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sábado, 22 de dezembro de 2012
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
...crenças... pensamentos... palavras... ações... hábitos... valores...
"Suas crenças se tornam seus pensamentos.
Seus pensamentos se tornam suas palavras.
Suas palavras se tornam suas ações.
Suas ações se tornam seus hábitos.
Seus hábitos se tornam seus valores.
Seus valores se tornam o seu destino."
Mahatma Gandhi
Meu comentário:
Nossos pensamentos positivos são a base para uma vida feliz e saudável.
Os efeitos da nossa escolha entre viver com amor ou com medo afetam o nosso corpo e gravam essas memórias em nossas células.
Aprendermos a mudar as nossas mentes para crescermos e nos desenvolvermos é o segredo da vida!
Segredo?!
Eu disse....segredo?
Não... não há segredo...
Voce pode escolher viver com medo... ou com amor.
Há sempre duas possibilidades!
Quem escolhe o amor... vive com mais saúde.
Mas, quem escolhe o mundo escuro do medo tem muito mais problemas, pois se isola fisiologicamente tentando se proteger.
As nossas crenças... sejam elas positivas ou negativas... têm impacto não somente sobre nossa saúde... como também sobre outros aspectos de nossa vida.
As nossas crenças agem como filtro de uma câmera... e... nossa biologia se adapta a ela. Devemos e podemos modificar nossa mente.
Quando reconhecemos o poder de nossas crenças descobrimos a chave da liberdade!
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sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Compreensão: Convergência entre o Saber e o Ser
"Nenhuma época acumulou sobre o ser humano conhecimentos tão numerosos e tão diversos quanto a nossa. Nenhuma época conseguiu apresentar seu saber do ser humano sob uma forma tão pronta e tão facilmente acessível. Mas também nenhuma época soube menos o que é o ser humano."
Martin Heidegger
Eis um aspecto desafiador e paradoxal da crise contemporânea: a existência de uma hipertrofia de informações e de conhecimentos, de acesso amplo, irrestrito e imediato, ao mesmo tempo em que sofremos de uma atrofia do processo de discernimento e de compreensão. Como bem denuncia Heidegger, nunca estivemos tão alienados com relação à queso humana.
Sobre a compreensão da realidade, Basarab Nicolescu inicia o seu livro, Qu’est-ce que la réalité?, de forma contundente: “A palavra ‘realidade’ é uma das mais prostituídas de todas as línguas do mundo. Todas as pessoas acreditam saber o que é a realidade mas, quando nos interrogamos, descobrimos que há tantas concepções desta palavra quantos são os habitantes da terra. Assim, não é surpreendente que os inumeráveis conflitos agitam, sem cessar, os indivíduos e os povos: realidade contra realidade. Nestas condições, é por algum tipo de milagre que a humanidade ainda existe (...). Todavia, a tripla revolução que atravessou o século XX – a revolução quântica, a revolução biológica e a revolução informática – deveria mudar, em profundidade, nossa visão da realidade.”
Necessitamos, portanto, refletir sobre o que nos impede de atualizar nossos referenciais e o que pode nos abrir ao universo possível de uma compreensão intrapessoal e interpessoal, subjetiva e intersubjetiva, no âmbito de uma ecologia trinitária: individual, social e planetária.
Entre os obstáculos exteriores à compreensão intelectual, Edgar Morin aponta para a existência do “ruído”, a falta de entendimento causada pela polissemia dos conceitos, a ignorância dos ritos, hábitos, valores e imperativos éticos alheios, a incompatibilidade de visão de mundo e a desigualdade das estruturas mentais. Quanto às dificuldades de ordem interna, Morin indica o egocentrismo, o etnocentrismo e o sociocentrismo. Talvez possamos ampliar estas lúcidas considerações afirmando a existência de um mega-fator impeditivo da compreensão, que consiste no que Pierre Weil, Jean-Yves Leloup e este autor denominamos de normose, uma patologia da normalidade.
O obstáculo da normose
Pierre Weil conceitua a normose como anomalias da normalidade conformadas de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar e de agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte.
Para contextualizar, refletirei sobre a existência de três fundamentos da normose. O primeiro é o sistêmico: esta patologia da mediocridade surge quando o sistema onde vivemos encontra-se, dominantemente desequilibrado, mórbido e corrompido; quando o que predomina são contradições ou sintomas como o da falta de escuta, de respeito, de cuidado e de fraternidade, bem como a alarmante e crescente violência contra o indivíduo, a sociedade e a natureza. Neste contexto, uma pessoa “normal”, ou melhor, normótica, é aquela ajustada ao sistema enfermo e que contribui para a manutenção do status quo. Sabemos, pela própria carta constitutiva da Organização Mundial de Saúde (1946), que a saúde não é ausência de sintomas e, sim, a presença de um estado de pleno bem-estar somático, psíquico e social. Posteriormente foi acrescentado o fator ambiental e o espiritual. O que significa que, quando um sistema encontra-se, em grande medida, num estado patológico, a pessoa saudável é a que manifesta um estado de desajustamento consciente, uma indignação lúcida e, até mesmo, um desespero sóbrio.
