensamento, outros estudiosos teorizaram que os sonhos consistem de associações e memórias eliciadas da parte frontal do cérebro, em resposta a sinais randômicos do tronco encefálico. Estes autores, sugeriram que os sonhos são o melhor "ajuste" que o cérebro frontal poderia fornecer a este bombardeamento randômico do tronco cerebral. Nesta proposição, os neurônios da ponte, via tálamo, ativariam várias áreas do córtex cerebral eliciando imagens bem conhecidas ou mesmo emoções, e o córtex então, tentaria sintetizar as imagens disparadas. O sonho "sintetizado" pode ser completamente bizarro e mesmo sem sentido porque ele está sendo desencadeado por uma atividade semi-randômica da ponte (veja Substrato Neural dos Sonhos).
William Dement nos chama a atenção para o fato de que cada um de nós somos "loucos", quando, ao sonhar, manifestamos as mais bizarras situações. Outros pesquisadores predizem que falhas na habilidade em processar o sono REM, podem causar fantasias, alucinação e obsessão. Outros ainda, afirmam que a falta de sonhos (de sono REM) induz psicoses alucinatórias e outros distúrbios mentais.
Com base em tais achados e teorias, podemos pensar que sonhos são mecanismos de defesa e adaptação, e a "loucura" manifestada durante este estado silencioso e inconsciente, parece ser necessária para que nos mantenhamos "sãos" durante o nosso agitado estado de consciência.
Nós precisamos sonhar?
Ainda não se sabe se precisamos sonhar ou não, mas é evidente que o corpo requer sono REM. Kelly argumenta que a privação de REM não causa psicoses, comportamentos bizarros, ansiedade ou irritabilidade, como foi afirmado por muitos pesquisadores, desde que ele observou que sujeitos privados do sono REM por um período de 16 dias não mostraram sinais de distúrbios patológicos sérios.
De acordo com o pesquisador, o efeito mais importante da privação de REM, é uma mudança dramática em padrões subsequentes quando o sujeito é permitido dormir sem interrupção. Um encurtamento do sono REM por várias noites, é seguido por início prematuro, longa duração e frequência aumentada de períodos REM. Quanto maior a privação, maior e mais amplo será o efeito REM. A existência de um mecanismo compensatório ativo para a recuperação de sono REM perdido ou suprimido sugere que o sono REM é fisiologicamente necessário.
Webb (1985) encontrou que perda de mais que 48 horas de sono tiveram pouco efeito sobre a precisão dos atos e tarefas de processamento cognitivo, enquanto que medidas de atenção foram afetadas. A performance pode ser devido mais a fatores motivacionais do que componentes cognitivos.
Lugaresi (1986) reporta um o caso de um homem que, gradualmente, começou a dormir menos e menos; ele apresentava inabilidade em se concentrar, falhas intelectuais, desorientação. Quando ele morreu, seu cérebro foi verificado e foi encontrado que ele tinha uma condição herdada que causou uma degeneração do tálamo.
Por que não Atuamos Durante os Sonhos?
Imagine que 'catástrofe' não seria, quando, ao dormirmos e sonharmos, não tivessemos mecanismos cerebrais que inibissem nossos movimentos e ação!
Quando estamos dormindo, nós possuímos um mecanismo adaptativo que nos protege de injúria contra nós mesmos e contra outras pessoas. Os mesmos mecanismos do tronco encefálico que controlam os processos do sono na parte frontal do cérebro, também inibem os neurônios motores espinhais, prevenindo assim, a atividade motora descendente, de expressar movimentos.
Sistemas que inibem o movimento durante o sono REM.
A. No sono REM normal, a ponte inibe o feixe lateral motor. O resultado é uma paralisia completa.
B. No sono REM sem paralisia (em casos de lesão ou tumor), as lesões quebram as conexões da ponte ao feixe locomotor lateral e centro medular.
Tradução: Brain stem= tronco encefálico. Pons= Ponte. Medulla=Bulbo. Excitate= Excitam. Medullary Inhibitory Area= área Inibitória Medular. Muscles=Músculos.
