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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Diário Secreto de um Discípulo





Vicente Beltrán Anglada (Barcelona, 1915 - 1988) fue escritor y conferenciante de temas esotéricos. Impartió más de 400 conferencias entre los años 1974 y 1988, especialmente entre España y Argentina. Ha escrito más de una docena de libros publicados en español, inglés, portugués, francés e italiano. A través de sus libros ilustró de manera mística temas como la Fraternidad Blanca, Shambala, las fuerzas de la naturaleza, el profundo concepto de ser un iniciado espiritual y desarrolló el tema del Yoga del Corazón o Agni Yoga. Vicente Beltrán Anglada es, para muchos, un autor que hace fácil el entendimiento de conceptos ampliamente discutidos por la Sociedad Teosófica y la Escuela Arcana.


Después de un periodo de silencio, impuesto expresamente por Vicente Beltrán Anglada, hemos tenido acceso a su libro póstumo DIARIO SECRETO DE UN DISCÍPULO. En él se narran algunas de sus experiencias ashramicas, que ha creído oportuno compartir con todos los aspirantes y discípulos encarnados actualmente.


Depois de um período de silêncio, expressamente imposta por Vicente Beltran Anglada, tivemos acesso ao seu livro póstumo Diário Secreto de um Discípulo. Ele narra algumas de suas experiências ashramica, achou por bem compartilhar com todos os aspirantes e discípulos atualmente encarnados.



Download em Espanhol, Francês e Português



Fonte:

Asociación Vicente Beltrán Anglada




sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O universo vivo em você





"Acredito que todos os ensinamentos filosóficos sobre a vida são processos, maneiras de compreender num dado momento um determinado evento e provocar um novo olhar para a realidade. Este novo olhar lança uma mudança, um novo processo que se opera na rede de inter-relações entre você e o mundo. Mas estes ensinamentos não podem ser tomados como verdades absolutas. O erro a que caímos quase sempre é rotularmos este ou aquele ensinamento como uma “verdade”, e assim, perdemos o que mais de amplo e vasto o ensinamento está indicando. Quero dizer que todos os ensinamentos de todos os sábios da humanidade, tais como Sócrates, Platão, Jesus, Buda, Gandhi, São Francisco de Assis, Meister Eckart, Krishnamurti, Sartre, Niestzche, Osho, e muitos, muitos outros, são como dedos apontados para a lua. Você precisa olhar para aquilo que o ensinamento indica e provoca (a lua), e não o ensinamento em si (o dedo). Porque o ensinamento em si é vazio, é um retalho de palavras que entram no cérebro e fazem ou não um certo sentido, dependendo da percepção de cada um. Exemplo: não adianta tentarmos compreender alguém explicar em quinze minutos a teoria da relatividade de Einstein se não temos prévias informações que nos possibilitem o entendimento. Quando o nível de compreensão de algo é mais abstrato, precisamos de um pouco de estudo, um pouco de pré-interesse, caso contrário, com certeza, o dito não nos dirá nada, e nossa reação será hostil.

Os ensinamentos dos sábios são como placas de sinalização. Se você quer ir para São Paulo, você seguirá placas indicativas. Você não pega a placa para si mesmo e imagina que está em São Paulo. Você usa a placa como um meio. Buda dizia que seus ensinamentos eram como um barco que você atravessa até a outra margem. Mas você não leva o barco nas costas depois que atravessa. Buda dizia que os ensinamentos espirituais, se compreendidos, tem uma existência temporária, porque servem para algo, servem para indicar algo, algo além deles mesmos, mas jamais eles mesmos. O erro nosso é sempre imaginar que um pensamento possa conter uma verdade. Verdades são mutáveis num universo sempre transitório. A ciência bem sabe disso, e tem mudado bastante muitos conceitos nas últimas décadas. A física quântica tem revolucionado o mundo subatômico. A micro-biologia tem notáveis estudos que podem beneficiar a humanidade futura no combate a muitos males, antes considerados insolúveis. A espiritualidade está trazendo novos contextos para a vida do homem, hoje não só restrita ao contexto religioso tradicional, mas amplamente divulgada como algo livre, patrimônio do próprio homem, sede da beleza, da bondade, e da compaixão humanas. Religiosidade nada tem a ver com dogmas, mas com amor, com o saber lúcido da poesia da vida. Religiosidade é um bem natural, e jamais pode ser algo imposto de fora para dentro, mas um desejo espontâneo da alma por liberdade, justiça, e paz.

Estes ensinamentos apontam para algo que nada tem a ver com o pensamento. Em verdade, espiritualidade é uma busca do espaço anterior ao pensamento. Uma reconciliação do homem com a natureza, da qual ele sempre fez parte, mas que se divorciou em pensamento e em teorias dogmáticas. O corpo é natureza, e tem sua sabedoria própria. O universo respira por seu corpo, purifica seu sangue, faz você lembrar que precisa comer, dormir, amar... Os ensinamentos são válidos quando despertam amor, quando amadurecem as relações, quando abrem-nos para um silêncio que só os mais íntimos de suas almas conhecem... Os ensinamentos apontam para o seu sempre eterno refúgio: Você mesmo! Ali, você não tem palavras, nem argumentos, nem idéias. Está nu, diante da vida, da natureza. Ali, você é puramente humano. Nem santo, nem pecador. Simplesmente você mesmo. Sem definições nem conclusões."

Swami Sambodh Naseeb

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Kabir


" There's a moon in my body...
There's a moon in my body, but I can't see it!
A moon and a sun.
A drum never touched by hands, beating, and I can't hear it! "

Kabir


Kabir (ou Kabira) (hindi: कबीर, urdu: کبير‎) (1440—1518) foi um dos grandes poetas místicos ou santos-poetas da Índia medieval, tendo composto poemas que evidenciam a fusão entre o movimento de bhakti hindu e o sufismo muçulmano, movimentos religiosos que exercem profunda influência cultural em todo o mundo até os nossos dias.

Kabir nasceu numa família de brâmanes hindus e foi mais tarde adotado por muçulmanos, no norte da índia, perto de Varanasi. Ainda jovem tornou-se discípulo Ramananda, que no norte da India difundia a doutrina de bhakti como promulgada por Ramanuja no sul do sub-continente, no século XII.

Kabir foi contemporâneo de outros protagonistas famosos do movimento de bhakti da Índia medieval, tais como Mirabai, Caitanya, Tulsidas e Guru Nanak, o principal preceptor dos sikhs.

Sua Doutrina

Kabir ficou famoso por desdenhar profundamente qualquer tipo de designação ou filiação religiosa, e sua filosofia e ideais de relacionamento amoroso com Deus eram expressos de maneira metafórica, conforme tanto a corrente vedantista do hinduísmo (advaita) quanto a corrente de bhakti, empregando o hindi, na forma vernacular.

Kabir expunha seus princípios religiosos de forma bastante simples, onde a vida nada mais é do que uma interrrelação entre Deus (paramatma) e a alma individual (jivatma), visando a união e harmonia. Ele considerava útil para a conclusão desta união a observância de alguns princípios religiosos, alguns tipicamente hindus como o conceito de um Absoluto, a reencarnação e as leis do karma, outros tipicamente sufis como o ascetismo e misticismo, tendo influenciado não somente os hindus e muçulmanos da sua época, como também enormemente os sikhs, a ponto de Kabir ser considerado um dos gurus do principal preceptor dos sikhs, Guru Nanak.