O segundo fundamento é o evolutivo, que parte do princípio do inacabamento do humano, como afirmava Paulo Freire. É o que podemos traduzir afirmando que não nascemos humanos; nós nos tornamos humanos, através de um investimento sistemático no potencial de autodesenvolvimento, de maturidade e de uma plenitude possível. Falando de outro modo, o ser humano introduziu outra ordem de complexidade na qualidade evolutiva do planeta, que se traduz pela evolução consciente e intencional. Além dos acasos e das necessidades, das mutações genéticas aleatórias e dos combates entre os mais aptos, da seleção natural darwiniana, a evolução humana consiste no desenvolvimento da consciência, que solicita um trabalho sobre si mesmo em trilhas evolutivas de individuação. Como afirmava Teilhard de Chardin, as coisas não são aparecidas no Universo: elas são nascidas, tendo gestação e evolução, sendo que certas direções evolutivas privilegiadas levam à novidade, ao salto qualitativo do evento. Para este pioneiro do estudo da complexidade, os dois grandes eventos universais consistiram na passagem da pré-vida para a vida e desta para o pensamento. Enfim, do fantástico aumento de complexidade surge o Ser Humano e sua consciência reflexa, o pensamento. Esta nova qualidade de uma evolução consciente e intencional, característica do humano, é sustentada pelas cartografias contemporâneas da abordagem integral da consciência, a exemplo da pesquisa de Maslow, de Rogers, de Jung, de Grof e de Wilber, para citar alguns poucos representantes do movimento humanístico e transpessoal da ciência psíquica de ponta.
Morin, que postula um aspecto meta-natural do humano, afirma que a hominização nos conduziu a um novo início: o hominídeo humaniza-se e, assim, o conceito do humano adquire um duplo princípio, biofísico e psico-sócio-cultural, ligados dialeticamente. Nas suas palavras: “Desenvolvemo-nos além do mundo físico e vivo. É neste “além” que tem lugar a plenitude da humanidade”. Neste sentido, a normose se caracteriza pela falta de investimento no potencial psíquico, ético e noético, representando um estado de estagnação da evolução consciente, propriamente humana.
O terceiro fundamento é o paradigmático, falando no sentido mais amplo que Thomas Kuhn imprimiu a este conceito. Neste caso, a normose surge quando um paradigma, embora já esgotado no seu potencial criativo e, em algum grau, esclerosado, ainda prevalece, com relação a outro emergente, postulado por um grupo minoritário. Como afirmava Max Planck, segundo Kuhn “Uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo com que vejam a luz, mas porque seus oponentes finalmente morrem e uma nova geração cresce familiarizada com ela”. Felizmente, existem exemplos de cientistas, filósofos e de grandes pensadores – Edgar Morin representa um ícone desta possibilidade, com a sua vasta obra, que ousa uma reconfiguração dos saberes -, capazes de uma abertura destemida para o novo, com a prudência lúcida de preservar o positivo do antigo. Trata-se da nobreza indicada por esta paradoxal e feliz expressão de Henry Thoreau, a maioria de um!...
Por outro lado, o conceito de normose encontra-se em ressonância com algumas reflexões de Morin, sobre os sete saberes, sobretudo quando, ao analisar as cegueiras do conhecimento, ele fala sobre a força normalizadora do dogma e a proibitiva do tabu, bem como sobre o determinismo de convicções e de crenças e os conformismos cognitivos e intelectuais, que podemos designar como uma normose cognitiva da normalização. Da mesma forma, Morin se refere ao imprinting cultural como uma marca matricial, que estabelece um tipo de conformismo incontestável, que podemos considerar como uma normose do imprinting cultural.
Por ocasião do Encuentro Holístico Internacional, em Mendonza, travei contato com Manfred Max-Neef, Prêmio Nobel alternativo de economia. Na sua conferência, este célebre cientista afirmou que, desde muito cedo, se questionava sobre o que seria a característica singular da espécie humana. A cultura, a inteligência, a linguagem?... Não, pois outras espécies também as desenvolvem. Seria o humor? No seu encontro com outro cientista, Nobel da etologia, Konrad Lorenz, ele soube que não: há outras espécies bem humoradas. Assim, ele prosseguiu com esta indagação até um momento inesperado, no qual o seu pai, um homem por quem ele nutria um grande respeito, lhe indagou: - Meu filho, não será a estupidez?
Max-Neef afirmou que, nesse instante, uma luz se fez e ele se tornou o primeiro estupidólogo! A estupidologia é uma ciência que precisa ser estudada com rigor e urgência. É importante esclarecer que ela se diferencia da inofensiva imbecilidade, por se revestir de racionalidade lógica, sendo exercida, principalmente, através de uma linguagem técnica. A devastação suicida do ecossistema planetário, por exemplo, pode ser justificada ou racionalizada estupidamente, através de uma lógica desenvolvimentista. Eis uma imagem que pode ser uma metáfora desta atitude tão em voga: um homem serrando um galho da árvore – com um elegante discurso sobre o progresso, bem fundamentado estatisticamente -, exatamente onde ele se encontra sentado! Outro notável Prêmio Nobel, Albert Einstein costumava afirmar que, para ele, apenas duas coisas eram infinitas: o universo e a estupidez humana. E quanto ao universo, concluía ironicamente o sábio, ele ainda não estava totalmente seguro!...
