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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
O Mundo Contemporâneo Por Roberto Crema
"O mundo contemporâneo vive uma crise que denomino de demolição, lição do demo. Lição da fragmentação, da dissociação e da desvinculação. Por certo, necessitamos nos aprofundar no contexto crítico planetário, para compreender o sentido do que está desabando, mas também para entrever e acolher o milagre do que está desabrochando, do que está surgindo dos escombros.
Eis uma metáfora que aprecio muito, para indicar nosso momento de transição, caracterizado pela aceleração dos processos mutacionais: a lagarta já morreu e a borboleta ainda não nasceu.
Numa brevíssima e precária resenha histórica de contextualização, voltemos nossos olhos para o momento histórico, na inquieta pensamentosfera européia, que deu início a Idade Moderna, no século XVII e que depois se desdobrou através da revolução científica. Naquela ocasião, estávamos transcendendo um paradigma esclerosado, o mesmo que transcorre atualmente. Recordo que, no sentido mais amplo, como foi concebido por Thomas Kuhn, no seu livro sobre as revoluções científicas, um paradigma não é simplesmente uma filosofia, nem uma religião, nem uma ciência, nem uma arte; é uma estrutura que gera pensamentos e, portanto, gera ideologias, filosofias, ciências, artes e místicas.
O nascimento da modernidade
O paradigma medieval, que estava decadente no século XVII, era o aristotélico-tomista, uma síntese de Aristóteles com Tomás de Aquino, que prevaleceu durante séculos, tendo tido momentos maravilhosos, como o da Patrística, o dos monastérios e o da construção das catedrais. Entretanto, naquela ocasião, esta visão do mundo estava esgotada e desabando - como no momento está desabando o paradigma da modernidade – pelo peso de suas próprias contradições. Podemos sintetizar afirmando que, nos seus momentos mais obscuros, em função do dogmatismo e de uma tirania do divino, o paradigma medieval reprimia o fator objetivo e a mente analítica crítica, em nome de alguma coisa que, confusamente, era chamada de Deus. A“santa” inquisição matou mais seres humanos, proporcionalmente, do que a II Guerra Mundial, tendo se prolongado cruelmente durante séculos, sob o jugo despótico de uma religião desconectada do Espírito, que acabou se pervertendo num terrorismo consciencial, que silenciava e assassinava os seres humanos dotados das mentes mais ilustres e brilhantes, como a do Galileu. Basta lembrar de Giordano Bruno, que foi torturado e lançado numa fogueira, apenas por ousar pensar de forma lúcida e independente.
Então, precisamos levar em consideração aqueles seres humanos traumatizados por esse obscurantismo, que conspiraram por uma nova cosmovisão. Creio ser justo um elogio aos traumatizados de todos os tempos, esses seres humanos que sentem, na própria pele, a dor de uma humanidade dilacerada, insensível e esquecida de si mesma. Os mentores da idade moderna foram seres feridos por este trauma, que levantaram suas vozes, clamando por um mundo mais saudável e justo. Surge um Galileu, que vai nos introduzir no mundo da quantidade, de uma metodologia científica, hipotético-dedutiva. Atualmente, fala-se muito em qualidade, mas durante séculos ficamos fascinados com a leitura da realidade como sendo apenas aquela dos números, como denunciou tão bem René Guénon, em seu livro, O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos.
Bacon, numa época em que tudo era visto e julgado através de um livro que está na raiz da palavra biblioteca, a Bíblia, que apenas uma ínfima elite tinha acesso, diga-se de passagem, fez a revolução do empirismo, nos introduzindo aos cinco sentidos, como estratégia natural de investigação e experimentação na realidade. Bacon enfatizava o controle da natureza, com o seu famoso lema: saber é poder. Este princípio de dominação foi introduzido no cerne do pensamento moderno.
Depois, bradou sua voz aquele que é considerado o pai da razão analítica, Descartes, que partia da dúvida como método sistemático, tão traumatizado que estava pelos dogmas da época. Através do exercício de um raciocínio extraordinário, em algum momento, concluiu que precisava pensar para duvidar: penso, logo existo. O pensamento, então, passou a adquirir o estatuto de um fundamento ontológico. Surgiu, triunfante, a análise que é um método de decomposição sistemática, que busca compreender o todo por suas partes. Por outro lado, Descartes era um admirador das máquinas. Ele dizia que os filósofos apenas compreenderiam o ser humano se compreendessem as máquinas. A dimensão mecanicista, portanto, foi introduzida também no coração do novo paradigma.
Finalmente, o gênio raro de Isaac Newton, fez a magistral síntese da matematização de Galileu, do empirismo baconiano e do racionalismo analítico cartesiano, num edifício portentoso, que ele denominou de física mecânica. Newton extrapolou a metáfora da máquina para o universo, que passou a ser visto como um grande engenho, movido por leis eternas. Este modelo de Newton foi identificado com a própria ciência, durante os séculos seguintes.
Todo o movimento liberal da modernidade surgiu, de uma certa forma, para combater aquela imagem dominante de um Deus tirano, que reprimia a liberdade de pensar e de analisar. Voltaire bradava, Lembrem-se das crueldades! Assim, o racionalismo materialista científico pode ser compreendido como um movimento compensatório iluminista, de resgate da razão crítica, que culminou, no século XIX, na religião positivista de Comte, pregando o sermão do progresso, com uma pretensa física social.
Para se compreender a crise que estamos vivendo, não podemos deixar de visualizar esse surgimento do império da razão, com a magistral obra prima desses grandes mentores, que podemos denominar de racionalismo cientifico, inerentemente analítico, que inventou a disciplina que, por sua vez, engendrou o especialista, como o vidente do mínimo, o profeta do minúsculo. Saímos da fascinação pelo Todo para a veneração das partes.
Num movimento dialético, houve uma mudança de polaridade, que determinou um outro extremismo. A experiência da subjetividade, da interioridade e do sagrado, de onde jorram os valores de uma ética essencial, passou a ser reprimida em nome de algo que, de forma confusa, chamamos de ciência. O que foi um grito de inteligência, no século XVII, que conquistou a lucidez lógica e uma consciência de discriminação, no século XIX se transformou em dissociação e desvinculação. Enfim, o espírito científico, fundamentado numa indagação aberta e permanente, se degenerou em cientificismo, uma religião sem Deus! A universidade passou a ser um novo templo, com seu reitor denominado de Magnífico e seus sacerdotes travestidos de pensadores e técnicos. Naturalmente, houve uma hipertrofia da dimensão do conhecimento, sobretudo com a revolução informacional, e a correlata atrofia do universo interior, o empobrecimento lastimável do domínio subjetivo, o naufrágio do sujeito, que se degenerou em objeto.
A ditadura da razão
Em linhas muito vastas e precárias, eis como ocorreu a mudança de um pólo onde predominava uma visão sintética mística, para uma visão dominantemente analítica e objetiva, uma demência racional excludente, que Chesterton denunciou afirmando que louco é quem perdeu tudo, exceto a razão! Do obscurantismo das asas, dissociadas das raízes, passamos para o obscurantismo das raízes, desconectadas com as asas…
Os dois caminhos clássicos de apreensão da realidade, a religião e a ciência, funções que se inscrevem, metaforicamente, nos nossos hemisférios cerebrais - o esquerdo da lógica masculina racional-empírica e o direito, do coração e da intuição feminina -, foram considerados na ordem do antagonismo e da incompatibilidade. Isso levou a uma situação esquizofrênica, de ruptura entre o mundo interior e o exterior. Ou seja, perdemos de vista o que é a consciência da inteireza e o que é o fenômeno humano integral.