No sono REM, a ponte é ativada, excitando a área inibitória medular por projeções (trato tegmento reticular), o qual conecta a ponte ao centro inibitório. O centro medular inibe os neurônios motores e promove a atonia (paralização dos movimentos).
O feixe locomotor lateral, abaixo da parte externa do tronco encefálico, exibe um importante papel na redução do drive motor. Ele é conectado às estruturas da medula espinhal. No sono REM, a ponte estimula a zona inibitória, desligando o feixe locomotor e impedindo a ação do movimento.
Tradução: Cerebral Cortex= Córtex Cerebral. Thalamus= Tálamo. Pons= Ponte. Medulla= Bulbo. Tegmento-reticular tract= Trato tegmento-reticular. Motor neurons= Neurônios motores. Lateral Locomotor Strip= Feixe Locomotor Lateral
Pessoas que atuam durante seus sonhos, apresentam um raro distúrbio conhecido como Distúrbio do Sono REM. Estas pessoas frequentemente se injuriam a si próprias ou pessoas próximas a elas. A base para este distúrbio parece ser a desconecção de sistemas no tronco encefálico que medeiam a atonia (Bear e al).
Lesões experimentais em certas partes da ponte podem causar uma condição similar em gatos. Durante os períodos REM, eles parecem estar caçando camundongos, ou investigando intrusos invisíveis.
Neurobiologia dos Sonhos: Atividade Elétrica
As evidências neurofisiológicas indicam que o sono não se constitui apenas em uma espécie de repouso cerebral, mas também em estágios distintos de atividade neuronal.
Aproximadamente 90 minutos após o início do sono, várias mudanças fisiológicas abruptas podem ocorrer. O EEG se torna dessincronizado, mostrando baixa-voltagem, um padrão de atividade rápido, similar, mas não idêntico, àquele do estado de alerta. Como resultado, este estado de sono tem também sido chamado de sono paradoxal, sono ativo, e sono dessincronizado.
Os estágios básicos do sono, por convenção, são divididos em dois tipos principais:
- REM (Rapid Eyes Movement, o sono dos sonhos) e
- Não REM (NREM).
Estes dois tipos são geralmente quebrados em cinco estágios: um, dois, três, quatro e REM. Em cada estágio, as ondas cerebrais se tornam progressivamente maiores e mais lentas, e o sono se torna mais profundo. Após alcançar o estágio 4, o período mais profundo, o padrão se reverte e o sono se torna progressivamente mais leve até o sono REM, o período mais ativo, ocorrer.
Este ciclo ocorre tipicamente aproximadamente uma vez a cada 90 minutos. Aproximadamente 75% do sono total é gasto em sono não-REM. Uma boa noite de sono depende do equilíbrio apropriado destes componentes.
Quando o indivíduo torna-se sonolento, as ondas alfa e beta vão gradualmente cedendo espaço para outras ondas de baixa amplitude conhecidas como ondas teta (quatro a sete por segundo). No sono leve, as ondas teta predominam e há o aparecimento dos chamados fusos do sono (feixes de atividade elétrica sincronizada de 12 a 17 HZ).
À medida que as fases se sucedem, o sono torna-se cada vez mais profundo, e o indivíduo torna-se cada vez menos reativo aos estímulos sensoriais.
Electrophysiological Activity of Sleep
O que são "ondas" cerebrais?
No cérebro, a somatória da atividade elétrica de milhões de neurônios, principalmente no córtex, podem ser observadas no eletroencefalograma (EEG), um aparelho que registra a atividade elétrica das células do cérebro durante os diversos estados em que se encontra uma pessoa, desde a vigília até o sono profundo.
As células nervosas apresentam diferenças de potencial elétrico em relação ao líquido em que está mergulhada. Potencial de ação refere-se a uma breve flutuação de cargas elétricas na membrana do neurônio, causada pela rápida abertura e fechamento de canais iônicos dependentes de voltagem (fluxo de íons).