Edgar Morin se refere a esta mesma realidade, quando fala da existência de dois cretinismos. O primeiro é o de baixo, de uma cultura de massa banal e de uma mídia alienada, que o mundo universitário, segundo o autor, gosta muito de denunciar. Entretanto, de acordo com Morin, há também uma cretinice do alto, pela qual ele sente uma particular repugnância, própria de uma sub-cultura oficial e intelectual, certo obscurantismo racionalizado, caracterizada pela ignorância e julgamentos a priori, com estereótipos, conformismos e arrogantes idéias convencionais, o que podemos denominar da normose do cientificismo.
Considero a estupidez, assim como a agressão passiva, traduzida pela indiferença dos que não se importam com o bem comum e pela causa humana - que Mahatma Gandhi considerava pior e mais destrutiva do que a violência ativa -, duas características das mais importantes desta doença, insidiosa e trágica, que denominamos de normose.
Como afirma Basarab Nicolescu, três e trans possuem uma mesma raiz etimológica, sendo que o três significa a transgressão do dois, assim como a transdisciplinaridade é a transgressão da dualidade binária, rumo a uma pluralidade complexa e a uma unidade aberta, duas faces de uma mesma realidade. Adotando o nosso conceito, Nicolescu afirmou, num congresso em Strasbourg, que é preciso ir além da normose do binário.
Enfim, para logramos o que Morin denomina de ética da compreensão – centrada na solidariedade intelectual e moral, a serviço do gênero humano -, necessitamos transgredir a normose, que se encontra nos fundamentos da crise civilizacional contemporânea.
As funções psíquicas
De acordo com a vasta pesquisa do psiquiatra Carl Gustav Jung, há quatro funções psíquicas, inerentes ao ser humano: a do pensamento, a do sentimento, a da sensação e a da intuição. Não é difícil constatar que o diálogo entre o pensamento (racionalismo) e a sensação (empirismo) deu origem à ciência contemporânea. Assim como da aliança da sensação com a intuição deriva a arte; do pensamento com a intuição, a filosofia e do sentimento com a intuição, a mística, da Tradição sapiencial. Assim, quanto ao fundamento individual, os conhecidos quatro fragmentos clássicos epistemológicos surgem da dinâmica criativa de nossas funções psíquicas.
De forma geral, o indivíduo apenas desenvolve uma ou duas destas funções, sendo que as demais permanecem atrofiadas e indiferenciadas. O desenvolvimento das funções deficitárias e a sua integração e harmonização com as demais conduz, segundo Jung, a uma quinta função, que ele denominou de Self, uma inteligência da totalidade psíquica. O enfoque pioneiro junguiano postula, além da mera cura, um processo de individuaçãoque possa conduzir o indivíduo, através de uma via interior e num movimento de circunvolução, da periferia do ego para a centralidade do Self, que é a instância psíquica de onde emana a real compreensão.
Na teoria fundamental da Universidade Internacional da Paz, UNIPAZ, desde o seu evento deflagrador, o I Congresso Holístico Internacional - I CHI, que realizamos em Brasília (1987), esta concepção das funções psíquicas nos orientou, encontrando-se, também, no cerne de nosso consagrado projeto transdisciplinar, com mais de vinte anos de fecunda prática, da Formação Holística de Base – FHB.
Como constata o próprio Morin, não necessitamos pregar a paz, já que todos sabem da sua importância como o único caminho para evitarmos os horrores da guerra. O que realmente urge é uma pedagogia da compreensão humana. Em última instância, educar para a paz é educar para a compreensão. Como? Deparamo-nos, aqui, com a necessidade de uma educação integral, que concilie a dimensão do saber com a do ser.
Falando de outro modo, a compreensão é uma expressão natural da convergência do saber com o ser. Não compreendemos apenas com o saber e nem apenas com o ser. Eis uma aliança perdida, que necessitamos resgatar. Como afirma Ubiratan D’Ambrosio, trata-se de evoluir da arrogância do saber para a humildade da busca. A autêntica busca solicita a elegância da douta ignorância do não saber. Saber não saber, eis a questão! A arte transdisciplinar consiste no equilibrar o saber com o não saber, o aprender com o desaprender, o adquirir conhecimentos com o esvaziar-se do conhecido, o pensar com o não pensar, a reflexão com a contemplação, a palavra com o silêncio...
O paradigma cartesiano do racionalismo científico, que se caracteriza, segundo Morin, pela disjunção, redução e abstração, centrado exclusivamente no saber, foi muito competente para desenvolver uma sofisticada tecnociência que se encontra, infelizmente, desconectada do hemisfério do ser, de onde emanam os valores de uma ética essencial. E sabemos muito bem as conseqüências de uma tecnologia poderosa e desorientada, da ciência sem consciência, da efetividade sem afetividade. Este é o imenso valor de um documento de base da própria UNESCO (1992) que propõe, sustentada na pesquisa e no relatório de Jacques Delors, os quatro pilares de uma nova educação transdisciplinar: educar para conhecer, educar para fazer, educar para conviver e educar para ser. Com os modelos pedagógicos convencionais, de modo fragmentado, temos educado apenas para o conhecer e para o fazer. O imenso e estimulante desafio, que tem a ver diretamente com a questão da compreensão, é educar para conviver – viver consigo, com o outro, com os outros, com a natureza – e, sobretudo, educar para ser.