Mas na verdade, em sua obra mais eminente, o Bijak (a Semeadura), ele rejeitava tanto os Vedas quanto o Corão, e advogava a simplicidade do caminho sahaja (o caminho natural; lit “da sua própria maneira”) que a alma individual acaba se unindo ao Absoluto. Sua grande obra filosófica é considerada a quintessência do ecletismo religioso e pode ser resumida com a sua expressão mais famosa: “Koi bole Ram Ram Koi Khudai..”, "quer alguém cante Rama (nome hindu de Deus) ou Khuda (nome árabe de Deus) ... o objetivo é sempre o mesmo, pois Deus é um só."

Existe uma história popular a respeito de sua morte, que é ensinada como evento histórico em muitas escolas indianas, dizendo que tanto hindus quanto muçulmanos brigavam pelos seus restos mortais, os hindus desejando cremá-los conforme a sua tradição e os muçulmanos querendo enterrá-los, seguindo os seus costumes. Quando abriram o caixão para disputar o corpo, lá encontraram um livreto sobre sua filosofia desdenhando tanto as crenças hindus quanto as muçulmanas e um buquê de suas flores favoritas! O corpo do santo havia desaparecido e nunca jamais foi encontrado.

Fonte:
Wikipédia

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Corpus Christi (Antroposofia)


A Festa de Corpus Christi foi instituída pela Igreja no século XIII, época em que as tradições místicas cristãs estão sendo confrontadas pelo racionalismo dos filósofos árabes, então retomando a filosofia de Aristóteles que tinha sido banida da Europa medieval mística cristã.

O cristianismo está ameaçado, os escolásticos e particularmente, Tomás de Aquino, realizam todo um trabalho filosófico de conciliação da filosofia pagã de Aristóteles com o cristianismo, razão pela qual Tomás é muito criticado pelos seus colegas monges. Tomás realiza este trabalho com muita eficácia mas a aceitação pela Igreja de sua filosofia não é imediata, ele está sempre envolvido em discussões, debates e controvérsias.

Uma das questões colocadas para Tomás foi a da Transubstanciação : transformação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo – o sacramento da Eucaristia. Tomás se ocupou muito com isto e escreveu sobre isto.

Na verdade Tomás, além de filósofo escolástico racionalista, era um homem de muita fé, e fez questão de manter como questão de fé, os pontos da mística cristã, que não era capaz de alcançar com a razão proporcionada pelos órgãos dos sentidos naturais.

Isto parece nitidamente, no que é considerado a mais bela obra poética do filósofo Tomás, e é justamente no hino composto para a festa de Corpus Christi, que teve os ritos elaborados por Tomás.

É o famoso “Pange língua”, este canto gregoriano que até hoje se ouve nas igrejas nas festas de Corpus Christi.

“Canta, ó língua, o mistério
Daquele corpo glorioso
E do sangue precioso
Fruto do ventre sagrado
Que o rei das gentes derramou
Para a redenção do mundo.
O Verbo encarnado
Com sua palavra, transforma
Em carne o pão verdadeiro
E o vinho em sangue de Cristo
E não alcançando a idéia o espírito,
Basta a fé para aliviar o sincero coração.
Humildemente veneremos, portanto,
Esse grande sacramento,
E que ceda a antiga liturgia
Seu lugar ao novo rito,
E que a nossa fé redima,
A fraqueza dos nossos sentidos.”

Tomás teve algumas vivências espirituais que não revelou nos últimos anos de sua vida que o fizeram deixar de escrever : “ Não posso, revelaram-se-me tantas coisas que o que escrevi parece agora ser inútil.”

Morreu aos 49 anos, em 1274 e sua filosofia só foi estabelecida como oficial da Igreja em 1879 por Leão XIII e 1921 por Benedito XV.

Mas nesta época é justamente quando temos Rudolf Steiner contestando filosoficamente as barreiras impostas ao conhecimento e demonstrando que aquilo que Tomás deixou como questão de fé pode ser acessado pela Ciência do Espírito.

Assim como Aristóteles e Tomás, Rudolf Steiner se ocupou e escreveu sobre muitos assuntos e especialmente com a Cristologia.

Assim através do resultado da pesquisa espiritual de Rudolf Steiner podemos nos aproximar de forma renovada dos conteúdos das festas cristãs e compreendermos o sentido da forma tradicional em que nas pequenas cidades do interior se organiza a festa de Corpus Christi.

Tapetes coloridos com materiais de terra transformados em obras de arte efêmera – dura um dia. O Santíssimo Sacramento é levado para fora da Igreja e percorre as ruas preparadas para recebê-lo.

Podemos compreender melhor o sentido desta festa no texto de Steiner na XIV conferência do Evangelho de João : “ Estamos apenas no princípio daquela evolução, que é a Evolução Cristã. O futuro desta evolução consiste em vermos o corpo de Cristo em toda a Terra. Porque Cristo entrou desde esse momento na Terra, e criou um novo ponto central de Luz. Ele penetra a Terra, ilumina o mundo e está entretecido para a eternidade na aura terrestre. Por isso, ver hoje a Terra sem o Espírito de Cristo, que lhe está na origem, é ver o apodrecer e decompor da Terra, o corpo em decomposição. Por todo lado onde se veja apenas matéria temos a ver com falsidade.Tomai agora qualquer coisa da Terra. Quando a reconhecereis corretamente ? Quando disserdes : isto é uma parte do Corpo de Cristo.”

Esta época em que nos tornamos conscientes dos mistérios da Terra, é justamente também aquela em que a vida da Terra se mostra tão ameaçada e se nos tornamos conscientes de qual é o Espírito que habita este corpo vivo da Terra, talvez possamos ter uma atitude renovada e cristianizada em mais uma comemoração que foi instituída para a época, o dia 5 de junho, o dia mundial do Meio Ambiente, que se compreendermos corretamente deveria ser o dia da terra como Corpo de Cristo.

Texto de Marilda Milanese

Imagem:
Tapete de Corpus Christi
Foto de Inês Cavalcanti de Mendonça

sexta-feira, 25 de março de 2011

Física Quântica



Há pouco mais de cem anos, o físico Max Planck, considerado conservador, tentando compreender a energia irradiada pelo espectro da radiação térmica, expressa como ondas eletromagnéticas produzidas por qualquer organismo emissor de calor, a uma temperatura x, chegou, depois de muitas experiências e cálculos, à revolucionária ‘constante de Planck’, que subverteu os princípios da física clássica.


Este foi o início da trajetória da Física ou Mecânica Quântica, que estuda os eventos que transcorrem nas camadas atômicas e sub-atômicas, ou seja, entre as moléculas, átomos, elétrons, prótons, pósitrons, e outras partículas. Planck criou uma fórmula que se interpunha justamente entre a Lei de Wien – para baixas frequências – e a Lei de Rayleight – para altas frequências -, ao contrário das experiências tentadas até então por outros estudiosos.


Albert Einsten, criador da Teoria da Relatividade, foi o primeiro a utilizar a expressão "quantum" para a constante de Planck E = hv, em uma pesquisa publicada em março de 1905 sobre as consequências dos fenômenos fotoelétricos, quando desenvolveu o conceito de fóton. Este termo se relaciona a um evento físico muito comum, a quantização – um elétron passa de uma energia mínima para o nível posterior, se for aquecido, mas jamais passará por estágios intermediários, proibidos para ele, neste caso a energia está quantizada, a partícula realizou um salto energético de um valor para outro. Este conceito é fundamental para se compreender a importância da física quântica.