Potenciais de ação percorrem como ondas os axônios dos neurônios, para transferir informação de um lugar a outro no sistema nervoso. Uma onda pode ser de alta ou baixa amplitude (voltagem) e alta ou baixa frequência (regularidade).
Ondas beta (baixissima amplitude, alta frequência; 13 a 30 ondas/seg). Pessoa acordada e ativa (em estado de vigília). São as ondas mais rápidas e sinaliza um córtex ativo e intenso estado de atenção. Registro irregular (dessincronizado).
Ondas Alfa
(baixa amplitude, 8 a 13 ondas /seg) Pessoa acordada e relaxada, com os olhos fechados. Os neurônios estão disparando em tempos diferentes. Registro regular (sincronizado).
Ondas Teta
(baixa-média amplitude, spike-like waves; 3-7 ondas/seg) Pessoa sonolenta ou adormecida, sono de transição. It can be observed in hippocampus. Theta rythm is also oberved in REM sleep. Because the hippocampus is involved in memory processing, the presence of theta rythm during REM sleep in that region of the brain might be related to that activity.
Ondas Delta
(alta amplitude, baixa frequência; 3 ondas /seg) Pessoa em sono profundo. Os neurônios, os quais não estão engajados no processamento de informação, estão disparando todos ao mesmo tempo, portanto a atividade está sincronizada. As ondas são grandes e lentas.
Rem
60 a 70 ondas/seg. Maximal retraction of the pupil and nictating membrane accompany the volleys of ocular movements
Estágios do sono durante uma noite, dividido em ciclos.
Uma noite típica de sono consiste da repetição de 90 a 110 minutos do ciclo do sono REM e não-REM. O tempo gasto no sono REM é representado pela barra azul-clara. O primeiro período REM é geralmente curto (5 a 10 min), mas ele tende a aumentar nos ciclos sucessivos. Da mesma forma, os estágios 3 e 4 , os quais, juntos, são frequentemente chamados como "sono delta", é onde dominam o período de sono de ondas baixas no primeiro terço da noite, mas frequentemente são completamente ausentes durante os últimos ciclos ocorridos de manhã. (Baseado em Kelly).
O eletroencefalograma (EEG) mostra os padrões de atividade elétrica durante os diferentes estágios do sono. As ondas cerebrais de uma pessoa alerta e de uma pessoa com sono REM - Rapid Eye Movement (quando os sonhos ocorrem) são similares em frequência e amplitude. No sono não-REM (estágios 1, 2, 3 e 4), as ondas têm uma amplitude maior e uma frequência mais baixa, indicando que neurônios no cérebro estão disparando mais lentamente em um rítmo sincronizado.
Neurobiologia dos Sonhos: Mecanismos Neurais
A formação reticular do tronco endefálico. Em rosa: Parte da formação reticular do tronco encefálico cuja estimulação induz excitação. Vias sensoriais ascendem da medula espinhal e tronco encefálico para áreas somestésicas do córtex. A formação reticular contém projeções que influenciam o hipotálamo, e, ao nível do tálamo, diverge para distribuir impulsos difusamente através de todas as áreas do córtex. A formação reticular, recebendo impulsos sensoriais visuais, auditivos táteis, olfativos - suficientes do ambiente, estimula o córtex cerebral com impulsos ativadores que são necessários para alertá-lo. Lesão da formação reticular pode induzir ao estado de sono. (Modificado de Levingston, 1967). Nos animais superiores e no homem, a alternância dos estados de vigília e sono se dá em virtude da existência de estruturas nervosas especiais.
Rem sleep, o "sono dos sonhos", é completamente diferente do sono não-REM. O córtex neste estado é tão ativo quanto no estado de alerta. O córtex não é necessário para a produção de REM, mas certamente é requerido para a elaboração dos sonhos.
A atividade cerebral durante o sono REM começa na ponte, uma estrutura no tronco encefálico e regiões mesencefálicas circundantes. A ponte envia sinais aotálamo e ao córtex cerebral, o qual é responsável pela maioria dos processos do pensamento. Ela também envia sinais à medula espinhal para "desligar" neurônios motores ali localizados, causando uma paralisia temporária que previne o movimento.