Holologia e Holopráxis
A célebre Declaração de Veneza (1986), documento redefinidor que resultou de um colóquio organizado pela UNESCO, centrada no tema, A ciência face aos confins do conhecimento: o prólogo de nosso passado cultural, no seu segundo artigo afirma: “O conhecimento científico, por seu próprio movimento interno, chegou aos confins, onde pode começar o diálogo com outras formas de conhecimento. Neste sentido, reconhecendo as diferenças fundamentais entre a ciência e a Tradição, constatamos não a sua oposição, mas a sua complementaridade. O encontro inesperado e enriquecedor entre a ciência e as diferentes Tradições do mundo permite pensar no aparecimento de uma nova visão da humanidade, até de um novo racionalismo, que poderia levar a uma nova perspectiva metafísica”.
Apontando para esta mesma direção, Morin postula uma racionalidade autocrítica e aberta, capaz de integrar aspectos do que outras culturas não européias desenvolveram e que foram atrofiados no Ocidente, de modo a reparar o ativismo, o pragmatismo, o “quantitativismo” e o consumismo. Mas também salvaguardar, regenerar e disseminar o melhor da cultura ocidental: a democracia, a proteção individual e os direitos humanos.
Pierre Weil, para fazer frente a esta lúcida convocação, desenvolveu dois conceitos complementares, que são fundamentais nesta tarefa premente de integrar o hemisfério do saber ao do ser: o de holologia e o de holopráxis. Holologia refere-se à via racional, de estudo, reflexão crítica e de experimentação do paradigma holístico, destinado à dimensão do saber, enquanto a holopráxis consiste no caminho vivencial, de despertar para a visão holística, através de práticas provenientes das Tradições sapienciais, do Oriente e do Ocidente, visando à dimensão do ser.
Apresentamos a integração destas duas vias complementares já no citado I CHI. A holologia, através das conferências, simpósios e sessões de temas livres. A holopráxis, através de espaços vivenciais, facilitados por representantes de diversas Tradições ocidentais e orientais. Da mesma forma, estes dois métodos encontram-se presentes na FHB e em todos os programas e projetos da UNIPAZ, pois é o seu exercício conjugado que abre caminho para a compreensão humana que, por sua vez, é a via direta para a paz.
Método analítico e sintético
Para a elucidação do processo da compreensão, considero imprescindível um aprofundamento na reflexão metodológica envolvida. O que me remete a uma pesquisa, que desenvolvo há mais de duas décadas, no contexto clínico e educacional, sobre a sinergia de dois caminhos de apreensão da realidade: o da análise e o da síntese.
Todos nós, ocidentais, fomos condicionados para a análise, já que o método analítico encontra-se no cerne do paradigma da modernidade, que representou um resgate necessário, compensatório e iluminista, da razão crítica, cuja grande contribuição, no século XVII, foi a de ter evidenciado a consciência dual de diferenciação.
Esboçando um breve resumo, o método analítico é um importante fruto do racionalismo científico, que se ergueu como saudável e necessária resposta ao momento decadente de um indiferenciado obscurantismo medieval, que fazia uma simbiose perversa entre religião e ciência, sob a tirania da Inquisição. Focaliza a parte, buscando as unidades constitutivas, atuando como eficiente bisturi retalhador de totalidades. Diz respeito ao conceito grego de diabolos, o que divide. Gerou o enfoque disciplinar de onde é modelado o especialista, caracterizado pela tendência reducionista e unilateralidade de visão e de ação. A sua base é somática, substancialista. Fundamenta-se nas funções psíquicas do pensamento e da sensação. Sustentado na física mecânica, inclinou-se para um enfoque mecanicista e o seu realismo clássico, que destaca a continuidade, a simplicidade, a causalidade local e a objetividade. Caracteriza-se pelo aspecto quantitativo, perseguindo o ideal da codificação matemática. Conforma a base da identidade egóica, de cunho pessoal. Parte da lógica linear da causalidade local, prescrevendo a existência de leis necessárias e gerais, que engendram o determinismo, com pretensão de controle e de previsibilidade. Veste o aparamento sofisticado da exatidão. É progressivo e acumulativo. Parte de uma atitude básica extrovertida, afirmando-se como excelente instrumento de estudo e de exploração do espaço exterior. Tem como meta ideal a objetividade e a isenção valorativa, excluindo o sujeito do campo da ciência. Sua vocação é experimental: seu produto típico é gerado em laboratórios sofisticados com manipulação impecável de variáveis. Seu substrato metafórico neurofisiológico – levando em conta a interconexão cerebral – é o hemisfério dominante, geralmente o esquerdo, da racionalidade, predição e também da angústia humana. Caracteriza a mentalidade típica do ocidental. Postula uma função explicativa: objetiva explicar ativamente o universo. Denominamos de analista ao agente deste método clássico.
Após o grande avanço do Iluminismo do século XVIII, este método iniciou a dar mostras de um esgotamento e de insuficiência, tornando-se fonte de cada vez mais visíveis contradições. Como afirmou Ken Wilber o que era consciência de diferenciação e espírito científico no século XVII degenerou-se, no século XIX, em dissociação e cientificismo. Esta via, trilhada exclusivamente, nos conduziu ao que denomino de uma síndrome de analisicismo, caracterizada por sintomas como os da fragmentação, dissociação, desvinculação, perda de valores fundamentais e de uma atrofia da subjetividade, da intersubjetividade, enfim, da própria interioridade. Como afirmava G. K. Chesterton, o pior louco é o que perdeu tudo, exceto a razão.