Seus resultados são mais evidentes na esfera macroscópica do que na microscópica, embora os efeitos percebidos no campo mais visível dependam das atitudes quânticas reveladas pelos fenômenos que ocorrem nos níveis abaixo da escala atômica. Esta teoria revolucionou a arena das idéias não só no âmbito das Ciências Exatas, mas também no das discussões filosóficas vigentes no século XX.


No dia-a-dia, mesmo sem termos conhecimento sobre a Física Quântica, temos em nossa esfera de consumo muitos de seus resultados concretos, como o aparelho de cd, o controle remoto, os equipamentos hospitalares de ressonância magnética, até mesmo o famoso computador.


A Física Quântica envolve conceitos como os de partícula – objeto com uma mínima dimensão de massa, que compõe corpos maiores – e onda – a radiação eletromagnética, invisível para nós, não necessita de um ambiente material para se propagar, e sim do espaço vazio. Enquanto as partículas tinham seu movimento analisado pela mecânica de Newton, as radiações das ondas eletromagnéticas eram descritas pelas equações de Maxwell. No início do século XX, porém, algumas pesquisas apresentaram contradições reveladoras, demonstrando que os comportamentos de ambas podem não ser assim tão diferentes uns dos outros. Foram essas idéias que levaram Max Planck à descoberta dos mecanismos da Física Quântica, embora ele não pretendesse se desligar dos conceitos da Física Clássica.


A conexão da Mecânica Quântica com conceitos como a não-localidade e a causalidade, levou esta disciplina a uma ligação mais profunda com conceitos filosóficos, psicológicos e espirituais. Hoje há uma forte tendência em unir os conceitos quânticos às teorias sobre a Consciência.


Físicos como o indiano Amit Goswami se valem dos conceitos da Física moderna para apresentar provas científicas da existência da imortalidade, da reencarnação e da vida após a morte. Professor titular da Universidade de Física de Oregon, Ph.D em física quântica, físico residente no Institute of Noetic Sciences, suas idéias aparecem no filme Quem somos nós? e em obras como A Física da Alma, O Médico Quântico, entre outras. Ele defende a conciliação entre física quântica, espiritualidade, medicina, filosofia e estudos sobre a consciência. Seus livros estão repletos de descrições técnicas, objetivas, científicas, o que tem silenciado seus detratores.


Fritjof Capra, Ph.D., físico e teórico de sistemas, revela a importância do observador na produção dos fenômenos quânticos. Ele não só testemunha os atributos do evento físico, mas também influencia na forma como essas qualidades se manifestarão.

A consciência do sujeito que examina a trajetória de um elétron vai definir como será seu comportamento.

Assim, segundo o autor, a partícula é despojada de seu caráter específico se não for submetida à análise racional do observador, ou seja, tudo se interpenetra e se torna interdependente, mente e matéria, o indivíduo que observa e o objeto sob análise.

Outro renomado físico, prêmio Nobel de Física, Eugen Wingner, atesta igualmente que o papel da consciência no âmbito da teoria quântica é imprescindível.

Por Ana Lucia Santana

Fonte:
infoescola

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Evolução do Ser Humano / Parte III (Antroposofia)




ÉPOCA PÓS-ATLÂNTICA

A Ásia Central, para onde se tinha dirigido o grupo conduzido por Manu, constituiu por muito tempo um centro de irradiação de impulsos espirituais.

A evolução se fez desde essa época em ritmo mais acelerado.

Assistimos a ciclos culturais menores, e a ciência espiritual nos ensina que cada um desses ciclos é naturalmente um fenômeno da humanidade inteira, embora encontrem seus protagonistas principais sempre em determinados povos, que lhe deram seus nomes.

É como se um grupo saísse da penumbra para fazer uma contribuição valiosa para toda a humanidade, sendo substituído por outro, uma vez terminada sua missão.

Nesse sentido, dividimos a época pós-atlântica em vários períodos:

Um primeiro período pós-atlântico teve por cenário principal a Índia daí o seu nome de "Período Proto-índico". O "proto" significa que estamos ainda em épocas anteriores às das civilizações históricas; assim, as grandes culturas históricas da Índia, com suas belas criações no campo da literatura, da religião e da filosofia, situam-se em épocas muito mais recentes; são, todavia, impregnadas pelo espírito da época proto-índica que durou, aproximadamente, de 7.200 a 5.000 A.C.

Os homens dessa época tinham ainda uma mentalidade bem diferente da atual.

Viviam na recordação da origem espiritual da humanidade.

Possuindo ainda uma certa clarividência, os mundos espirituais se lhes afiguravam como a "verdadeira" realidade.

A existência no mundo físico era para eles como que uma expulsão passageira da sua verdadeira pátria espiritual.

Não se sentiam à vontade na Terra, nem se interessavam pela existência terrena almejando, ao contrário, cortar o quanto antes os laços que os uniam à Terra.

O mundo físico era, para eles, ilusão ou Maya.

Encontramos a influência dessa atitude de fuga do mundo visível em toda a civilização hindu posterior, inclusive no bramanismo e no budismo.

Data da época proto-índica o sistema das castas, que era inicialmente uma divisão dos homens de acordo com o grau da sua pureza e evolução espiritual.

Já na segunda época pós-atlântica vemos aparecer um tipo de homem diferente. Essa época, a proto-persa, durou de 5.000 - 2.900 A.C.

Seu guia espiritual era um grande iniciado, Zaratustra (personagem diferente do Zaratustra histórico, contemporâneo de Buda).

Ele é descrito nas lendas como o inventor da domesticação dos animais e do cultivo das plantas, sobretudo dos cereais.

Vemos, por essa lenda, que os homens dessa época se viraram resolutamente para a Terra, vendo nela o alvo de suas tarefas.

Havia naturalmente uma consciência de que existiam mundos espirituais e de que o homem era um ser espiritual.

Não obstante, o amor pela Terra e a vontade de dominá-la constituíam o fundo da mentalidade dos velhos persas.

Zaratustra sabia que o velho Sol, sede dos Exusiai, era o centro espiritual do nosso mundo.

Vislumbrava no grande Espírito Solar (Ahura Mazdao-Ormuzd = Grande Aura do Sol) o ser divino que representava, por assim dizer, todas as forças do Bem. Mas conhecia também a existência das forças adversas sob a conduta de Árimã, deus das Trevas.

O Universo se lhe afigurava como campo de batalha entre essas duas forças adversas, ambas de igual realidade. Temos aí a origem de todas as religiões e correntes "dualistas", em particular do maniqueísmo e também dos cultos caracterizados pela adoração do Fogo ou do Sol.

O centro dessa época era a região iraniana.

Com a terceira época pós-atlântica entramos na História propriamente dita. Conhecemos a civilização dessa época, a egipto-babilônico-caldaica (2-900 - 750 A.C.) pelas ciências históricas comuns e sabemos que, nelas, o homem adquiriu definitivamente o sentimento de que esta Terra era o seu campo de ação.

Havia ainda alguma clarividência, mas o interesse dos homens se concentrava na Terra. As grandes teocracias eram sistemas terrenos, embora o rei-sacerdote ainda fosse considerado como sendo de origem divina e recebendo as suas inspirações "de cima".

Mas, de um modo geral, o homem se comprazia na Terra e fazia tudo para ser feliz nesta vida, organizando-a de maneira prática. Assistimos ao surgimento da geometria e de outras ciências, embora ainda não sob forma abstrata. Invenções técnicas, como a da roda, e dos aparelhos mais simples, a arte da irrigação, a elaboração de princípios de direito e administração, caracterizam essa época.