Como produto dessa contradição, estamos presenciando uma síndrome global, com sintomas que indicam um esgotamento criativo do paradigma da modernidade, que modelou uma atitude básica, dissociada e polarizada, perante a humanidade e o mundo. Os sinais trágicos dessa falência paradigmática são bastante visíveis nos noticiários de cada dia - a destruição dos ecossistemas, a exclusão de bilhões de seres humanos miseráveis, uma escalada de violência, terrorismos e guerras infindáveis, o abuso contra a infância – um dos mais dilacerantes sintomas, pois a criança é a guardiã do templo da dignidade e de um futuro viável - e essa falência escandalosa da ética. Enfim, um quadro de declínio e de quase fenecimento de nossa civilização.
Muito dessa discussão pode ser traduzida nas concepções de Ocidente e Oriente, compreendidas de forma transgeográfica, como estados de consciência, distintos e complementares. O Ocidente interior pode ser representado pelo hemisfério esquerdo, da tecnociência e da ação no mundo exterior. O Oriente interior pode ser simbolizado como o hemisfério direito, da mística, da musicalidade e da contemplação. Neste sentido, há uma bela sincronicidade, em português: Oriente-se! Precisamos orientar nossa ciência e tecnologia, nosso saber, por essa inteligência sintética, pelo Oriente interior, pelo hemisfério do amor. Esta integração precisa ter início dentro de cada um de nós, na ecologia individual, para que possa ser naturalmente transpirada, para a ecologia social e a ambiental.
Um novo aprender a aprender
Gosto de confiar que estamos despertando para essa premente necessidade, através do paradigma emergente, que é transdisciplinar holístico, postulando o diálogo aberto e sinérgico entre a ciência, a filosofia, a arte e a tradição espiritual.
Quando uma espécie encontra-se ameaçada na sua perpetuação, mecanismos intrínsecos, biológicos, da sua inteligência são acionados e um novo paradigma é concebido e desenvolvido, num processo orgânico e vital. É o que está acontecendo na minha percepção, em meio à agonia de um modelo racionalista e objetivista, esgotado e decadente. Trata-se de conservar o positivo da razão crítica e da ciência contemporânea, ousando abrir novos horizontes, rumo à integração dos aspectos reprimidos e negligenciados, para que transcorra uma sinergia de renovação. Entre os dois hemisférios cerebrais há uma ponte de milhões de neurônios, denominada de corpo caloso. Eis uma simbólica formidável de aliança, entre o Ocidente e o Oriente, entre o masculino e a feminino, entre a razão e o coração, a sensação e a intuição, o profano e o sagrado, a matéria e a Luz. Consciente desta solução criativa, Carl Sagan afirmava que o futuro da humanidade depende do corpo caloso.
Na abordagem holística, há um princípio que é muito valioso: não mesclar, não separar, nem fusão, nem divisão, nem “um” nem “dois”. A mescla da ciência com a religião é um equívoco alienante, um pseudosincretismo degradante. Por outro lado, considerá-las na ordem do antagonismo e da exclusão conduz a outra cilada, do sectarismo e desconexão. A ciência tem um caminho próprio, que é o analítico. A religião tem um caminho próprio, que é o sintético. Um não precisa do outro. Mas como afirmou Fritjof Capra, o ser humano necessita de ambos! São as duas pernas que um ser humano inteiro e íntegro necessita, para empreender uma jornada, com sentido e orientação.
Assim como a Idade Média enalteceu o um, da união indiferenciada do misticismo, a Idade Moderna se fundamentou no dois, da diferenciação dual, da separatividade analítica. Encontra-se em jogo, aqui, uma outra polaridade, que podemos denominar, metodologicamente, de symbolos e de diabolos. Symbolos é o fator que religa, da religiosidade e do método sintético, o um. O seu oposto é diabolos, o que divide e estabelece fronteiras, característica do método analítico, o dois. Num movimento dialético natural, o excesso de symbolos medieval nos levou a um excesso de diabolos, na modernidade. Necessitamos da virtude integrativa do três. Assim, um novo cosmo brotará do caos. Trata-se de um movimento natural da fusão para a diferenciação e desta para a Aliança, metaforizada no mencionado corpo caloso, que os antigos denominavam de Chifre do Unicórnio.
A Idade do Três
Através do paradigma transdisciplinar holístico, confio que inauguraremos a Idade do Três, através da emergência de um horizonte do saber e do ser, que transcenderá o que conhecemos convencionalmente como ciência e como religião. Creio que o futuro das novas gerações dependerá do desenvolvimento desta inteligência integral do potencial de nossa espécie. Manter o positivo do um, a união, e o positivo do dois, a diferenciação, numa metanóia de uma consciência de inteireza, onde aprenderemos a nos unir e nos diferenciar, no milagre do Encontro inclusivo, onde dançam o amante, a amada e o Amor.
Falando de um outro modo, há um denominador comum na crise contemporânea, que é o ego. Há um egocentrismo na fonte mesmo de todas as nossas contradições. Do ponto de vista psíquico, o ego representa o elemento básico e pessoal da separatividade. A crise de fragmentação tem o ego como seu suporte e agente fundamental. E não será pela lógica que inventou o problema que iremos resolvê-lo, naturalmente. Foi Carl Gustav Jung que postulou, no Ocidente, um processo iniciático, de iniciação ao mistério da totalidade, denominado de individuação: uma trilha no mundo interior que conduz a pessoa, da superficialidade egóica à centralidade do Self. Precisamos de uma visão transcendente que não é contra o ego e nem significa sua destruição, mas que poderá abri-lo para uma dimensão de solidariedade, de fraternidade e de comunhão, virtudes que emanam do hemisfério sintético.
No século XIX emergiram vários tipos de determinismos, com uma ênfase na competição e conflito. Darwin afirmava a competição entre as espécies no seu determinismo biológico. Marx postulava a competição entre as classes no seu determinismo econômico. Freud indicava a competição entre as potências psicológicas no seu determinismo psíquico… A Revolução Francesa, que representou um momento redefinidor da história ocidental, enalteceu três valores fundamentais: a liberdade, a igualdade e a fraternidade. O bloco liberal-capitalista centrou-se na liberdade, o bloco social-comunista na igualdade e, ambos, menosprezaram a fraternidade, frutos que eram do mesmo paradigma materialista, racionalista, atomístico e mecanicista.
Portanto, como lograr fraternidade, num mundo dilacerado por conflitos egocêntricos? Postulando um paradigma novo, da integração, do três. Essa virtude emana da mente sintética que é o apanágio das religiões. O que significa que é impossível a sobrevivência da espécie através de um salto qualitativo de consciência sem o resgate dessa visão, dessa consciência holística, capaz de solidariedade, através da experiência da comunhão, sem perder o valor do discernimento analítico.
Por um pacto da Aliança
Gosto de falar do que considero o pacto do século XVII, entre o poder despótico da época já mencionado, o da Igreja, e os frágeis representantes do racionalismo científico, naquela ocasião vulneravelmente emergente. Que pacto é este? É tão simples que dói: os cientistas deveriam se restringir à investigação do mundo objetivo da matéria, que pode ser manipulada, quantificada, controlada e a Igreja ficaria com o mundo interior, da alma, da consciência, do Espírito! Ora, a ciência fez um bom trabalho, explorando e construindo no mundo exterior. Infelizmente, a Igreja se fragmentou além da medida, tendo prevalecido a força da instituição e da hierarquia, que subjugou a conexão com o Sopro do Mistério, que se traduz na mística do amor compassivo. É motivo de alegria e consolo constatar que, no front da ciência, da filosofia, da arte e da espiritualidade, levantam-se os novos traumatizados, na tarefa conspiratória de atualizarem este esclerosado pacto.