Coube ao gênio do filósofo alemão, Wilhelm Dilthey, no século XIX e início do XX, demonstrar a necessidade de outro método, além do analítico. Denunciando as contradições do caminho reducionista científico-natural, na sua teoria da compreensão expressiva, Dilthey fundamenta as ciências do espírito, posteriormente designadas de ciências humanas, afirmando o ser humano como uma unidade, muito além de um conglomerado de átomos. Transcendendo o positivismo, na sua proposta histórico-biográfica, Dilthey prescreve dois caminhos: o da descrição da vida e o dacompreensão da vida por si mesma. “A natureza se explica, a alma se compreende”, bradava o filósofo, afirmando a vida como um mistério insondável, suscetível de ser compreendida por si mesma, como um ritmo todo-e-parte, que pode ser vivenciado, o que desvela significados – mas não explicado. Segundo Christine Delory-Momberger, afirmando a diferença radical que constitui o sujeito humano, Dilthey desenvolveu, contra os métodos analíticos e generalizantes do positivismo sociológico, uma epistemologia fundada sobre o reconhecimento do humano pelo humano, ou seja, sobre a experiência vivida e a compreensão, sendo que o ser humano e a sociedade encontram-se numa relação de inclusão e de ação recíprocas. Tendo consolidado as bases da atual abordagem biográfica, Dilthey considerava a autobiografia como um paradigma de inteligibilidade, a forma mais elevada e instrutiva, a partir da qual se manifesta, para nós, a compreensão da vida.
Seguindo-se a contribuição singular e marcante de Dilthey, outras significativas vozes se levantaram, clamando pela síntese. Jan Smuts, no seu enfoque evolutivo, desvelou o conceito de holismo, definido como um princípio único, organizador de totalidades e criador de conjuntos, num Universo que é sintético, vital e criativo. Carl G. Jung desenvolveu uma interpretação de sonhos em nível do sujeito, denominando-a sintética. Roberto Assagioli desenvolveu uma psicossíntese. Viktor Frankl criou a sua escola de Logoterapia, suportada numa metodologia sintética. Karlfried Graf-Durckhein fundou a terapia iniciática, prescrevendo o que denominava de exercício - uma prática meditativa, de natureza sintética -, para que a essência possa transparecer na existência. Ramon Soler fundou, na Argentina, uma Universidade de Síntese, na qual o método da síntese é também uma via de integração humana. O sábio hindu J. Krishnamurti cuja vida e obra, dedicadas absolutamente ao essencial, mereceu um significativo destaque na abordagem transversal de René Barbier, pode ser considerado um símbolo vivo de encarnação da síntese.
Resumindo, o método sintético delineou-se no final do século XIX, como uma resposta à crise de fragmentação, de dissociação, de desvinculação, enfim, de desumanização. Focaliza a totalidade, a interconexão, a forma, o contexto, visando o processo de vinculação e de unificação. Sua tendência é amplificadora e integrativa. Diz respeito ao conceito grego, oposto ao do diabolos, de symbolos, o fator que religa e restabelece a inteireza. Valorizando a visão inclusiva e global, encontra-se na base do ideal do generalista. É uma via qualitativa, que se indica mais por uma linguagem mitopoética e arquetípica. Fundamenta-se nas funções psíquicas do sentimento e da intuição. Parte de um espaço de indeterminismo, de liberdade e de responsabilidade. A sua base é psíquica e noética. Enfatiza a participação e a singularidade. Ocorre na instantaneidade, no salto abrupto, no insight: é não-cumulativo. Através de uma lógica da simultaneidade, abre-se para o universo aberto da sincronicidade, as coincidências significativas ou princípio de conexões acausais, da transcausalidade, de acordo com a pesquisa junguiana. Reveste-se de tecido vivo, flexível, impreciso, desapegado da exatidão. Amplia-se no aspecto descritivo e biográfico. Guia-se por uma visão introspectiva que descortina e investiga o espaço interior. Abre-se para o além do ego, para a consciência transpessoal. Sustenta-se na microfísica e no realismo quântico, caracterizado pela descontinuidade, princípio de superposição, não-separatividade, não-localidade e indeterminismo. Assume um caráter consciencial subjetivo, a intersubjetividade e os valores. Focaliza a finalidade, o significado, o sentido. Sua vocação é experiencial: seu produto típico é fruto do laboratório vibrante da vivência humana. Seu substrato metafórico neurofisiológico é o hemisfério cerebral não dominante, geralmente o direito, da gestalt, da musicalidade, da poesia e da mística. Caracteriza a mente clássica do oriental. Não se distingue do sujeito. Exerce uma função compreensiva e de comunhão participativa. Denomino de sintetista ao agente deste caminho de apreensão da realidade.