Mas quando os homens queriam conhecer as forças motrizes do nosso planeta, voltavam-se para os espíritos localizados nos astros.

Em estados excepcionais de clarividência, sentiam a influência desses espíritos, de acordo com a posição e a ação combinada das estrelas.

Dessa astrologia nasceu a primeira astronomia, o conhecimento das trajetórias aparentes dos astros, dos eclipses e dos demais fenômenos celestes.

Ainda não era uma ciência matemática e mecânica, onde os movimentos eram determinados pela lei da gravitação, mas sim uma sabedoria captada diretamente pelo conhecimento das forças espirituais dos astros!

Apesar do seu afastamento progressivo dos seres superiores, os homens dessa época sabiam muito bem quais as hierarquias superiores mais diretamente ligadas ao destino do homem.

O supremo Deus Solar reaparece como Osíris e Tamuz, enquanto o conjunto das forças lunares era sentido como que personificado em Isis ou Ishtar. As forças adversas eram representadas por demônios ou deuses como Seth.

Contudo, muitos seres humanos não se podiam elevar à sabedoria suprema; inspirados por divindades inferiores ou anormais (seres luciféricos e arimânicos) dedicavam-se a uma sabedoria degenerada, origem de superstições e cultos selvagens.

Devemos ainda assinalar um fato importante. Na evolução anterior, o eu tinha "ocupado" os três corpos inferiores, e desse lento entrosamento tinham nascido as várias formas de consciência, que se manifestaram exteriormente pelos progressos do ser humano através das várias civilizações.

Sua atitude perante o mundo marca o aparecimento de um novo elemento nessa terceira época pós-atlântica.

Pela primeira vez o homem integrou-se totalmente no mundo físico pelo conjunto dos seus sentidos.

Estes transmitiram-lhe, de maneira direta, o conhecimento do ambiente.

É verdade que o pensamento do ser humano ainda não era conceitual e abstrato, mas apesar disso, o seu eu, em conjunto com os seus sentidos, permitiu-lhe situar-se conscientemente no mundo.

Para isso era imprescindível um novo "órgão", um novo elemento da sua personalidade, e nós vemos de fato desenvolver-se nessa época a "alma da sensação" ou "alma sensível". Esta já existia antes; do contrário o homem não poderia ter tido sentimentos, em consequência das impressões sensoriais, mas só nesta altura ela foi "ocupada" e dominada pelo eu, e participou, de maneira relevante, de sua vida consciente.

A quarta época pós-atlântica, a greco-romana, estende-se aproximadamente de 750 A.C. até 1413 D.C. À primeira vista, pode parecer estranho que toda a Idade Média seja unida à chamada "Antiguidade Clássica", num mesmo período. De fato, essas culturas são bem distintas entre si, mas acharemos a solução ao lembrar que as épocas pós-atlânticas da Antroposofia não são divisões históricas, mas sim períodos dominados por uma identidade de evolução espiritual. Todo esse período é caracterizado pela preponderância do intelecto, do raciocínio, da faculdade de pensar Em termos antroposóficos: o eu "vive" agora na alma do intelecto.

Os celtas e germanos, contemporâneos da civilização greco-romana, não eram, nesse sentido, intelectuais. Apresentavam um outro aspecto, desconhecido até então: a sua mentalidade e suas manifestações eram imbuídas de uma vida emocional harmoniosa, decorrente de um mundo anímico interior rico e equilibrado. Esse aspecto também é uma característica dessa segunda parcela de alma, fazendo jus à sua denominação de "alma do intelecto" ou "alma do sentimento".

A presença dessa alma do intelecto ou alma do sentimento manifesta-se quase que abruptamente em todas as civilizações da época. Não somente na Grécia e em Roma, mas no mundo inteiro, vemos aparecerem pela primeira vez as religiões sistemáticas, a filosofia, a ciência racional etc. Basta lembrarmos Confúcio e Lao-tsé na China, Buda e os Vedanta, na Índia, os grandes profetas do Judaísmo, o Zaratustra histórico na Pérsia, todos contemporâneos dos primeiros pensadores gregos e da eclosão da civilização helênica.

Jubilante, o ser humano conquista o mundo, pelo pensamento, pela ciência, pela organização, pelas artes. Pela primeira vez temos cosmovisões homogêneas e racionais. Platão e Aristóteles criaram a base do raciocínio, das formas políticas, dos métodos científicos e do direito. Seria bom meditar sobre o quanto a nossa vida material e mental repousa em conquistas dos gregos e romanos.

Vemos, pois, o ser humano da Antiguidade lançar-se à conquista deste mundo, deixando atrás de si o conhecimento dos mundos superiores. Os laços com o supra-sensível tornam-se cada vez mais fracos. Podemos até dizer que filosofia e ciência nasceram justamente porque não havia mais suficiente conhecimento da realidade espiritual para que os fenômenos terrenos fizessem sentido.

Mas esses laços, embora completamente esquecidos na vida social comum, não deixavam de ser cultivados em centros isolados, onde alguns homens preparados continuavam mantendo a velha tradição esotérica: eram os chamados "Mistérios", onde os adeptos tinham que passar por uma iniciação que lhes restituísse a comunhão com os mundos superiores. Encontramos em todas as partes do mundo vestígios desses lugares, onde a tradição esotérica era mantida em segredo, longe da sabedoria comum.

Toda essa evolução impetuosa da humanidade era o fruto do impulso provocado pelas forças luciféricas e arimânicas. Foi simbolizado mais tarde pela expressão "expulsão do Paraíso". As influências combinadas dessas entidades e das hierarquias superiores "normais" deram origem à eclosão do homem na plenitude da sua genialidade e à riqueza da sua vida espiritual.

Mas se, nessa altura, a imagem do homem civilizado era ainda brilhante e admirável, o seu lado espiritual estava cheio de presságios sombrios! Com efeito, o ímpeto triunfal das forças luciféricas e arimânicas era tal que, em pouco tempo, a sua atuação teria tido consequências funestas para a vida dos mundos espirituais. Estes se teriam retirado do homem, abandonando-o ao triunfo das forças que iriam dominá-lo definitivamente, empurrando-o num caminho errado, onde o seu eu se tornaria uma caricatura daquilo que deveria ser.

Essa evolução, esse perigo tremendo, eram previstos pelos iniciados, Em Osiris, assassinado por Seth, em Dionísio, despedaçado pelas Mênadas, no "Crepúsculo dos Deuses" dos germanos, na luta entre Ormuzd e Árimã e no Hades lúgubre de Homero, mundo "espiritual" reservado aos mortos, temos imagens desse receio.

Abandonado às influências de Lúcifer e Árimã, o homem não tinha forças suficientes para resistir-lhes. Por isso os mundos espirituais resolveram proporcionar-lhe a ajuda por meio de um ato cósmico de suprema importância.

Sem influir de maneira alguma em sua liberdade e em seu livre arbítrio, esse acontecimento marcante deveria trazer ao seu alcance uma possibilidade de salvação. Um impulso novo deveria permitir-lhe encontrar uma fonte regeneradora das forças cósmicas puras. Estamo-nos referindo ao Mistério do Gólgota, à morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

Um ente cósmico estava desde o início designado para compartilhar da formação e da evolução do homem.

Atuava na "criação" do nosso mundo.