Considero o novo pacto a abordagem que chamamos de transdisciplinaridade, uma convocação ao exercício dialógico entre os grandes fragmentos epistemológicos da ciência, arte, filosofia e mística, buscando resgatar a unidade do conhecimento e uma forma mais integrada de agir na realidade. Um documento seminal e impactante, da UNESCO, foi a Declaração de Veneza (1986), produto de um colóquio que congregou representantes notáveis das diversas áreas do saber e do fazer, com a liderança lúcida de Basarab Nicolescu. Este texto afirma ter a ciência chegado aos seus limites, necessitando de um premente e urgente diálogo com outras formas de conhecimento. Esse documento, juntamente com a carta magna da Universidade Holística Internacional, formulada por Pierre Weil, Jean-Yves Leloup e Monique Thoenig, representaram textos de base, que nos impulsionaram a realizar, em Brasília, o I Congresso Holístico Internacional, I CHI (1987), um encontro transdisciplinar formidável e definitivo, que deflagrou a criação da Fundação Cidade da Paz, mantenedora da Unipaz, hoje Rede Unipaz, que congrega dezenas de unidades no Brasil e no mundo. Este evento engendrou a Carta de Brasília, afirmando que uma nova civilização está nascendo e que uma mutação de consciência está em curso, traduzida pelo progressivo reconhecimento mundial da visão holística, que estabelece pontes sobre todas as fronteiras do conhecimento humano, resgatando o amor essencial como base da veiculação entre todos os viventes. Termina afirmando, de forma contundente: O século XXI será holístico, ou não será.
Outros documentos importantes e complementares, como a Declaração de Vancouver (1989), a Carta de Paris (1991), a Declaração de Belém (1992) e, de modo muito particular, a Carta da Trandisciplinaridade (1994), que foi gerada em Portugal, foram se somando e aprofundando este desafio tremendo, que aponta para a nova aliança, da ciência com a consciência. Merece ser destacado outro documento, formulado no Congresso de Locarno (1997), centrado no tema da evolução transdisciplinar da universidade, que postula os quatro pilares de uma nova educação: educar para conhecer, para fazer, para conviver e para Ser. Então, para que possamos aliar, através do Três, o efetivo ao afetivo, a razão ao coração, a análise à síntese, o intelecto ao espírito, o masculino ao feminino, precisamos seguir nos exercitando na estratégia da transdisciplinaridade, pois se encontra em jogo o futuro da humanidade e da própria biosfera.
Assim, nossa crise é também a da crisálida, a de uma transição consciencial, a do parto de uma nova forma de saber e de ser no mundo. Necessitamos de uma abertura para a renovação, para um salto quântico de consciência. A ciência materialista convencional, desprovida de uma visão de altitude e de uma ética de cuidado, tem sido mais um instrumento de dominação e de exclusão, sua tecnologia sendo utilizada de forma irresponsável e perversa ecologicamente, destituída das motivações mais nobres. Lembro-me de Oppenheimer, que coordenou a Operação Manhattam, que gerou a bomba atômica, quando viu esse artefato explodir Hiroshima e Nagasaki que, para ele, foi uma experiência dilaceradora. Depois de estudar ciências sociais, ele afirmou: O maior perigo da humanidade é o cientista alienado.
Com relação às contradições religiosas, podemos citar que em 2003, de acordo com Bob Walter, presidente da Fundação Joseph Campbell, presenciamos cerca de 35 guerras, das quais 33 tiveram causas religiosas. Precisamos de uma religião de fato, que honre a etimologia da própria palavra: religare. Nossa tarefa comum, como conlamava Dante Alighieri, e a de sermos Sumos Pontífices, pontes entre a terra ao céu. De outra forma, seremos cada vez mais vítimas de um certo “materialismo religioso”, uma máfia de instituições pseudo-religiosas, que movimenta bilhões de dólares, explorando a legítima fome de infinito que habita o coração, o cerne do ser humano, dominando e alienando rebanhos, através de manipulações que bem conhecemos.
Espiritualidade transreligiosa
Juntamente com a transdisciplinaridade, precisamos exercitar a transculturalidade, a convivência e o respeito às diversas culturas, com a riqueza de suas singularidades e no reconhecimento daquilo também que elas têm de comum. É fundamental, também, o desenvolvimento da espiritualidade transreligiosa, que respeita todas as religiões, ao mesmo tempo que as transcendem, fundamentando-se nos valores comuns compartilhados, do amor compassivo e da fraternidade universal. Nossa ênfase, portanto, é numa espiritualidade transreligiosa, cuja essência se traduz por amor e cuja prática se encarna no exercício solidário e fraterno. Está aí a emergência de uma nova forma de ser religioso no mundo atual. Colocar ênfase não naquilo que é histórico, naquilo que é do domínio existencial e institucional e sim no transhistórico, nos valores perenes, no plano essencial.
Todas as religiões surgiram do sagrado, esse assombro perante o Mistério da Vida, que não é um latifúndio de nenhuma instituição. O sagrado é uma experiência vital e numinosa, que pode ser vivida no exercício da ciência, da filosofia, da arte e também no da religião, naturalmente. Enfim, trata-se do milagre devastador e atômico do Amor, a tecnologia sutil mais sofisticada de todos os universos. Penso em Teilhard de Chardin, que afirmava que, quem sabe, depois de dominar as forças da natureza, dos furacões, dos maremotos, quem sabe a humanidade dominará as forças do Amor. Então, pela segunda vez na história, o ser humano terá inventado o fogo…
De fato, o maior perigo da humanidade é o ser humano alienado. Sobretudo quando se trata da alienação do que é o mais propriamente humano, do Ser que viemos dar testemunho na Terra. Necessitamos de uma pedagogia do cuidado e da inteireza, que possa facilitar o florescimento total do humano.
Educação integral
O jardineiro é, talvez, a metáfora mais plena do que é um verdadeiro educador. O que faz um jardineiro? Prepara um solo fértil, banhado pela luz solar, rega-o com a água justa propiciando os nutrientes minerais apropriados e uma poda adequada a cada planta. Se o terreno é bem cuidado, a planta tem um tropismo para se desenvolve por si mesma, na direção do que realmente é. Nenhum jardineiro é tão tolo a ponto de querer ensinar uma rosa a ser uma rosa ou um jasmim a ser um jasmim. Ou, pior ainda, comparar uma rosa com um jasmim, exigindo de todas as flores o mesmo resultado, através de um mesmo currículo!…
Eis, também, a tarefa do autêntico educador: cultivar um solo propício para que o aprendiz desvele a sua palavra e revele a sua singularidade. Trata-se de apoiar e, também, de frustrar, pois os limites têm que ser aplicados, centrados no aprendiz. E jamais utilizar a técnica perversa da comparação, através de uma ética do respeito à diferença, ao semblante único de cada aprendiz. Por que um ser humano não floresceria se tivesse esse cuidado? Vale ainda afirmar que o bom jardineiro é menos o conhecedor da botânica e mais o amante da planta. Aí, estamos diante da grande pedagogia do amor, que é a primeira e a derradeira lição na escola da existência.