Relaciono, de forma sumária e indicativa, no esquema abaixo, as características básicas do método analítico e do método sintético:
Método Analítico
Reação ao dogmatismo e obscurantismos medieval
Ênfase na parte
Texto
A serviço da decomposição: diabolos
Funções psíquicas: pensamento e sensação
Especialista
Via quantitativa
Causalidade: determinismo
Lógica linear da sucessividade
Base somática, substancialista
Pessoal
Codificação matemática
Geral, regularidade
Progressividade, acumulação
Espaço exterior: objeto
Controle
Experimental
Macrofísica
Realismo clássico
Metáfora do hemisfério esquerdo
Mente ocidental
Função explicativa
Dois da dualidade
Holologia
Analista
Método Sintético
Reação ao positivismo e analisicismo moderno
Ênfase na totalidade
Contexto
A serviço da religação: símbolos
Funções psíquicas: sentimento e intuição
Generalista
Via qualitativa
Transcausalidade: sincronicidade
Lógica global da simultaneidade
Base psíquica e noética
Transpessoal
Codificação mitopoética, arquetípica
Singular, biográfico
Instantaneidade, não-acumulação
Espaço interior: sujeito
Participação
Experiencial
Microfísica
Realismo quântico
Metáfora do hemisfério direito
Mente oriental
Função compreensiva
Um da unidade
Holopráxis
Sintetista
Arte da integração: o três
É fundamental sublinhar que o método analítico e o sintético não se encontram na relação de antagonismo e, sim, na de complementaridade. O conceito de complementaridade advém da quântica, tendo sido proposto por Niels Bohr, para solucionar o paradoxo partícula-onda, da microfísica. O mesmo pode ser aplicado ao paradoxo metodológico análise-síntese. Uma ênfase unilateral na análise nos conduz ao reducionismo enquanto, na síntese, nos leva ao totalitarismo, extremos equivocados, que precisamos evitar. Gosto de representar o valor inestimável desta heurística sinergia metodológica com o símbolo do infinito aliando, numa dinâmica de interações constantes e paradoxais, o método analítico e o sintético:
Arthur Koestler, sustentando que parte e todo inexistem no domínio da vida, conciliou o atomismo com o holismo, através do seu conceito dehólon – onde holos se refere ao todo e on à parte – referindo-se a um sistema aberto e auto-regulável que apresenta, ao mesmo tempo, propriedades autônomas de um todo e dependentes de uma parte. No seu enfoque, o organismo é considerado como uma hierarquia multinivelar de subtodos, dotados de autonomia relativa.
O símbolo koestleriano para hólon é uma divindade da mitologia romana, Jano, que portava duas faces, voltadas em sentido contrário: uma para frente, representando o futuro e a outra mirando para trás, simbolizando o passado. Assim também cada subtodo, inserido numa escala em ordem ascendente de complexidade possui uma face do “todo”, voltada para os níveis subordinados, enquanto a outra face, voltada para o ápice, é a de uma “parte” dependente.
“Homem algum é uma ilha: cada ser humano é um hólon. Uma entidade bifronte como Jano que, olhando para o seu interior vê-se como um todo único e completo em si mesmo e, olhando para fora, vê-se como uma parte dependente. A sua tendência auto-afirmativa é a manifestação dinâmica de sua condição de todo único, da sua autonomia e independência como hólon. A tendência antagônica, também universal, que é integrativa, expressa a sua dependência do todo maior que integra a sua condição de parte”, afirma Koestler.
Falando de outro modo, há duas tendências básicas na natureza viva: uma de diferenciação e outra de fusão. A de diferenciação é auto-afirmativa, uma força centrífuga que impulsiona para a diferença, a singularidade. A de fusão é integrativa, uma força centrípeta que impulsiona ao pertencimento, à interconexão. A tarefa da saúde é a de manter um equilíbrio sinergético entre essas duas dinâmicas, já que o excesso de diferenciação conduz à patologia do individualismo excluidor e do isolamento. Enquanto o excesso de fusão determina a alienação da simbiose e do absolutismo.
Em convergência, Martin Buber afirma que o duplo movimento de separação e relação define o princípio da vida humana e que só ocorre a relação autêntica quando o outro é colocado na distância justa, para que seja possível o Eu-Tu. Caso contrário, ficamos condenados a uma relação objetal e redutora, que Buber denomina de eu-isto.
Assim, necessitamos da sinergia entre o método analítico – de diferenciação – e o sintético – de fusão. Nem um, nem dois, não mesclar, não separar: eis um princípio transdisciplinar, que solicita o três.
A riqueza do três é a de conter, em si, o um da fusão e o dois da diferenciação. Falando na metáfora do substrato neurofisiológico, o exercício salutar e sábio da integração respalda-se no corpo caloso, que liga os dois hemisférios cerebrais, o da análise e o da síntese. O que a Tradição sapiencial simboliza como a terceira visão ou o chifre do unicórnio. Por esta razão, Carl Sagan afirma que o futuro da educação depende do corpo caloso. Podemos acrescentar: também o da compreensão!
O Tao da compreensão
Lao Tsé afirmava que o alto descansa no profundo. Parodiando o sábio taoista, podemos afirmar que a síntese descansa na análise. O todo descansa na parte, o céu descansa na terra, as asas descansam nas raízes...
Na sua obra, Edgar Morin insiste muito num pensamento de Pascal, uma verdadeira pérola da visão holística: “Todas as coisas sendo causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas e todas se entrelaçando umas às outras, por um laço natural e insensível que liga as mais distantes e as mais diferentes, acho impossível conhecer as partes sem conhecer o todo; também acho impossível conhecer o todo sem conhecer as partes.