Agia na formação do eu, atuando, por assim dizer, por trás e por meio dos Exusiai, que tinham dado ao ser humano o primeiro germe dessa "substância" espiritual do seu eu. Esse ente deixava o homem entregue às influências de Lúcifer e Árimã, a fim de que estes contribuíssem para amadurecê-lo. Mas no momento histórico aludido, diante do perigo de ver frustrada a sua obra, esse ente tinha que intervir. E tinha que intervir na esfera que era o habitat do ser humano, isto é, o mundo físico.

Esse ente - podemos chamá-lo de Eu Cósmico; os gregos chamaram-no de Logos - era, no período proto-persa, o Grande Espírito Solar que apareceu como Ormuzd; ele se escondeu atrás das divindades solares das várias religiões pré-cristãs (Osíris, Baldur, etc.). Os grandes iniciados sabiam do seu caminho descendente das esferas celestes em direção à Terra.

Foi ele que se manifestou a Moisés nos elementos quando, aparecendo no meio da sarça ardente, "Deus" e Moisés tiveram um diálogo de significado cósmico (Exodus, 3:13-14):

"Disse Moisés a Deus [Elohim, no original]: 'Eis que quando eu vier aos Filhos de Israel e lhes disser: O Deus [Elohim, no original] de vossos pais enviou-me a vós, e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes hei eu de responder?' Disse Deus [Elohim] a Moisés: 'EU SOU O QUE SOU' e acrescentou: 'Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU enviou-me a vós'."

Quem assim falou foi o Eu Cósmico!

Finalmente, esse ente supremo devia levar o seu ser até à matéria terrena, encarnando-se num ser humano. Isso aconteceu quando, no momento do batismo no Jordão, o ser divino (Cristo) entrou num homem (Jesus de Nazaré), permanecendo nele até a morte na cruz.

Não vamos tentar analisar aqui o sentido desse mistério. Basta dizer que a ressurreição significa que a queda do homem no Paraíso, a derrota ante as forças negativas foi superada por esse ato de sacrifício, que a pureza do corpo paradisíaco foi restabelecida no corpo da ressurreição e que a imolação do Ser Crístico significa a entrada, no próprio corpo da Terra, do impulso desse ser. Doravante, pode o homem haurir desse impulso, e procurar realizá-lo através da moralidade dos seus atos. Cristo, que passou a ser o espírito da Terra, depois de ter sido o Espírito Solar, oferece-lhe a possibilidade da sua própria ressurreição, desde que o homem queira aproveitar-se dessa graça.

O ser humano pode, pois, sair da situação atual. Para isso, não deve repudiar Lúcifer e Árimã. Com efeito, estes lhe deram impulsos que nunca deveria renegar. Mas em vez de ser dominado por eles, deve mantê-los em equilíbrio, deixando-se inspirar por eles, mas sempre de acordo com a sua própria decisão.

Torna-se mister manter em equilíbrio os impulsos de Lúcifer e Árimã neutralizando-lhes o ímpeto excessivo. Essa tarefa não cessou com o aparecimento do Cristo na Terra. Ao contrário, os esforços de Lúcifer e Árimã são redobrados na época atual, e nunca antes a humanidade estava de tal maneira ameaçada por um fracasso em sua missão cósmica.

Toda a crise da nossa época pode ser interpretada a partir dessa premissa.

Compreenderemos então não só o drama cósmico que se desenrola ante os nossos olhos, mas também o papel fundamental que cabe a cada um de nós para levá-lo a um desfecho favorável.

Texto de R. Lanz

Fonte:
sociedade antroposófica brasileira

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Nuvem sobre o Santuário Por Karl Von Eckartshausen



Primeira Carta


O nosso século é de preferência a qualquer outro o mais notável para o observador imparcial e sereno.

Por toda parte existe fermentação tanto na alma como no coração do homem; encontra-se a cada passo o combate da luz e das trevas, de idéias mortas e idéias vivas, da vontade morta e inerte com a força viva e ativa; se vê por todo lado enfim, a guerra entre o homem animal e o homem espiritual que desperta.

Homem natural renuncia às tuas últimas forças; até teu próprio combate revela a tua natureza superior que repousa em teu seio.

Presentes a tua dignidade, tu a sentes mesmo; porém tudo é ainda obscuro ao teu redor e a lâmpada da tua débil razão não é suficiente para iluminar os objetos aos quais deverias aspirar.

Diz-se que vivemos no século das luzes e seria mais justo dizer que vivemos no século do crepúsculo: aqui e ali, o raio luminoso penetra através da nuvem das trevas, mas ele não ilumina ainda com toda a sua pureza nossa razão e nosso coração.

Os homens não estão de acordo sobre as suas concepções: sábios disputam; e onde há disputa, não existe a luz nem se conhece a verdade.

Os objetos mais importantes para a humanidade são ainda indeterminados.

Não se está de acordo nem sobre o princípio da razão, nem sobre o princípio da moralidade ou do móbil da vontade.

Isto prova que mau grado estejamos na grande época das luzes, ainda não sabemos bem o que ela representa em nosso cérebro e em nosso coração.

Seria possível que nós soubéssemos tudo isto mais cedo, se não imaginássemos que temos já a flama do conhecimento em nossas mãos, ou se pudéssemos lançar um olhar sobre a nossa fraqueza e reconhecer que ainda nos falta uma luz mais elevada.

Nós vivemos nos tempos da idolatria da razão, depositamos uma tocha sobre o altar, proclamamos em altas vozes que a aurora está despontando e que por toda parte o dia aparece realmente, e deste modo o mundo se eleva cada vez mais da obscuridade à luz e a perfeição, pelas artes, as ciências, gosto refinado ou mesmo por uma perfeita compreensão da religião.

Pobres homens! Até onde haveis exaltado a felicidade dos homens?

Existiu jamais um século que tivesse custado tantas vítimas como o presente?


Existiu jamais um século no qual a imoralidade e o egoísmo tenham predominado mais do que neste?


Conhece-se a árvore pelos seus frutos.


Insensatos!...


Com o vosso falso raciocínio... onde obtivesses a luz com a qual quereis esclarecer os outros?

Será que todas as vossas idéias não são tiradas dos sentidos, que não vos dão qualquer verdade mas somente os fenômenos externos?

Tudo aquilo que dá o conhecimento no tempo e no espaço não é relativo?


Tudo aquilo que nós podemos chamar verdadeiro, não é apenas uma verdade relativa?...


Não se pode achar a verdade absoluta na esfera dos fenômenos externos.

Assim sendo, vosso raciocínio não possui a "Essencialidade" mas somente a aparência da verdade e da Luz; assim é que, quanto mais esta aparência aumenta e se expande, mais a "Essência da luz" decresce no interior, e o homem se perde na aparência e tateia para atingir as fantásticas imagens despidas de realidade.

A filosofia do nosso século eleva a fraca razão natural a objetividade independente; atribuindo-lhe mesmo um poder legislativo, isentando-a de uma autoridade superior.


Torna-a autônoma e a diviniza, suprimindo entre Deus e ela toda relação, toda comunicação, e esta razão deificada, que não tem outra lei que a sua própria, deve governar os homens e torná-los felizes!...

As trevas devem expandir a luz!...


A pobreza deve dar a riqueza!...


E a morte deve dar a vida!...

A verdade conduz os homens à felicidade... Podeis vós dá-la?

O que, vós chamais verdade é uma forma de concepção vazia de substância cujo conhecimento foi adquirido externamente, pelos sentidos; o entendimento coordena-os por uma síntese das relações observadas em ciência ou em opiniões.

Vós não tendes absolutamente verdade material, o princípio espiritual e material é para vós um Número.