Alguns pesquisadores usaram tomografia por emissão de pósitrons (PET) para estudar o estado cerebral associado com sono REM em humanos (Maquet et al, 1996 - da Internet). Os resultados mostram que o fluxo sanguíneo localizado está correlacionado com o sono REM nas seguintes estruturas:
tegmento pontino (fibras nervosas que são contínuas com a formação reticular da medula e mesencéfalo)
- tálamo esquerdo (uma grande massa ovóide localizada no diencéfalo)
- complexo amigdalóide (massa cinzenta situada na porção medial do lobo temporal)
- córtex cingulado anterior (massa cinzenta localizada na margem medial do hemisfério cerebral)
Dado o papel do complexo amigdalóide na aquisição de memórias influenciadas emocionalmente, o padrão de atividade na amígdala e áreas corticais fornece uma base biológica para o processamento de alguns tipos de memória durante o sono REM.
Mecanismos Bioquímicos do Sono REM
Cientistas encontraram que a fase REM é estreitamente relacionada à atividade de certos grupos de células nervosas liberando substâncias químicas cerebrais que permitem a comunicação de um neurônio com outro. Pesquisas sobre estes grupos de células especializadas está ajudando cientistas a desenvolver tratamentos específicos com drogas para distúrbios do sono.
O cérebro tem várias coleções de neurônios, cada um usando um neurotransmissor particular e fazendo conexões difusas. Estas células executam funções regulatórias influenciando um grande número de neurônios pós-sinápticos na medula espinhal, tálamo, córtex cerebral, e assim por diante, tal que eles podem se tornar mais ou menos excitáveis.
Diferentes sistemas (tais como noradrenérgico, serotonérgico and colinérgico) parecem ser essenciais para o estado metabólico, motivação, controle motor, memória, etc.
Em seu artigo, Hobson (bear, 1996) escreveu que a mais surpreendente observação que ele e seus colaboradores fizeram, foi que o locus coeruleus noradrenérgico e os neurônios da rafe serotonérgicos "desligam" no sono REM. Este achado foi uma surpresa porque sempre se pensou o contrário. Para ele, estava claro que estes dois sistemas aminérgicos sustentavam o alerta e não o sono, como tinha sido teorizado. O sono REM poderia ser desencadeado por estimulação colinérgica da formação reticular.
*Atividade diferencial de subsistemas neuroquímicos do tronco encefálico no estado de alerta e no sono REM. As taxas de disparo dos dois grandes sistemas na parte superior do tronco encefálico, o locus ceruleus e o núcleo da rafe, "desligam" o sono REM, isto é, diminuem para quase nada durante o sono REM. Entretanto, existe um aumento de disparos de neurônios contendo acetilcolina na ponte, e algumas evidências sugerem que os neurônios colinérgicos induzem sono REM. É provavelmente a ação da acetilcolina durante o sono REM que promova uma ação do tálamo e do córtex muito similar àquela durante o estado de alerta (Bear44). Períodos REM são terminados quando a noradrenalina e a acetilcolina começam a disparar novamente.
Entendendo os Sonhos
Por Dra. Silvia Helena Cardoso
Psicobióloga, com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. É professora convidada e pesquisadora associada do NIB/UNICAMP , editora-chefe e idealizadora da Revista "Cérebro e Mente".
Psicobióloga, com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. É professora convidada e pesquisadora associada do NIB/UNICAMP , editora-chefe e idealizadora da Revista "Cérebro e Mente".
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
O Coração
Há momentos em que tudo o que a gente precisa é dar colo para o próprio coração. Aconchegá-lo no nosso olhar de escuta. Deixar que perceba que naquele instante todas as outras coisas podem nos esperar um pouco; ele, não. Ele é o nosso rei e o nosso reino. O papel para desenho e a caixa de lápis de cor. A música e a orquestra. Nossa bússola e nosso mar. A flor, o pólen, a borboleta, ao mesmo tempo. A colméia e o mel. O centro onde tudo principia e para o qual tudo converge. Ele não pode esperar.