O sábio e inspirador conceito do Tao, da Tradição chinesa, indica a integração do princípio masculino Yang com o feminino Yin, numa simbólica de interpenetração dos contrários e de harmoniosa transcendência dos opostos. Podemos considerá-lo um símbolo do caminho que conduz à compreensão.
Por outro lado, uma pedagogia da compreensão solicita, de forma imperiosa, a ciência e arte da hermenêutica, sobretudo através do resgate da inteligência simbólica. Inteligência advém de 'inteligere', que significa ler dentro - das letras, dos fatos, das vivências. É esta leitura simbólica que nos permite superar a estupidez normótica de certo literalismo simplista de superfície, fonte dos fundamentalismos e fanatismos tão atuais, não apenas religiosos, mas também ideológicos, mercadológicos, pedagógicos, entre outros. É a hermenêutica que possibilita a necessária apreensão e compreensão da pluralidade de significados e sentidos inerentes a cada fenômeno, a cada crise, a cada vivência.
A capacidade de interpretar vai além do exercício analítico da explicação, incluindo a via sintética, que sonda o sutil e o interior, capaz de extrair uma polissemia de sentidos implicada em cada experiência humana. É também a interpretação que nos eleva da condição de objeto de fatos e de circunstâncias, para o estatuto de sujeito da própria existência, dotado do dom da liberdade. Não somos livres com relação ao que nos acontece; nossa liberdade consiste naquilo que fazemos com o que nos acontece, o que solicita uma arte da escuta que, além da mera audição é, também, interpretação. Um sujeito habilitado no exercício de interpretar, no sentido amplo e transdisciplinar, é também capaz de superar os mais árduos desafios existenciais. Pois a única crise destrutiva que pode ser fatal é aquela, para a qual, não conseguimos extrair nenhum sentido, pela incapacidade de escuta e de hermenêutica.
Os grandes mestres e educadores da humanidade sempre nos alertaram para o perigo do julgamento, que se encontra na fonte de tantos conflitos e dilaceramentos. A compreensão é um eficaz antídoto deste destrutivo jogo bélico de poder, pois quem compreende não julga. O julgamento é o fracasso da escuta e da compreensão.
Edgar Morin afirma, de forma lúcida e ousada, a missão espiritual da educação, na tarefa intersubjetiva de ensinar a compreensão, através das virtudes conjugadas da abertura, da simpatia e da generosidade. Trata-se de uma arte de viver com solidariedade intelectual e moral e com dialogicidade, capaz mesmo de compreender a incompreensão, sem complacência nem acusação, a serviço do homo sapiens demens, da metamorfose e da nossa comunidade de destino.
O Tao da compreensão é o da Aliança entre o saber e o ser. Uma utopia realizável, um caminho para a Paz.
Roberto Crema
*Paper da palestra centrada na compreensão, proferida na Conferência Internacional sobre os SETE SABERES PARA A EDUCAÇÃO DO PRESENTE, do Edgar Morin, ocorrido em Fortaleza, Brasil, de 21 a 24 de setembro de 2010 (UNESCO, UEC, UCB).
Fonte:
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Crenças
As crenças do subconsciente estabelecem os limites do que você pode ser, ter ou fazer.
O que se entende por crença?
As convicções são as certezas, tudo o que acreditamos ser verdadeiro. Nossas crenças são o fundamento da nossa personalidade e aquilo que alcançamos em nossas vidas. Elas nos definem com valor ou sem valor, poderoso ou fraco, competente ou incompetente, confiante ou não, seguro de nós mesmos ou dependentes, flexível ou rígido, amado ou odiado. Nossas crenças têm consequências de longo alcance em nossas vidas, tanto positivas como negativas.
Nossas crenças afetam o nosso humor, nossas relações, nosso desempenho no trabalho, autoestima, saúde, e até mesmo a nossa perspectiva religiosa ou espiritual. Mas o que você precisa considerar é que existem crenças conscientes – (racional) da qual temos consciência – e subconscientes - o que é (instintivo) ou inconsciente. Crenças conscientes são todas aquelas certezas que tanto acreditamos. As crenças subconscientes são aquelas verdades escondidas, no sentido de que não estamos cientes de que fazem parte de nós mesmos e de quanto influenciam nossas vidas.
Estudos em neurociência indicam que 95% do nosso comportamento depende do nosso subconsciente. Isso significa que se eu tiver uma convicção subconsciente incongruente à consciência, o meu comportamento e minhas atitudes serão influenciadas pela minha convicção subconsciente. Por exemplo: eu conscientemente digo posso confiar nas pessoas, mas a convicção subconsciente com relação a esse argumento é que eu não posso confiar nas pessoas. Assim, o resultado é que mesmo que eu desejo acreditar nas pessoas, eu não posso fazer isso, ou eu tenho que fazer um enorme esforço para fazê-lo.
Mas de onde derivam as crenças subconscientes?