Retirais das Escrituras e da tradição a verdade moral, teórica e prática; mas como a individualidade é o princípio de vossa razão, e o egoísmo é o móbil da vossa vontade, não vedes a vossa luz interior, a lei moral que governa todas as coisas, ou a rechaçais com a vossa vontade.


É até lá que as luzes atuais foram conduzidas.


A individualidade sob o manto da hipocrisia filosófica, é a filha da corrupção.

Quem pode afirmar que o sol está em pleno meio dia, se nenhum raio luminoso alegra a terra e nenhum calor vivifica as plantas?

Se a sabedoria não melhora os homens e o amor não os torna mais felizes, bem pouca coisa se fez ainda para o todo.

Oh! se somente o homem natural ou o homem dos sentidos pudesse perceber que o principio de sua razão e o móbil de sua vontade, são somente a individualidade, e que por isto mesmo, ele devia ser extremamente miserável, procuraria um princípio mais elevado no seu interior, e aproximar-se-ia da única fonte que pode saciar a todos, porque ela é a "Sabedoria na sua própria essência".

Jesus Cristo é a Sabedoria, a Verdade e o Amor.


Como Sabedoria Ele é o princípio da razão, a fonte do conhecimento, a mais pura.


Como Amor Ele é o princípio da moralidade, o móbil essencial e puro da vontade.

O Amor e a Sabedoria engendram o Espírito da Verdade, a luz interior, esta luz ilumina em nós os objetos sobrenaturais e os torna objetivos.


É inconcebível observar até que ponto o homem cai no erro quando ele abandona as verdades simples da fé, e a elas opõe a sua própria opinião.

Nosso século procura definir cerebralmente o princípio da razão e da moralidade, ou do móbil da vontade; se os senhores sábios estivessem atentos, veriam que estas coisas encontrariam melhor resposta no coração do homem, mais simples, que em todos os seus brilhantes raciocínios.

O cristão prático encontra este móbil da vontade, princípio de toda imoralidade, objetiva e realmente no seu coração e este móbil se exprime na seguinte fórmula:

"Ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo".

O amor de Deus e do próximo é, o móbil da vontade do cristão; e a essência do próprio amor é Jesus Cristo em nós.

Assim é que o princípio da razão é a sabedoria em nós; e, a essência da sabedoria, a sabedoria em sua substância é ainda Jesus Cristo - a Luz do Mundo.


Assim encontramos nele o principio da razão e da moralidade.

Tudo o que eu digo aqui não é, uma extravagância hiperfísica, é a realidade, a verdade absoluta que cada um pode comprovar experimentalmente desde que recebe em si o princípio da razão e da moralidade, Jesus Cristo como sendo a Sabedoria e o Amor essenciais.

Mas a visão do homem dos sentidos é profundamente inapta para captar a base absoluta de tudo aquilo que é verdadeiro o transcendental.

Mesmo a razão que nós queremos elevar hoje sobre o trono como legisladora, é tão somente a razão dos sentidos, cuja luz difere da luz transcendental, como a fosforescência do fogo-fátuo difere do esplendor do sol.

A verdade absoluta não existe para o homem dos sentidos mas somente para o homem interior e espiritual que possui um sensorium próprio; ou, para dizer mais precisamente, que possui sentido interior para perceber a verdade absoluta do mundo transcendental; um sentido espiritual que percebe os objetos espirituais tão naturalmente em objetividade, como o sentido exterior percebe os objetos exteriores.

Este sentido interior do homem espiritual, este sensorium de um mundo metafísico não é, infelizmente ainda conhecido de todos, é um mistério do reino de Deus.

A incredulidade atual para todas as coisas onde a razão dos nossos sentidos não encontra ponto de objetividade sensível, é a causa que nos faz desconhecer as verdades, as mais importantes para o homem.

Mas, como poderia ser de outra forma?

Para ver é necessário ter olhos; para ouvir, ouvidos.

Todo objeto sensível requer seu sentido.

Assim é que o objeto transcendental requer também seu sensorium, - e este mesmo sensorium está fechado para a maioria dos homens.

Desta forma o homem dos sentidos julga o mundo metafísico como o cego julga as cores, e como o surdo julga o som.

Existe um princípio objetivo e substancial da razão e um móbil objetivo e substancial da vontade.


Estes dois conjuntos formam o novo princípio da vida cuja imoralidade, é essencialmente inerente.


Esta substância pura da razão e da vontade reunidas é o divino e o humano em nós; J.C. a Luz do mundo que deve entrar em relação direta conosco para ser realmente conhecida.

Este conhecimento real é a fé viva onde tudo se passa em espírito e em verdade.

Assim, deve existir necessariamente para essa comunicação um sensorium organizado e espiritual, um órgão espiritual e interior, susceptível de receber essa luz, mas que está fechado na maioria dos homens pela espessura dos sentidos.

Esse órgão interior é o sentido intuitivo do mundo transcendental, e antes que esse sentido de intuição seja aberto em nós, não podemos ter nenhuma certeza objetiva da verdade mais elevada.

Este órgão foi fechado por conseqüência da queda, que atirou o homem no mundo dos sentidos.

A matéria grosseira que envolve esse sensorium interior é uma catarata, ou véu que cobre a visão interior, tornando a visão exterior inapta à visão do mundo espiritual.

Esta mesma natureza ensurdece nosso ouvido interior, de maneira que não ouvimos mais os sons do mundo metafísico; ela paralisa nossa língua interior, de maneira que nós não podemos mais nem mesmo balbuciar as palavras de força do espírito que pronunciávamos outrora pelas quais nós governávamos a natureza exterior e os elementos.

A abertura desse sensorium espiritual é o mistério do Novo Homem, o mistério da Regeneração e da união a mais íntimo do homem com Deus; é a meta mais elevada da religião aqui em baixo, desta religião cuja finalidade mais sublime é de unir os homens a Deus em Espírito e Verdade.

Podemos facilmente perceber por meio disto, porque a religião tende sempre à sujeição do homem material.

Ela age assim porque quer tornar o homem espiritual dominante, afim de que o homem espiritual ou verdadeiramente racional governe o homem dos sentidos.

O filósofo sente também esta verdade; seu erro somente consiste em não conhecer o Verdadeiro princípio da razão e querer colocar em seu lugar a sua individualidade, sua razão dos sentidos.

Como o homem possui em seu interior um órgão espiritual e um sensorium para receber o principio real da razão ou a Sabedoria divina, e o móbil real da vontade, ou o Amor divino, ele possui também no seu exterior, um sensorium físico e material para receber “a aparência” da, luz e da verdade.

Como a natureza exterior não possui a verdade absoluta, mas somente a verdade relativa do mundo fenomenal, assim também a razão humana não pode mais adquirir verdades inteligíveis, mas somente a aparência do fenômeno que apenas excita nela, para móbil de sua vontade, a concupiscência, no que consiste a corrupção do homem sensorial e a degradação da natureza.

O sensorium externo do homem é composto de matéria corruptível, enquanto que o sensorium interior tem por substrato fundamental, substância incorruptível, transcendental e metafísica.

O primeiro é causa de nossa depravação e nossa mortalidade; o segundo é o princípio de nossa incorruptibilidade e imortalidade.

Nos domínios da natureza material e corruptível, a mortalidade esconde a imortalidade e a causa de nosso estado miserável é a matéria corruptível e perecível.

Para que o homem seja libertado desta angústia, é necessário que o princípio imortal e incorruptível que está em seu íntimo se exteriorize e absorva o princípio corruptível, a fim de que o invólucro dos sentidos seja destruído e que o homem possa aparecer na sua pureza original.