O coração da gente gosta de atenção. De cuidados cotidianos. De mimos repentinos. De ser alimentado com iguarias finas, como a beleza, o riso, o afeto. Gosta quando espalhamos os seus brinquedos no chão e sentamos com ele para brincar. E há momentos em que tudo o que ele precisa é que preparemos banhos de imersão na quietude para lavarmos, uma a uma, as partes que lhe doem. É que o levemos para revisitar, na memória, instantes ensolarados de amor capazes de ajudá-lo a mudar a frequência do sentimento. Há momentos em que tudo o que precisa é que reservemos algum tempo a sós com ele para desapertá-lo com toda delicadeza possível. Coração precisa de espaço.
Conte algo que alimenta o seu coração.
Por Ana Jácomo
Fonte:
domingo, 21 de agosto de 2011
A importância do Silêncio
Um dos nossos verdadeiros presentes numa vida corrida é um longo período de silêncio, um momento em que intencionalmente voltamos nossa atenção para longe da pressa das conversas e compromissos, imagens e mensagens, listas e obrigações, e silenciosamente nos sintonizamos com um espaço interior.
Para alguns de nós, o silêncio imposto foi uma punição em nosso passado; por exemplo, um pai pode ter dito: "Cale-se e vá para o seu quarto". O silêncio do qual tratamos aqui é uma escolha.
Esse silêncio é uma oportunidade para a descoberta, para encontrarmos coisas novas e diferentes. A ausência de fala é bastante diferente quando escolhemos não falar.
Silêncio não é falta de comunicação. Há uma linguagem sutil que nos conecta com os outros através dos olhos, com um sorriso, ou um gesto.
A fluência nessa linguagem sutil demanda nossa habilidade de observar os pequenos detalhes da vida.
Quando desenvolvemos nossa habilidade com essa linguagem sutil, descobrimos que somos menos dependentes dos instrumentos mecânicos que podem nos conectar, mas isso também pode fazer com que nos sintamos mais separados.
Ao entrarmos num espaço interno de silêncio, estamos nos sintonizando com o espírito da natureza e abandonando a tendência de sermos críticos.
O silêncio oferece a oportunidade para que eu identifique em mim mesmo as qualidades que possuem a capacidade de me transformar.
No silêncio, posso me conectar com a qualidade mais elevada do meu pensamento mais leve, mais claro.
A ação nasce das sementes do pensamento. As ações são os frutos dessas sementes.
O que será que existe no solo onde escolho plantar as sementes dos meus pensamentos? Violência ou paz? Raiva ou amor?
Essas escolhas são transformadoras.
O estado de consciência que atinjo no silêncio se conecta diretamente com a qualidade do meu entendimento.
Entender "no som" é um processo cognitivo, enquanto que entender "no silêncio" é mais sutil, resultando nas realizações que surgem de dentro.
Essas são experiências muito diferentes.
No silêncio, descubro minhas qualidades inatas, as qualidades que são intrínsecas de quem sou.
Aqui no silêncio posso tocar em meu eu eterno e passo a confiar nessa essência mais profunda.
A experiência do reconhecimento de minhas qualidades intrínsecas e singulares aumenta meu poder de receber.
No silêncio, toco em minha força interna e sinto confiança, fé, segurança, beleza, dignidade.
É a partir dessa base de força interna que minhas ações evoluem.
No silêncio, posso escutar o chamado de Deus, o chamado da natureza, o chamado daqueles que precisam.
O silêncio é um espaço interno de aprendizagem. Quando não entendo algo, continuo a me prender a isso.
Quando a aprendizagem acontece, posso me liberar e seguir adiante.
No silêncio, descubro a verdade ao me conectar com meu eu verdadeiro.
O silêncio aumenta minha capacidade de manter a fé internamente.
O silêncio é uma oportunidade de descansar no colo de minha própria grandeza.
Lembre-se de cuidar de si com a atenção especial que você daria a qualquer grande alma.