Como já afirmamos, a proposta de uma educação integral, transdisciplinar, centra-se em quatro alvos fundamentais: por um lado, aprender a conhecer e a fazer. Por outro, aprender a conviver e a Ser. Os dois primeiros, embora de forma muito fragmentada, são considerados na educação convencional. Estas tarefas precisam ser aperfeiçoadas, para que o conhecimento seja mais unificado e a ação mais integrada e com sentido.
Aprender a conviver
O grande desafio é o de aprender a conviver – consigo mesmo, com o outro, os outros, a natureza – ou seja, viver com. Para tal, precisamos do que tenho denominado de uma alfabetização psíquica, que consiste em colocar e integrar a alma nas escolas. É o que temos feito a quase duas décadas, na Universidade Holística Internacional, Unipaz. Todos os nossos programas e projetos visam, inicialmente, a um processo de integração das quatro funções psíquicas, pesquisadas por Jung: a razão e o coração (o pensamento e o sentimento), a sensação e a intuição. O racionalismo científico é produto da articulação e dialogicidade da função da sensação – o empirismo - com a função do pensamento – o racionalismo. A grande ingenuidade desta abordagem analítica é pretender compreender a totalidade psíquica através de apenas duas de suas funções! Então, urge uma estratégia educacional que possa facilitar a cada aprendiz a identificação das funções psíquicas que são dominantes, em si, para desenvolver as que estão atrofiadas, buscando integrá-las e harmonizá-las.
Compreendo que alfabetizar a alma implica no desenvolvimento de três inteligências: a emocional, a relacional e a onírica. É fundamental um currículo através do qual o aprendiz possa aprender a expressar as emoções naturais, que são mecanismos homeostáticos imprescindíveis para a manutenção da saúde, no nível individual e coletivo. Aprender a expressar afeto, alegria, tristeza, raiva e medo é muito importante para o aprendiz não precisar substituí-las com emoções secundárias e disfuncionais, que na análise transacional são denominadas de disfarces, a exemplo da ansiedade, culpabilidade, angústia, ira, vingança, desespero, etc. Quanto a tarefa de desenvolver a inteligência relacional, gosto de lembrar de uma afirmação de Carl Rogers, um grande líder do movimento humanístico: A maior descoberta do século XX foi o grupo! Portanto, as diversas dinâmicas de grupo precisam ser introduzidas nas escolas, desde o pré-primário, para que o aprendiz possa bem se instrumentar na arte de se relacionar – consigo, com o outro e com o mundo – através do exercício do diálogo e da intimidade. Finalmente, a inteligência onírica também é indispensável, para transitarmos no universo criativo do sonhar. Sabemos que a linguagem do sonho é tão importante quanto os pensamentos de vigília, exercendo uma função compensatória, trazendo reportagens significativas da alma da pessoa, sinalizando novas direções, trazendo questões não resolvidas que precisam de atenção, podendo nos conectar com o inconsciente coletivo e cósmico. É trágico constatar como a escola convencional despreza esta dimensão tão rica e criativa, apenas por transcender a lógica racional, na qual se fundamentou o paradigma da modernidade. É como uma empresa que trabalha de dia e de noite e que apenas valoriza os produtos diurnos. Relegar as preciosidades que advém da mente onírica é, no mínimo, uma irresponsabilidade consciencial.
Aprender a Ser
Não há desafio maior, entretanto, do que educar para Ser. Para tal, necessitamos de uma pedagogia iniciática, que inicie o aprendiz a desenvolver os talentos que o Mistério lhe confiou, rumo a realização de uma plenitude possível. Uma pedagogia que facilite, por uma via interior, que o aprendiz da Vida possa, além de saber, florescer através do seu dom singular, que eu denomino de vocação, a voz mais profunda e permanente do desejo que habita cada ser humano. Voltarei a este nobre tema, pela sua importância norteadora. Neste sentido, necessitamos desenvolver uma inteligência noética, que nos abra para o silêncio, de onde toda palavra justa brota. Uma pedagogia da meditação e da contemplação, que possa abrir as portas da percepção, para o exercício de uma criatividade máxima. Neste sentido, as tradições espirituais autênticas, da sabedoria perene, podem nos auxiliar, através de seus arsenais de práticas, destinadas a abrir um olhar capaz de perceber o novo e desenvolver o poder da intuição, inteligência global que captura o coração do instante. Além do caminho analítico, que acumula conhecimentos de forma progressiva, necessitamos da via sintética, capaz de não saber, esta virtude preciosa da douta ignorância. Ser capaz de se esvaziar do conhecido, das memórias que nos soterram no passado, para viabilizar um processo de recriação e de renovação permanentes. É preciso lograr a profundidade e altitude do Ser, para que sejamos sujeitos do próprio destino. Diz a sabedoria dos Upanichads: O que for a profundeza do teu ser, assim será o teu desejo. O que for o teu desejo, assim será a tua vontade. O que for a tua vontade, assim serão teus atos. O que forem teus atos, assim será o teu destino.
Enfim, não se estagnar e permitir o processo, o devir, é característica da existência criativa e plena. Afirma o poeta Pessoa: A vida é breve, a alma é vasta. Ter é tardar. Ora, se ter é tardar, Ser é partir…
Desenvolvimento e cosmovisão
Quando falamos do desenvolvimento, do que estamos falando, afinal? Para que possamos compreender os diversos sentidos desta palavra, necessitamos esclarecer nossos pressupostos antropológicos, ou seja, a visão que postulamos do humano e do mundo, nossa cosmovisão. Pois esta visão modela nossa atitude perante o humano e o universo, determinando o que compreendemos como desenvolvimento, como educação, como evolução… Inspirando-me em Jean-Yves Leloup, há quatro pressupostos antropológicos. O primeiro é o materialista: o ser humano é apenas um corpo dotado de um cérebro; é um macaco nu. Desenvolvimento, nesta visão, se resumirá na questão da prosperidade material, ou seja, desenvolvimento econômico. Esta é a visão mais superficial deste enfoque e, infelizmente, o que prevalece no mundo materialista contemporâneo. Por esta razão, consideramos que um país desenvolvido é o que tem uma economia forte, um PIB de natureza exclusiva material. É importante aprofundar e complexificar esta avaliação.
O segundo pressuposto é o psicossomático: o ser humano é um corpo dotado de informações, de alma. Neste caso, desenvolvimento não é só material; é também o da alma, da qualidade de pensamentos, de emoções, de sonhos, de relacionamentos, da subjetividade e intersubjetividada. Para lograr este desenvolvimento, necessitamos de uma alfabetização psíquica, no marco de uma educação integral, acima indicada. Neste caso, um país pode ter uma economia fraca e uma alma próspera enquanto outro pode ter uma economia forte e uma alma miserável…
O terceiro pressuposto é trinitário: o ser humano é um composto de corpo, de alma e de nous, que podemos traduzir por consciência pura, sem objeto, metaconsciência, a ponta acerada da alma. O ser humano é dotado de uma qualidade ímpar, a da consciência da consciência. Dizia Mestre Eckart: O Espírito é mais próximo a mim do que meu hálito. O mesmo é verdade para as pedras e plantas. Só que elas não sabem disso!… A dimensão noética é constituída de silêncio e de imagens estruturantes, arquétipos da alma profunda; é a nossa mente contemplativa, capaz de quietude e de paz, aberta ao essencial, de onde emanam os valores éticos perenes. Desenvolvimento noético é logrado através de uma pedagogia meditativa, aberta à dimensão essencial e do que denominamos de imaginal, o universo arquetípico que estrutura a alma e a existência, conforme delineamos resumidamente acima.