Este invólucro da natureza sensível é uma substância essencialmente corruptível, que se encontra em nosso sangue, forma as ligações da carne e escraviza nosso espírito imortal a essa carne mortal.

É possível romper mais ou menos esse envoltório em cada homem e em conseqüência conceder a seu espírito, uma liberdade mais ampla, para que ele chegue a um conhecimento mais preciso do mundo transcendental.

Há três graus sucessivos de abertura em nosso sensorium espiritual.

O primeiro apenas nos eleva ao plano moral e o mundo transcendental, aí age em nós por impulsos interiores, chamados inspirações.

O segundo grau, mais elevado, abre nosso sensorium para a recepção do espiritual e do intelectual, e o mundo metafísico age em nós por iluminações interiores.

O terceiro é mais alto grau - o mais raramente alcançado - desperta o homem interior por completo. Ele nos revela o Reino do Espírito e nos torna susceptíveis de experimentar objetivamente as realidades metafísicas e transcendentais; daí todas as visões são explicadas fundamentalmente.

Assim sendo, nós temos no interior, o sentido e a objetividade, como no exterior.

Somente os objetos e os sentidos são diferentes.

No exterior, existe o móbil animal e sensual que age sobre nós, e a matéria corruptível dos sentidos sofre a ação.

No interior, é a substância indivisível e metafísica que se introduz em nós, e o ser incorruptível e imortal do nosso espírito recebe suas influências.

Mas, em geral, no interior, as coisas se passam tão naturalmente como no exterior; a lei é por toda parte a mesma.

Portanto, como o espírito, ou nosso homem interior tem um senso completamente diferente e uma outra objetividade do homem natural, não devemos de maneira alguma surpreender-nos que ele fique um enigma para os sábios do nosso século, que não conhecem estes sentidos, e não tiveram jamais a percepção objetiva do mundo transcendental e espiritual.

Eis aí porque eles medem o sobrenatural com a medida dos sentidos, confundem a matéria corruptível com a substância incorruptível, e seus julgamentos são necessariamente falsos sobre um assunto para a percepção do qual eles não possuem nem sentidos nem objetividade, e, por conseguinte, nem verdade relativa nem verdade absoluta.

No que concerne as verdades que anunciamos aqui, temos que agradecer infinitamente à filosofia de Kant.

Kant incontestavelmente provou que a razão em seu estado natural, não sabe absolutamente nada do sobrenatural, do espiritual e do transcendental, e que ela nada pode conhecer, nem analiticamente, nem sinteticamente, e que assim sendo, ela não pode provar nem a possibilidade nem a realidade dos espíritas, das almas e de Deus.

Isto é uma grande verdade, elevada e benéfica para os nossos tempos; é verdade que São Paulo já a havia estabelecido (primeira epístola aos Coríntios Cap. I, V. 2-24); mas a filosofia pagã dos sábios cristãos soube ignorá-la até Kant.

O benefício desta  verdade é duplo.


Primeiramente ela põe limites intransponíveis ao sentimento, ao fanatismo e à extravagância da razão carnal.


Em seguida põe na mais resplandecente luz a necessidade e a divindade da Revelação.


O que prova que a nossa razão humana, em seu estado obtuso não tem nenhuma fonte objetiva para o sobrenatural sem a revelação; nenhuma fonte para instruirse de Deus, do mundo espiritual, da alma e da sua imortalidade; de onde se segue que seria absolutamente impossível sem revelação, saber ou conjeturar nada sobre essas coisas.

Por isto nós somos devedores a Kant por ter provado nos nossos dias aos filósofos, como já o havia sido desde muito tempo em escola mais elevada da comunidade da Luz, que "Sem revelação, nenhum conhecimento de Deus e nenhuma doutrina sobre a alma seriam possíveis".

Por onde, é claro que uma revelação universal deve servir de base fundamental a todas as religiões de mundo.

Assim, segundo Kant está provado que o mundo inteligível é inteiramente inacessível à razão natural, e que Deus habita uma luz na qual nenhuma especulação da razão limitada pode penetrar.

Desta forma o homem dos sentidos ou homem natural não tem nenhuma objetividade do transcendental; daí, à revelação de verdades mais elevadas lhe é necessária e por isto também a fé na revelação, porque a fé lhe dá os meios de abrir seu sensorium interior, pelo qual as verdades inacessíveis ao homem natural lhe podem ser perceptíveis.

É perfeitamente plausível que com os novos sentidos possamos adquirir novas realidades.


Estas realidades existem já, mas nós não as distinguimos porque nos falta o órgão da receptividade.

É assim que, embora as cores existam, o cego não as vê; o som também existe, mas o surdo não o escuta.

Não devemos procurar a falta no objeto perceptível mas no órgão receptor.


Com o desenvolvimento de um novo órgão nós temos uma nova percepção, novas objetividades.

O mundo espiritual não existe para nós porque o órgão que o torna objetivo em nós não está desenvolvido.

Com o desenvolvimento deste novo órgão, a cortina levanta-se imediatamente, o véu impenetrável até o momento, é rasgado, a nuvem à frente do santuário é dissipada, um novo mundo surge num relance para nós; as vendas tombam dos olhos e nós somos, no mesmo instante, transportados da legião dos fenômenos para a da verdade.

Só Deus é Substância, Verdade absoluta, Ele só é aquele que É, e nós somos aquilo que Ele nos fez.

Para Ele, tudo existe na unidade; para nós, tudo existe na multiplicidade.

Muitos homens não têm a menor idéia deste despertar do sensorium interior como também não a têm para o "objeto" verdadeiro e interior da "Vida do Espírito", que não conhecem; nem sequer pressentem de nenhuma maneira.

Daí, ser-lhes impossível saber que se pode perceber o espiritual e o transcendental e que se pode ser levado ao sobrenatural até à visão.

A verdadeira edificação do templo consiste unicamente em destruir a miserável cabana adâmica e construir a templo da divindade; isto é, em outros termos, desenvolver em nós o sensorium interior ou órgão que recebe Deus; depois deste desenvolvimento, o principio metafísico e incorruptível reina sobre o princípio terrestre e o homem começa a viver, não mais no princípio do amor próprio, mas no Espírito e na Verdade de que ele é o templo.

A lei moral passa então a ser amor ao próximo e, o mais puro, enquanto que, ela não é para o homem natural exterior dos sentidos, senão uma simples forma de pensamento; e o homem espiritual regenerado no espírito, vê tudo no ser, do qual o homem natural tem somente formas vazias do pensamento, o som vazio, os símbolos e a letra, que são todos imagens mortas, sem o espírito interior.

O fim mais elevado da religião é a união a mais íntima do homem com Deus, e esta união já é possível mesmo aqui em baixo, mas ela não o é senão pela abertura de nosso sensorium interior e espiritual que torna nosso coração susceptível de receber Deus.

Aí estão os grandes mistérios dos quais a nossa filosofia não duvida, e cuja chave não pode ser encontrada entre os sábios de escola.

Contudo sempre existiu uma escola mais elevada, à qual este depósito de toda ciência foi confiado, e esta escola era a comunidade interior e luminosa do Senhor, a sociedade dos Eleitos que se propagou, sem interrupção, desde o primeiro dia da criação até aos tempos presentes; seus membros, é verdade, estão dispersas pelo mundo, mas eles estiveram sempre unidos por um espírito e por urna verdade, e não tiveram jamais senão um só conhecimento, uma única fonte de verdade, um senhor, um doutor e um mestre, em que reside substancialmente a plenitude Universal de Deus, e que os iniciou, Ele só, nos mistérios elevados da natureza e do Mundo Espiritual.