O silêncio é uma disciplina, não do fazer, mas do ser.
Usem esses pensamentos sobre o silêncio como uma bandeja de petiscos de entrada, pegando o que quiserem para sustentá-los ao entrarem num espaço de silêncio interior.
Texto de Mohini Panjabi
Brahma Kumaris
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sexta-feira, 24 de junho de 2011
Meditação Atenciosa
Descubra sua sabedoria interior... ou apenas descanse...
Trata-se de uma técnica simples de desencadear um estado de relaxamento profundo de corpo e mente.
À medida que a mente se aquieta e permanece desperta você vai se beneficiar de um estado de consciência mais profundo e tranquilo.
1. Antes de começar, encontre um local silencioso em que não vá ser perturbado.
2. Sente-se e feche os olhos.
3. Concentre-se na respiração, mas inspire e expire normalmente. Não tente controlar ou alterar a respiração deliberadamente. Apenas observe.
Ao observar a respiração, vai ver que ela muda. Haverá variações na velocidade, no ritmo e na profundidade, e pode ser que ela pare por um momento. Não tente provocar nenhuma alteração. Novamente, apenas observe.
Pode ser que você se desconcentre de vez em quando, pensando em outras coisas ou prestando atenção aos ruídos externos. Se isso acontecer, desvie a atenção para a respiração.
Se durante a meditação você perceber que está se concentrando em algum sentimento ou expectativa, simplesmente volte a prestar atenção na respiração.
Pratique esta técnica durante quinze minutos.
Ao final, mantenha os olhos fechados e permaneça relaxado por dois ou três minutos.
Saia do estado de meditação gradualmente, abra os olhos e assuma sua rotina.
Sugiro a prática da meditação atenciosa duas vezes ao dia, de manhã e no final da tarde. Se estiver irritado ou agitado, pode praticá-la por alguns minutos no meio do dia para recuperar o eixo.
Na prática da meditação você vai por uma de três experiências.
Mas deve resistir à tentação de avaliar a experiência ou sua capacidade de seguir as instruções, porque as três reações são "corretas":
Você pode se sentir entediado ou inquieto, e a mente vai se encher de pensamentos. Isso significa que emoções profundas estão sendo liberadas. Se relaxar e continuar a meditar, vai eliminar essas influências do corpo e da mente.
Você pode cair no sono. Se isso acontecer durante a meditação, é sinal de que você anda precisando de mais horas de descanso.
Você pode entrar no intervalo dos pensamentos... além do som e da respiração.
Se descansar o suficiente, mantiver a boa saúde e devotar-se todos os dias à meditação, você vai conseguir um contato significativo com o self.
Vai poder se comunicar com a mente cósmica, a voz que fala sem palavras e que está sempre presente nos intervalos entre um pensamento e outro.
Essa é a sua inteligência superior ilimitada, seu gênio supremo e verdadeiro, que, por sua vez, reflete a sabedoria do universo. Tudo estará a seu alcance se confiar na sabedoria interior.
Fonte:
Deepak Chopra
Livro Saúde Perfeita
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Sementes de Paz
Tal como são nossos pensamentos é nossa consciência: e tal como é nossa consciência, é nossa vida.
Se plantarmos uma semente de pensamento limpo e positivo e nos concentrarmos nele, damos a ele energia, tal como o sol dá energia para uma semente na terra.
E tal como a semente na terra acorda, move-se e começa a crescer, os pensamentos nos quais nos concentramos acordam, movem-se e começam a crescer. Então, vamos semear pensamentos positivos.
A cada manhã, antes de começarmos a jornada de nosso dia, sentemo-nos em silêncio e semeemos a semente da paz.
Paz é harmonia e equilíbrio.
Paz é liberdade - liberdade do peso da negatividade e do desperdício.
Deixemos que a paz encontre sua morada dentro de nós.
A paz é a nossa força original, nossa eterna tranquilidade de ser.
Permita que seu primeiro pensamento do dia seja de paz.
Plante essa semente.
Regue-a com atenção e você atingirá a calma.