O quarto pressuposto afirma que o ser humano é um composto de dimensões: do corpo, da alma e da consciência, atravessado pelo Mistério da Vida, pelo Espírito, que os estruturam e vitalizam. Aqui, a dimensão essencial é levada em consideração e valorizada como o que permanece na impermanência de tudo, o Ser Que É no coração do ser que passa. A dimensão noética, da consciência, é a única que, por ser constituída de silêncio e de uma abertura ao essencial, pode refletir a Luz do Espírito. Portanto, não há desenvolvimento espiritual; só se desenvolve o que tem um início e terá um fim. O que podemos desenvolver é o corpo, a alma e a consciência, para que a Essência possa se manifestar na existência, para que o Absoluto possa dar um sentido e direção ao relativo. Na minha leitura, Cristo indicou esta realidade quando afirmou que o Espírito está pronto, a carne é fraca. Não há desenvolvimento do Espírito; há um despertar para o Ser, para a Vida.
Considero importante diferenciar existência de Vida. Existência é uma manifestação e exteriorização provisória da Vida, que é Absoluto, Espírito. Certa ocasião Buda indagou aos seus discípulos o que era o oposto da morte. Todos responderam: a vida. Buda corrigiu: O oposto da morte é o nascimento, pois a Vida é eterna. E Cristo também afirmava trazer Vida, Vida em abundância. Está lá no preâmbulo do João: No princípio: o Logos, o Logos está voltado para Deus, o Logos é Deus. …Ele é a vida de todo ser, a vida é a luz dos homens. Ele está no mundo, o mundo existe por meio dele, mas o mundo não o conhece. …E o Logos se fez carne e fez sua morada entre nós… A grande tragédia é que estamos sendo fanáticos da existência e tombamos ao largo da Vida, do Mistério que realmente somos! Quando alguém faz aniversário, desejamos-lhe muitos anos de existência. Quando aprenderemos a desejar muita Vida nos anos? Não importa muito se viveremos alguns anos a mais ou a menos. O que importa é que haja Vida em nossos passos, a chama do Amor em nossos dias.
É um fato auspicioso o tanto que se fala, atualmente, de Qualidade de Vida. Já falamos muito de quantidade, nos últimos séculos. Para se auferir quantidade, basta uma máquina, um computador. Para se verificar qualidade é necessário um sujeito, uma alma, uma consciência. É pela conexão com a Vida que a nossa existência adquire centralidade, sentido e orientação.
Dimensões do cuidado
Eis, portanto, as três dimensões suscetíveis de desenvolvimento no ser humano: o corpo, que corresponde ao aspecto econômico; a alma, relativa ao aspecto político, do poder psíquico; e a consciência noética, relativa ao universo da ética e da sabedoria, o alvo mais elevado de um desenvolvimento integral, segundo a filosofia perene. Para desenvolver esta virtude, as tradições sapienciais nos oferecem seus caminhos para o despertar. O cristianismo, através da contemplação, oração, e evocação do Nome; o hinduísmo, com suas diversas yogas, o budismo com o seu leque de vias meditativas, o sufismo com a dança dos dervixes, o taoísmo com a meditação ativa das artes marciais que surgiram em templos, o xamanismo com suas artes do sagrado… Na pedagogia da Unipaz, denominamos de holopráxis a estas diversas vias para o despertar da Presença.
É necessário questionar essa falácia do progresso, tão decantada por Comte no século XIX. Para Comte, considerado o fundador da sociologia, há uma lei dos três estados, na história do conhecimento humano: a teologia representa o primeiro estágio infantil; a metafísica, seria de transição para o positivo, a maturidade, período científico definitivo. O seu positivismo, postulado como uma religião, pregava a ordem e o progresso, fundamentado na física mecânica, com seus dois capítulos básicos: o da estática (ordem) e o da dinâmica (progresso). Tal ideologia acabou contaminando nossa República e estampada em nossa bandeira nacional, que passou a ser um instrumento de propaganda do lema básico positivista - Ordem e Progresso. Penso que o povo brasileiro, com seu grande coração, é maior do que esta bandeira, que precisa ser atualizada com uma dimensão quântica, aliada à mecânica. Ordem e Progresso são valores fundamentais, de uma razão analítica; precisam ser conservados. Como não há tempo a perder, sugiro adicionar outras duas virtudes, do universo feminino, no hemisfério sintético de nossa bandeira: Amor e Solidariedade. Porque, bem sabemos, sem o amor compassivo a ordem pode se degenerar em ditadura e o progresso em exclusão e dominação. Novamente, trata-se de atrevermos a realizar a arte da Aliança, para que a tecnociência esteja a serviço de uma ética do coração e do bem comum.
Sobretudo depois do fatídico 11 de Setembro, as pessoas conscientes estão se perguntando: o que é um país desenvolvido?; o que é uma pessoa educada?; o que é, realmente, progresso?…
Enfim, essencialmente o que é o desenvolvimento, se não a possibilidade de dar continuidade ao processo da holocriação? Co-criar: é isso que o Mistério nos brindou como oportunidade suprema na Arte do Encontro, pura alquimia de transmutação. Considero uma bela e portentosa utopia a que consta como terceiro princípio de um documento muito lúcido e impactante, denominado de Europa de Consciências, que surgiu de um movimento impulsionado por eminentes humanistas, liderado por Abé Pierre, na França, denunciando as contradições catastróficas de um materialismo onipresente, organizado e global: Submeter o econômico ao político e o político à sabedoria. Em outras palavras, o fator material econômico precisa ser conduzido pelo político psíquico e este pela sabedoria ética da consciência noética. Mãos à Obra Prima?!…
O Projeto Humano é vasto; somos um espaço onde o próprio Universo pode tomar consciência de si, saborear-se, saber-se, sorrir… A missão humana é a do Pontifex, a de uma ponte entre o infra-humano e o supra-humano. Recapitulamos todos os Reinos: há em nós o reino mineral – ossos e dentes, nossa dimensão adâmica de argila -, o vegetal – o sistema vegetativo, a flora intestinal, as plantas dos pés – o animal – os instintos, a libido. Há também o reino angelical – o Aleluia, este Louvor ao Ser que É – o arcangelical – chama ardente da compaixão, uma sabedoria maior que nossa razão – e o Reino da Luz. Todos se aliam num coração humano capaz de abertura, de doação, de Amor incondicional. Desenvolver este potencial, que os antigos denominavam de Anthropos, a inteireza humana, eis o maior desafio dos séculos vindouros!