Esta comunidade da luz foi denominada em todos os tempos a Igreja invisível e interior, ou a comunidade, a mais antiga, da qual nós vos falaremos mais detalhadamente na próxima carta.

Conselheiro D'Eckartshausen
Fonte:
livro esoterico

Imagem:
Nebulosa Tarantula (Hubble/Nasa)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Nietzsche Por Viviane Mose / Café Filosófico




O filósofo alemão Nietzsche viveu de 1844 a 1900. Mesmo assim foi capaz de antecipar algumas questões que marcaram a vida e o pensamento dos séculos XX e XXI. Hoje, Nietzsche ainda desperta um grande interesse, tanto no meio acadêmico como fora dele.

Mas por que as idéias deste filósofo continuam tão atuais? Para responder esta questão, a filósofa Viviane Mose apresenta alguns dos principais temas da filosofia de Nietzsche e nos mostram os aspectos da vida e da obra deste filósofo que são fundamentais para entendermos o fascínio que ele exerce na atualidade.


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Apolonio de Tiana



Apolônio de Tiana (Τυανεα Απολλωνιον)
(Tiana, Capadócia, 13 de Março de 2 a.C. – Éfeso, c. 98) foi um filósofo neo-pitagórico e professor de origem grega. Seus ensinamentos influenciaram o pensamento científico por séculos após a sua morte.

Biografia

A principal fonte sobre a sua biografia é a "Vida de Apolônio", de Flávio Filóstrato, na qual alguns estudiosos identificam uma tentativa de construir uma figura rival à de Jesus Cristo. Apolônio também é citado nas obras "A Vida de Pitágoras", de Porfírio, e "A Vida Pitagórica", de Jâmblico. Acredita-se ainda que ele seja o personagem "Apolo", citado na Bíblia em Atos dos Apóstolos e I Coríntios.

Apolônio foi vegetariano e discípulo de Pitágoras, com base no seu escrito, abaixo:

"Por mim discerni uma certa sublimidade na disciplina de Pitágoras, e como uma certa sabedoria secreta capacitou-o a saber, não apenas quem ele era a si mesmo, mas também o que ele tinha sido; e eu vi que ele se aproximou dos altares em estado de pureza, e não permitia que a sua barriga fosse profanada pelo partilhar da carne de animais; e que ele manteve o seu corpo puro de todas as peças de roupa tecidas de refugo de animais mortos; e que ele foi o primeiro da humanidade a conter a sua própria língua, inventando uma disciplina de silêncio descrito na frase proverbial, 'Um boi senta-se sobre ela.' Eu também vi que o seu sistema filosófico era em outros aspectos oracular e verdadeiro. Então corri a abraçar os seus sábios ensinamentos…"

Nascido na cidade de Tiana (Turquia), na província da Capadócia, na Ásia Menor, então integrante do Império romano, alguns anos antes da era cristã, foi educado na cidade vizinha de Tarso, na Cilícia, e no templo de Esculápio em Aegae, onde além da Medicina se dedicou às doutrinas de Pitágoras, vindo a adotar o ascetismo como hábito de vida em seu sentido pleno.

Após manter um juramento de silêncio por cinco anos, ele partiu da Grécia através da Ásia e visitou Nínive, a Babilônia e a Índia, absorvendo o misticismo oriental de magos, brâmanes e sacerdotes. Durante esta viagem, e subsequente retorno, ele atraiu um escriba e discípulo, Damis, que registrou os acontecimentos da vida do filósofo. Estas notas, além de cobrirem a vida de Apolônio, compreendem acontecimentos relacionando a uma série de imperadores, já que viveu 100 anos. Eventualmente essas notas chegaram às mãos da imperatriz Julia Domna, esposa de Septímio Severo, que encarregou Filóstrato de usá-las para elaborar uma biografia do sábio.

A narrativa dessas viagens por Damis, reproduzida por Filóstrato, é tão repleta de milagres, que muitos a têm considerado como de caráter imaginário.

Em seu retorno à Europa, Apolônio foi saudado como um mágico, e recebeu as maiores homenagens quer de sacerdotes quer de pessoas em geral.

Ele próprio se atribuiu apenas o poder de prever o futuro; já em Roma afirma-se que trouxe à vida a filha de um senador romano.

Na auréola do seu poder misterioso ele atravessou a Grécia, a Itália e a Espanha.

Também se afirmou que foi acusado de traição tanto por Nero quanto por Domiciano, mas escapou por meios milagrosos.

Finalmente Apolônio construiu uma escola em Éfeso, onde veio a falecer, aparentemente com a idade de cem anos.

Filóstrato mantém o mistério da vida do seu biografado ao afirmar: "Com relação à maneira de sua morte, ‘se ele morreu’, as narrativas são diversas."

Esta obra de Filóstrato é geralmente considerada como um trabalho de ficção religiosa.

Ela contém um número de histórias obviamente fictícias, através das quais, no entanto, não é de todo impossível discernir o caráter geral do homem.

No século III, Hierócles esforçou-se para provar que as doutrinas e a vida de Apolônio eram mais valiosas do que as de Cristo, e, em tempos modernos, Voltaire e Charles Blount (1654-1693), o livre-pensador inglês, adotaram um ponto de vista semelhante.

À parte este elogio extravagante, é absurdo considerar Apolônio meramente como um charlatão vulgar e um fazedor de milagres.

Se descartamos a massa de mera ficção que Filóstrato acumulou, ficaremos com um reformador sincero, altamente imaginativo, que tentou promover um espírito de moralidade prática.

Escreveu muitos livros e tratados sobre uma ampla variedade de assuntos durante a sua vida, incluindo ciência, medicina, e filosofia.

As suas teorias científicas foram finalmente aplicadas à ideia geocêntrica de Ptolemeu que o Sol revolvia ao redor da Terra. Algumas décadas após a sua morte, o Imperador Adriano colecionou os seus trabalhos e assegurou a sua publicação por todo o império.

A fama de Apolônio ainda era evidente em 272, quando o Imperador Aureliano sitiou Tiana, que tinha se rebelado contra as leis romanas. Num sonho ou numa visão, Aureliano afirmava ter visto Apolônio falar com ele, suplicando-lhe poupar a cidade de seu nascimento.

À parte, Aureliano contou que Apolônio lhe disse "Aureliano, se você deseja governar, abstenha-se do sangue dos inocentes! Aureliano, se você conquistar, seja misericordioso!"

O Imperador, que admirava Apolônio, poupou desse modo a cidade. Também no século III, Flávio Vopisco, em seu escrito sobre Aureliano, cita Apolônio.

O Livro de Pedras, do alquimista medieval islâmico Jabir ibn Hayyan, é uma análise prolongada de trabalhos de alquimia atribuídos a Apolônio (aqui chamado Balinas) (ver, por exemplo, Haq, que fornece uma tradução para o inglês de muito do conteúdo do Livro de Pedras).

Devido a algumas semelhanças de sua biografia com a de Jesus, Apolônio foi, nos séculos seguintes, atacado pelos Padres da Igreja sendo considerado desde um impostor até um personagem satânico.

Mas houve também quem o exaltou comparando-o aos grandes magos do passado, como Moisés e Zoroastro.

Apolônio faleceu em Éfeso, cerca de 98.

Fonte: wikipedia