Antony Strano
Descobrindo a espiritualidade
Revista Confluência - março/2001
Fonte:
pensa positivo
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Curar-se
Parar, Acalmar-se, Descansar e Curar-se
A meditação budista tem dois aspectos - shamatha e vipashyana. Existe uma tendência a enfatizar a importância da vipashyana ("olhar em profundidade"), uma vez que ela tem o potencial de nos proporcionar "insight" e nos libertar do sofrimento e das aflições. Mas a prática da shamatha ("cessação") é fundamental. Se não conseguirmos parar, o "insight" não chegará a nós.
Existe uma história zen sobre um homem e um cavalo. O cavalo está galopando rapidamente, e parece que o homem que cavalga se dirige a algum lugar importante. Outro homem, em pé ao lado da estrada, grita: "Aonde você está indo?" e o homem a cavalo responde: "Não sei. Pergunte ao cavalo!" Esta é a nossa história. Estamos todos sobre um cavalo, não sabemos aonde vamos e não conseguimos parar. O cavalo é a força de nossos hábitos que nos puxa, e somos impotentes diante dela. Estamos sempre correndo, e isso já se tornou um hábito. Estamos acostumados a lutar o tempo todo, até mesmo durante o sono. Estamos em guerra com nós mesmos, e é fácil declarar guerra aos outros também.
Precisamos aprender a arte de fazer cessar - parar nosso pensamento, a força de nossos hábitos, nossa desatenção, bem como as emoções intensas que nos regem. Quando uma emoção nos assola, ela se assemelha a uma tempestade, que leva consigo a nossa paz. Nós ligamos a TV e depois a desligamos, pegamos um livro e depois o deixamos de lado. O que podemos fazer para interromper este estado de agitação? Como podemos fazer cessar o medo, o desespero, a raiva e os desejos?
É simples. Podemos fazer isso através da prática da respiração consciente, do caminhar consciente, do sorriso consciente e da contemplação profunda - para sermos capazes de compreender. Quando prestamos atenção e entramos em contato com o momento presente, os frutos que colhemos são a compreensão, a aceitação, o amor e o desejo de aliviar o sofrimento e fazer brotar a alegria.
Mas a força do hábito costuma ser mais forte do que nossa vontade. Dizemos e fazemos coisas que não queremos e depois nos arrependemos. Causamos sofrimento a nós mesmos e aos outros, e de forma geral produzimos grande quantidade de destruição. Podemos ter a firme intenção de nunca mais fazer isso, mas sempre acabamos fazendo de novo. Por quê? Porque a força do hábito acaba vencendo e nos levando de roldão.
Precisamos da energia da atenção plena para perceber quando o hábito nos arrasta, e fazer cessar esse comportamento destrutivo. Com atenção plena, temos a capacidade de reconhecer a força do hábito a cada vez que ela se manifesta. "Alô força do hábito, sei que você está aí!" Nessa altura, se conseguirmos simplesmente sorrir, o hábito perderá grande parte de sua força. A atenção plena é a energia que nos permite reconhecer a força do hábito e impedi-la de nos dominar.
Por outro lado, o esquecimento ou negligência é o oposto. Tomamos uma xícara de chá sem sequer perceber o que estamos fazendo. Sentamo-nos com a pessoa que amamos, mas não percebemos que a pessoa está ali. Andamos sem realmente estar andando.
Estamos sempre em outro lugar, pensando no passado ou no futuro. O cavalo dos nossos hábitos nos conduz, e somos prisioneiros dele. Precisamos deter este cavalo e resgatar nossa liberdade. Precisamos irradiar a luz da atenção plena em tudo o que fizermos, para que a escuridão do esquecimento desapareça. A primeira função da meditação - shamatha - é fazer parar.
A segunda função da shamatha é acalmar. Quando sofremos uma emoção forte, sabemos que talvez seja perigoso agir sob sua influência, mas não temos força nem clareza suficientes para nos abstermos. Precisamos aprender a arte de respirar, de inspirar e expirar, parando tudo o que estamos fazendo e acalmando nossas emoções. Precisamos aprender a nos tornar mais estáveis e firmes, como se fossemos um carvalho, e não nos deixar arrastar pela tempestade de um lado para outro.