Além do ego
Importa insistir que a questão do desenvolvimento é de natureza existencial; precisamos cuidar daquilo que teve início em nós e que, um dia, findará. O Espírito Incriado sempre esteve, está e estará no coração diamantino da Essência Humana. Como pode se desenvolver o que jamais teve início, o que jamais findará? Trata-se, então, de desenvolver o existencial para que o Essencial possa se manifestar nos meandros tortuosos do existir humano. O que precisamos desenvolver é a dimensão corporal, a dimensão psíquica e a dimensão noética ou consciencial profunda de onde uma ética do coração jorra, naturalmente, se aí lograrmos evolução e qualidade. Para tal, é necessária a disciplina da ascese, de um trabalho no cotidiano sobre si mesmo, de um investimento na exploração e edificação do cosmo interior. Quando a nossa mente se esvazia a nossa taça de plenitude transborda!… O futuro da humanidade depende do resgate de uma mística natural, de comunhão, participação, vinculação. Toda injustiça e exclusão é produto da ilusão de separatividade, determinada pela clausura e prisão do ego, fonte de toda guerra, interior e exterior. A questão crucial de um desenvolvimento integral é a de lograr que o ego seja orientado pelo Ser que nos faz ser…
Penso numa passagem de Alexandre, o Grande, quando esteve no deserto com Diógenes, um grande sábio. Alexandre, que foi preparado por um bom mestre, o Aristóteles, e sabia reconhecer um homem digno, disse ao Diógenes: - Peça-me o que quiser que eu lhe darei. E o sábio respondeu: - Apenas se afaste, pois você está tapando o sol!… Gosto desta estória como uma boa metáfora a nos indicar que a tarefa suprema é a de afastar Alexandre, o Grande, ou seja, o ego desmesurado, para que a Luz do Sol da Essência possa nos aquecer, iluminar e redimir.
O Sol do Ser sempre está presente, mesmo nos dias mais nublados. Nossa tarefa é a de afastar as nuvens das enfermidades e sintomas do corpo, as nuvens das inclinações indevidas, ferimentos e traumas da alma e as nuvens da ignorância existencial da consciência, que nos impede de refletir o que está aí desde todo o sempre e para sempre - o Alfa e o Ômega, o Infinito Eterno.
Não há desenvolvimento consistente sem autodesenvolvimento. O tema da evolução é imperativo na questão humana. Pois não nascemos humanos; nós nos tornamos humanos, através de um investimento sistemático em nós mesmos, não apenas no plano material; sobretudo na esfera da subjetividade, da alma e da consciência. Já afirmava um grande mestre da Excelência Humana, há dois milênios: De que vale você ganhar o mundo inteiro se você perdeu a sua alma; se você não sabe quem você é, de onde você vem, para onde você vai?…
Meta princípios para um desenvolvimento integral
Quero concluir apontando para alguns meta princípios, princípios de princípios, que considero fundamentais na arte da transformação e da auto-realização. Considero-os chaves preciosas no processo de cura e de individuação, rumo à saúde e plenitude, que trinta anos de exercício terapêutico me ensinaram.
O primeiro meta princípio fala de uma meta patologia, uma patologia existente em todas as patologias: existe uma fonte comum a todo sofrimento humano que é o apego, compreendido como uma identificação – com um objeto, um valor, um desejo, uma pessoa, um status… Desde que você se identifique com algo, você sentirá medo de perder, pois tudo está em mutação, e o stress se seguirá ao temor. Pierre Weil resumiu, em palavras modernas, este meta princípio da sabedoria perene, através de um esquema claro e simples: O apego leva ao medo, que conduz ao stress e a todas essas enfermidades da civilização que são tão bem conhecidas: Apego – Medo – Stress. Na realidade, o apego é derivado do que Weil denominou de fantasia da separatividade: como nos sentimos separados do todo, num movimento compensatório, nos apegamos; como se os apegos representassem tábuas de salvação. Neste circuito vicioso nos perdemos numa equação singela, de fácil constatação: quanto mais apegos, mais sofrimento. Querer desapegar-se é uma outra forma de apego, mais sutil. Qual a saída?
Encontramos a saída através do segundo meta princípio, que aponta para uma meta-terapia, um princípio terapêutico inerente a todo processo terapêutico: a plena atenção, que se traduz por Presença, estar conectado ao instante. Existe uma pequena atenção, quando há uma concentração em algum aspecto da realidade, o que implica em resistir a todas as demais estimulações. A plena atenção é derivada da qualidade noética, consciência da consciência. O que Krishnamurti denominava de atenção sem escolha, um estado aberto e inclusivo de vigília. Toda transformação expressa esta conexão com o aqui-e-agora, o que caracteriza a saúde plena. Uma pessoa saudável não é uma pessoa que não tem problemas; é uma pessoa que está atenta, a cada instante, aos problemas e às maravilhas do existir. É uma atenção sem foco específico, um estado meditativo, sem tensão, sem concentração. A patologia emana da desatenção. A plena atenção é uma função natural do despertar da kundalini, de acordo com psicologia hindu. A palavra Buda deriva do sânscrito bodh, que significa desperto. Buda, portanto, é aquele que despertou plenamente para o real, que é o agora, o instante que nos nutre de tudo o que necessitamos. É através da plena atenção aos apegos que se torna possível transcendê-los. Neste estado de atenção pura, deixamos de ser possuídos pela ilusão do passado e ficção do futuro, aptos a uma responsabilidade, uma habilidade de responder ao agora. Eis um sermão de sabedoria crística: Vigiai e orai!
Ao terceiro meta princípio de um desenvolvimento integral, denomino de círculo da aceitação. O movimento de aceitação, de modo algum implica em passividade ou acomodação. Pelo contrário; aceitar é uma qualidade dinâmica, quando nos fazemos não duais com a realidade e, nesta inteireza, somos plenificados de energias, o que possibilita a transformação ou superação do obstáculo em questão. Nós apenas mudamos aquilo que aceitamos, num primeiro momento. Quando não aceitamos algum aspecto da realidade, seja interna ou externa, nós nos dividimos – entre o ideal e o real – o que nos leva a uma dispersão energética. Sem energia não é possível a transformação. Assim, a não aceitação nos leva a um esgotamento energético, que nos encerra no círculo vicioso da estagnação. O alinhamento lúcido com a realidade é o que nos possibilita sua transcendência. Eis a força do que Mahatma Gandhi afirmava ser o resumo de todas as orações: Seja feita a vossa vontade. Este processo virtuoso pode ser assim resumido: eu me alinho com a realidade para estar inteiro e com a energia advinda desta integridade, posso atirar-me no processo de transmutação da própria realidade. Falando de um outro modo, há três tipos de pessoas que querem transformar o mundo: o rebelde, o revolucionário e o conspirador. O rebelde é alguém imaturo, que tem problemas não resolvidos com as autoridades, com o papai e mamãe no interior de si mesmo, projetando-os no exterior, sendo sempre do contra; em suma, é uma pessoa que necessita de psicoterapia. O revolucionário já é uma pessoa com maturidade, que faz a crítica das contradições sistêmicas e postula uma ideologia que considera mais justa. Entretanto, há sempre uma arrogância nesta atitude de querer mudar o mundo, sem antes ter se transformado. Em função disto é que presenciamos praticamente a derrocada de todas as revoluções. Finalmente, o conspirador é a pessoa que fez a revolução no interior de si mesmo, trabalhando com o ditador no seu próprio coração, dando um testemunho de autotransformação, naturalmente tornando-se um facilitador da transformação social e ambiental. O conspirador é aquele conhecedor de si, que se deu conta que é um pedacinho de praça pública e caso queira ser agente de qualidade, de desenvolvimento no mundo, ele tem que começar por este pedacinho de universo que lhe foi confiado. Este é o líder capaz de aceitação de si, do outro e da realidade, assumindo um autêntico papel de agente de transformação. O autoconhecimento para o qual nos convocavam Sócrates, e todos os grandes mestres, é a única forma de prevenir a humanidade das guerras, dos genocídios e das grandes tragédias. Porque somente mata o outro, somente viola e exclui aquele que não se conhece, porque se conhecer é se conhecer na relação, na vinculação com o outro e com o Totalmente Outro, o Mistério que, reconhecido ou não, sempre está presente.
O quarto meta princípio, é o da vocação. É o que traduzo afirmando que somos filhos de uma promessa que nos fizemos, de um juramento sagrado. Encarnamos para realizar uma obra prima individual e intransferível, com os talentos que a Vida nos brinda, sobre medida. Quando me esqueço e me afasto da vocação, vou atrair problemas, atrair doenças, que podem ser compreendidas como denúncias de contradições e de desvios. A grande tarefa evolutiva é a pessoa se lembrar da sua própria promessa, fazendo jus aos talentos que recebeu e que precisa fazer render na existência. Considero a parábola dos talentos indicativa deste metaprincípio fundamental. O normótico – alguém que sofre da patologia da normalidade, adaptando-se a um contexto doente e não cultivando seu potencial evolutivo - é aquele que enterra os talentos recebidos, com medo do seu próprio florescimento, de sua capacidade de realização, de amar e de servir. Jonas, do Antigo Testamento, representa o arquétipo desta normose, que atrai tempestades quando foge da própria missão. Por outro lado, sempre que nos aproximamos do caminho da promessa, da trilha com coração, o Mistério conspira por nós, enviando-nos tudo o que necessitamos, para florescer a partir do solo fecundo de nossos talentos. Considero a questão vocacional um dos maiores desafios, que poderá nos levar a transcender a polaridade insuficiente do especialista e do generalista, tarefas que os computadores poderão assumir por nós.
Finalmente, o quinto meta princípio é o do serviço, o viço do Ser, que expressa a suprema Lei do Amor, esse amor de onde viemos e para onde retornaremos, já que estamos condenados a amar. A existência é uma escola para onde viemos aprender a amar e a servir a partir de uma vocação particular. Não há forma de servir mais excelente do que você se tornar quem você realmente é. Eis um poema altaneiro do grande Tagore: Oh amigo meu, amiga minha, meu coração está angustiado pelo peso de todos os tesouros, que não entreguei a ti. O que nos pesa é o que retemos, o que não ofertamos. Na realidade, apenas temos o que oferecemos, o que servimos, que nenhum ladrão e nem mesmo a morte poderá nos roubar. Eis o epitáfio que gostaria, quem sabe um dia, de merecer: Confesso que servi."
Roberto Crema
(texto de 2008)
domingo, 23 de dezembro de 2012
Poema Voce existe!
Se é Natal...
Porque ficar triste?
Se deixe levar...
Pela magia que no ar existe!
Se o bom velhinho
Vem ou não vem
Só o fato de você existir
Já é um grande bem...
Seja alegre e não triste...
Pelo simples fato
De que “você existe”...
Rico, pobre, gordo, magro...
Baixo, alto, feio, bonito...
Escuta o que te digo...
Você é único...
E a certeza deve sempre
ter
Jesus que te dá a chance
A grande chance de viver...
Seu Natal não pode ser triste
Pela alegria de que “você existe”
Então não se sinta mal...
Se solte e...” Feliz Natal “...
Celia Piovesan
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Primavera... Verão... Outono... Inverno...
As estações mudam.
Às vezes é inverno, às vezes é verão.
Se você permanecer sempre no mesmo clima,
você se sentirá estagnado.
Você precisa aprender a gostar
daquilo que está acontecendo.
Chamo a isso de maturidade.
Você precisa gostar
daquilo que já está presente.
A imaturidade é ficar vivendo
nos "poderias" e nos "deverias"
e nunca vivendo naquilo que "é"
- aquilo que "é" é o caso,
e o "deveria" é apenas um sonho.
Tudo o que for o caso, é bom.
Ame isso, goste disso e relaxe nisso.
Quando algumas vezes vier a intensidade, ame-a.
Quando ela for embora, despeça-se dela.
As coisas mudam...
A vida é um fluxo.
Nada permanece o mesmo;
às vezes há grandes espaços
e às vezes não há para onde se mover.
Mas as duas coisas são boas,
ambas são dádivas da existência.
Você deveria ser grato,
reconhecido por tudo o que acontece.
Desfrute o que for.
É isso que está acontecendo agora.
Amanhã poderá mudar, então desfrute aquilo.
Depois de amanhã algo mais poderá acontecer.
Desfrute-o.
Não compare o passado com as fúteis fantasias futuras.
Viva o momento.
Às vezes é quente, às vezes é muito frio,
mas ambos são necessários;
de outro modo, a vida desapareceria.
Ela existe nas polaridades.
Osho
sábado, 25 de agosto de 2012
Meditação do Coração Por Karunesh
Esta é uma meditação de origem Sufi, cujo principal objetivo é o centramento interior. Ninguém pode existir sem um centro. Mas este centro não tem que ser criado, somente redescoberto.
Nosso centro é a nossa essência, nossa natureza, que nos foi doada por Deus. Aliás, essa essência, segundo o Sufismo, é parte de Deus.
A personalidade é a circunferência, aquilo que é cultivado pela sociedade, que não é dada por Deus. É dada pela educação social, não pela natureza. Estar na periferia desta roda da fortuna não nos dá condições de atuar na direção do movimento.
Encontrar o centro significa entrar em contato com o eixo, a possibilidade real de dar direção, além da serenidade e a paz que lá se encontram. E, neste espaço, o relaxamento e a lucidez acontecem de forma natural. Surge então um caminhar com foco, um futuro consciente, uma possibilidade chegada vitoriosa – a superação da dispersão, da confusão gerada pela distância do centro, da nossa essência.
A filosofia Sufi, de origem greco-persa, mas muito difundida na Índia, acredita que somos todos partes do Divino e que encarnamos para trabalhar a nossa evolução e consciência cósmica para reconexão com ele.
Na Meditação do Coração, o foco está em concentrarmos todo o trabalho de respiração, centramento, relaxamento, flexibilidade, reorganização celular e alinhamento dos chacras, a partir da força do coração e amor incondicional.
Trata-se de uma técnica de meditação ativa, realizada com estímulos sonoros através de uma musicalidade que tem uma sintonia absoluta com os ritmos do coração puro.
Nesta meditação não tem como o praticante perder o ritmo ou a concentração, pois os estímulos musicais têm como principal objetivo ancorar o estado de alerta.
Sua musicalidade é a original de muitos séculos atrás, época de sua criação, e contém todo um portal de atração divina (magnetismo – sintonia) para a energia do amor incondicional.
1º a 4º ESTÁGIOS – Trabalhando as 4 direções - cerca de 30 minutos
Aqui serão trabalhados vários objetivos terapêuticos como:
- A desintoxicação e alcalinização do sangue através do foco na expiração
Cada movimento das direções será acompanhado por uma expiração (eliminação do gás carbônico) ruidosa feita pela boca. A intensidade e amplitude da inspiração (oxigenação = vitalização do cérebro e células) será automática e uma consequência natural desta intensa expiração.
- Respiração e oxigenação
Essa desintoxicação energética e sangüínea irá provocar um estado alterado de consciência, que é a frequência cerebral de 8-12 ciclos/seg., conhecido como estado Alfa. Nessas condições, já adentramos ao estado meditativo, quando a lucidez, a serenidade, o bem-estar e o "estado de alerta" começam a serem percebidos.
- Chacra da ação e do trabalho
Localizado nos ombros, cada movimento das direções será realizado com ação e uso do braço e ombro correspondente, esticando-o para a frente, na altura do coração, apontando a direção correspondente a cada estágio.