O Buda ensinou uma variedade de técnicas para nos ajudar a acalmar corpo e mente, e considerar a situação presente em toda a sua profundidade. Essas técnicas podem ser resumidas em cinco estágios:
(1) Reconhecimento - se estamos zangados, dizemos "reconheço que a raiva está dentro de mim".
(2) Aceitação - quando estamos zangados, não negamos a raiva. Aceitamos aquilo que está presente em nós.
(3) Acolher - abraçamos a raiva como faz uma mãe com o filho que chora. Nossa atenção plena acolhe a emoção, e só isso já é capaz de acalmar a raiva e a nós mesmos.
(4) Olhar em profundidade - quando nos acalmamos o suficiente, conseguimos observar profundamente para entender o que provocou a raiva, ou seja, o que está fazendo o bebê chorar.
(5) Insight - o fruto do olhar profundo é a compreensão das causas e condições, tanto primárias quanto secundárias, que provocaram a raiva e fizeram nosso bebê chorar. Talvez ele esteja com fome. Talvez o alfinete da fralda o esteja machucando. Talvez nossa raiva tenha surgido quando um amigo nos falou em um tom ofensivo, mas de repente nos lembramos de que essa pessoa não está bem hoje porque seu pai está muito doente. Continuamos a refletir dessa forma até compreendermos a causa de nosso atual sofrimento. A compreensão nos dirá o que fazer ou não fazer para mudar a situação.
Depois de nos acalmarmos, a terceira função da shamatha é o repouso. Suponha que alguém nas margens de um rio joga uma pedra para o ar e a pedra cai no rio. A pedra afunda lentamente e chega ao fundo do rio sem esforço algum. Depois que a pedra chega ao fundo do rio, ela descansa, deixando que a água passe por ela. Quando sentamos para meditar podemos nos permitir repousar da mesma forma que essa pedra. Podemos nos deixar afundar naturalmente, na posição sentada - repousando, sem fazer esforço. Temos que aprender a arte de repousar, permitindo que nosso corpo e nossa mente descansem. Se tivermos feridas em nosso corpo e em nossa mente precisamos repousar para que elas possam por si só se curar.
O ato de se acalmar produz o repouso, e o descanso é um pré-requisito para a cura. Quando os animais selvagens estão feridos, eles procuram um lugar escondido para deitar, e descansam completamente por muitos dias. Não pensam em comida nem em mais nada. Apenas descansam, e com isso obtêm a cura de que precisam. Quando nós seres humanos ficamos doentes, nos preocupamos o tempo todo. Procuramos médicos e remédios, mas não paramos. Mesmo quando vamos para a praia ou para as montanhas com a intenção de descansar, não chegamos realmente a repousar, e voltamos mais cansados do que partimos. Temos que aprender a repousar.
A posição deitada não é a única posição de descanso que existe. Podemos descansar muito bem durante meditações sentados ou caminhando. A meditação não deve ser um trabalho árduo. Simplesmente permita que seu corpo e sua mente descansem, como o animal no mato. Não lute. Não há necessidade de fazer nada nem realizar nada. Eu estou escrevendo um livro, mas não estou lutando. Estou descansando. Por favor, leiam este livro de uma forma alegre e relaxante. O Buda disse: "Meu Darma é a prática do não-fazer." Pratiquem de uma forma que não seja cansativa, mas que seja capaz de proporcionar descanso ao corpo, às emoções e à consciência. Nosso corpo e mente sabem curar a si mesmos se lhes dermos uma oportunidade para isso.
Parar, acalmar-se e descansar são pré-requisitos para a cura. Se não conseguirmos parar, nosso ritmo de destruição simplesmente vai prosseguir. O mundo precisa imensamente de cura. Os indivíduos, comunidades e países estão cada vez mais necessitados de cura.
Do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda”
Thich Nhat Hanh
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