- Sentido de Norte = Foco
Apesar de nos movimentarmos nas 4 direções, jamais deveremos perder o ponto onde está localizado o nosso objetivo ou foco, que é a reconexão com o nosso centro e o Divino. O termômetro desta conexão é a paz interna.
- Concentração
Ao seguirmos as sequências direcionais propostas dos movimentos, é fundamental que estejamos presentes e alertas. Caso não estejamos, logo se perceberá pela perda de ritmo, principalmente quando fazemos esta meditação em grupo.
- Centrar todas as nossas energias no coração
Todo movimento ou respiração, só deverá ser realizado após trazermos toda a energia que nos cerca e que está dentro de nós (nos chacras mais básicos) para o coração. É algo como filtrar tudo pelo coração e na saída do filtro só encontrarmos o amor incondicional.
- Flexibilidade
Todos os movimentos corporais devem acompanhar esta conexão com o coração e o amor condicional. Assim, ao longo dos estágios, haverá um aumento gradual na beleza dos movimentos corporais, os quais estarão integrados com a leveza e flexibilidade da entrega.
Todos estes aspectos fazem com que esta técnica meditativa seja muito adequada ao ocidente, pois sendo dinâmica e ativa, em seus 4 primeiros estágios provoca uma intensa mobilização de energia, portanto uma limpeza e desintoxicação dos estímulos ao estresse, da inquietude e da hiperatividade física e mental.
Assim, quando o praticante chega ao quinto estágio, torna-se possível a sua entrada na verdadeira prática meditativa, quando o corpo e a mente, respondem muito melhor à imobilidade física, ao relaxamento do corpo e da mente.
1º Estágio - 6,5 minutos - Norte/Norte: De pé, confortável. Pernas levemente flexionadas, porém juntas. As duas mãos juntas em concha, palmas voltadas para cima, na altura do chacra raiz. Elevar as mãos juntas até o coração, trazendo a energia dos 3 chacras básicos para limpar, trazer tudo o que for mais denso para filtrar no coração. Na sequência, levar a perna esquerda flexionada e o braço esquerdo esticado para a frente (sentido norte = foco), mantendo o braço esquerdo esticado na altura do coração (enquanto o braço direito fica fletido com a mão sobre o coração). Ao mesmo tempo expirar pela boca emitindo um som forte e alto tipo "Chi".
Voltar as mãos à posição original (as duas mãos juntas em concha, palmas voltadas para cima, na altura do chacra raiz) e repetir os mesmos movimentos, agora com a perna e o braço direito.
Não esqueça de:
a) manter o corpo flexível e relaxado,
b) criar um ponto de foco na parede (um quadro, um objeto, uma mancha, enfim, algo que represente o seu objetivo mais profundo) que será considerado como o seu norte e para o qual você sempre deverá estar olhando (enxergando), e
c) que as palmas das mãos (sempre na forma de concha = captação) serão antenas que irão sintonizar as energias do universo, que serão recebidas e transmutadas no coração.
2º Estágio - 6,5 minutos - Oeste/Leste: Nesse estágio, toda a seqüência de movimentos e respiração será repetida, porém a direção Norte/Norte será substituída pelo Oeste/Leste. Assim, a perna e o braço esquerdo serão movimentados para a lateral esquerda do corpo e depois para a lateral direita do corpo.
Não esqueça de: apesar de estar realizando movimentos nas direções oeste/leste, sempre seus olhos deverão passar pelo seu ponto norte no momento em que muda de direção. Ele é o seu foco, seu ponto de centramento. Ou seja, não importa o que façamos (levar filhos na escola, pagar contas, etc., o foco não pode se perder ou estar ausente).
3º Estágio - 6,5 minutos - Sul/Sul: Nesse estágio, toda a sequência de movimentos e respiração será repetida, porém a direção Oeste/Leste será substituída pelo Sul/Sul. Assim, a perna e o braço esquerdo serão movimentados para a traseira do corpo, fazendo um ângulo de 180º. O mesmo deverá ser feito com a perna e braço direito.
Não esqueça de: apesar de estar realizando movimentos nas direções sul/sul, sempre seus olhos deverão passar pelo seu ponto norte. Ele é o seu foco, seu ponto de centramento.
4º Estágio - 8 minutos - Norte/Norte, Oeste/Leste, Sul/Sul: Nesse estágio, toda a sequência de movimentos e respiração será repetida, porém usando todas as direções: Norte/Norte, Oeste/Leste e Sul/Sul.
Não esqueça de: apesar de estar realizando movimentos em todas as direções (norte/norte, oeste/leste e sul/sul), sempre seus olhos deverão passar pelo seu ponto norte. Ele é o seu foco, seu ponto de centramento.
5º Estágio - 6 minutos - Templo Interno: Nesse estágio, sentado em posição fetal, permitir que toda a energia de amor incondicional captada e concentrada no coração seja irradiada por todo o seu Ser. O propósito é ficar dentro de um ovo de pura energia divina, onde o seu chacra do coração é o núcleo desta célula. A música que toca nesse estágio é muito linda, uma verdadeira irradiação de amor cósmico.
6º Estágio - 15 minutos - Sinos Tibetanos: Nesse estágio, ao som de poderosos sinos tibetanos, acontece o momento da real meditação. Procurando estar atento aos sons, permitir que sua vibração sonora construa uma nova harmonia celular. É um momento de muita cura e inspiração.
O cd que acompanha a prática da meditação do coração tem 6 faixas, correspondentes aos 6 estágios desta técnica meditativa e tem duração total de 48 minutos.
O cd que acompanha a prática da meditação do coração tem 6 faixas, correspondentes aos 6 estágios desta técnica meditativa e tem duração total de 48 minutos.
Por Conceição Trucon
Fonte: Stum
Fonte: Stum
domingo, 19 de agosto de 2012
Nassim Haramein / As Dimensões e o Universo
Nassim Haramein é físico, nascido na Suíça, dedicado a pesquisas e pensamentos no campo da física quântica e teorias sobre hiperespaço: o espaço de uma maneira não muito convencional mas profundamente esclarecedora, trazendo novas e corajosas discussões e revelações nesse campo e relacionando-as à nossa realidade, à nossa existência e ao conhecimento das civilizações antigas. Menciona também a matriz vetorial isotrópica, o vácuo, os tethaedros, crop circles. Vale conferir!
O vídeo está dividido em 45 partes, de 10 minutos cada uma aproximadamente.
domingo, 3 de junho de 2012
Ego: O Falso Centro
O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.
Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso.
Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu. Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa maneira que a criança cresce.
Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz 'você é bonita', se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer.
Por meio da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito.
E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo.
Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.
O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não.
O verdadeiro só pode ser conhecido por meio do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido por meio da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Por meio desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.
O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a sociedade.
Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão.
Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro...
Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento.
A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o ego dado pela sociedade.
Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala, a família inteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado.
O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção. Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele.
Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso - é um grande truque. Por meio do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo.
Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é.
Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos.
Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas...
Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo.
Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa.
E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo.
Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.
Precisamos ser ousados, corajosos.
Precisamos dar um passo para o desconhecido.
Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.
Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o eu.
Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência.
É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...
O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo?
O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa?
E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer...
E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo.
Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém.
Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.
As causas não estão fora de você.
A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?'
Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.
E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.
Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde'...
Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece.
E então você nunca diz: 'eu abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade...É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.
Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.
Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca.
Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge.
E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir.
Osho, em "Além das Fronteiras da Mente"
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