As crenças subconscientes são muitas vezes o resultado de uma "programação" que dura uma vida inteira e influenciam o comportamento humano de forma incisiva. As crenças subconscientes são derivadas das experiências emocionalmente carregadas positiva ou negativamente que vivemos em nossas vidas. Quando algo ruim acontece conosco e sentimos uma grande angústia emocional, o nosso corpo envia uma mensagem para a mente, através dos cinco sentidos, de quanto a situação era particularmente desagradável. Para que a nossa mente possa lidar com a situação negativa ou desagradável e permitir a sobrevivência emocional ou física da pessoa, deve colocar em pratica um comportamento chamado resgate para conseguir superar esta situação. Quando a mesma situação negativa é repetida várias vezes, nossa mente sempre usará o comportamento de resgate que funcionou, e continuará usando em todas as situações semelhantes, mesmo que o comportamento não seja mais funcional ou necessário.
Imagine uma pessoa que viveu uma situação onde alguém a tratou agressivamente e o comportamento de resgate que foi posto em prática por essa pessoa para se proteger da situação que estava se fechando em si mesmo, a silêncio, se não, talvez a culpa do comportamento agressivo dos outros. Através desta reação de "resgatar" um nível subconsciente, que a pessoa pode desenvolver crenças negativas, tais como: eu não sei me defender, outros querem me machucar, se alguém está com raiva de mim é sempre minha culpa. Embora esse comportamento possa ser útil nessa situação, para salvar-se fisicamente ou emocionalmente, a pessoa possui grande dificuldade em gerir a agressividade dos outros e ainda se sentir bem sobre si mesma quando está nestas situações.
Outro exemplo é uma pessoa que na infância sempre foi considerada medíocre pelos outros (pais, professores, parentes). Para superar esta situação difícil, a criança pode aplicar diferentes comportamentos de resgate, como sendo derrotista, ou um desafiador para provar quem ele é realmente. Mais uma vez o comportamento de resgate pode ter sido útil nessa situação, mas no momento em que ele vem aplicado em todas as situações similares, pode tornar-se um comportamento negativo para o bem-estar da pessoa. Em um nível subconsciente essa pessoa poderá desenvolver crenças negativas sobre si mesmo, tais como: eu nunca vou alcançar as metas, eu tenho que trabalhar duro para conseguir algum resultado, os outros são sempre melhores do que eu, eu não valho o suficiente.
Sabemos que existem outras maneiras de lidar com as críticas, mas podemos usá-las eficazmente se sentirmos não só a mente, mas também com os nossos corações - nosso subconsciente - que possuímos valor como pessoa. Esta é a origem das crenças subconscientes que nos guiam em nossas vidas. Então o que acredita o nosso subconsciente tem mais efeito sobre nossa vida, nosso comportamento do que se acredita de forma consciente e racionalmente. Assim, podemos dizer que a nossa realidade, nosso jeito de ser é um reflexo de nossas crenças subconscientes. A mente subconsciente é o "depósito" onde estão as nossas atitudes, nossos valores e crenças.
A partir de nossas convicções criamos a nossa percepção do mundo e de nós mesmos e, a partir dessas percepções desenvolvemos o nosso comportamento em relação a nós mesmos e do mundo. Enquanto nós estamos conscientes de que desejamos parar de fumar, mas para nossa mente subconsciente não é uma boa idéia - e com certeza existe um bom motivo que mantêm essa crença no nosso subconsciente! Eu imagino que na época em que eu fumava cigarros e eu me senti forte, calmo, feliz, satisfeito, - o resultado será que meu subconsciente não concorda com a minha parte racional e consciente.
Normalmente, nós queremos mudar o comportamento de auto-sabotagem. Uma forma eficaz de mudança de comportamento é mudar as crenças subconscientes que lhes dão suporte.
Mas é possível mudar as nossas crenças subconscientes, de modo que nos permita ser quem e como queremos ser?
Existem formas e meios que nos fornece uma gama de métodos para identificar e transformar as crenças que nos "sabotam" para crenças que nos "apóiam" em qualquer área das nossas vidas. Muitas pessoas mantêm crenças subconscientes limitantes na área da prosperidade financeira, auto-estima, saúde e corpo, tais como perda de peso, bem como nas áreas de relacionamentos e carreiras. Há ferramentas eficazes que permitem que as crenças do nosso subconsciente se alinhem com os nossos objetivos e desejos conscientes.
Através do Equilibrio dos Hemisférios Cerebrais podemos acessamos o subconsciente e transformarmos as crenças sabotadoras em apoiadoras.
Mantenha suas crenças positivas porque...
Suas crenças tornam-se seus pensamentos,
seus pensamentos tornam-se suas palavras,
suas palavras tornam-se suas ações,
suas ações tornam-se seus hábitos,
seus hábitos tornam-se seus valores
e seus valores tornam-se seu destino.
Mahatma Gandhi
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Bruce Lipton / A Biologia do Pensamento / A Biologia da Crença
O cientista Bruce Lipton, que ajudou a revolucionar a biologia, ao examinar as reações químicas nas células apoiado na física quântica, afirma que é a mente que modela a vida das pessoas.
Um respeitado pesquisador de células-tronco, o norte-americano Bruce Lipton rompeu as fronteiras da biologia tradicional ao incorporar a ela conceitos da física quântica. Idéias surgidas a partir dessa ótica, como a equivalência da membrana celular ao "cérebro" das células e o controle que o ambiente exerce sobre as células a partir de suas membranas, confirmam a íntima relação mente-corpo e indicam como podemos usar os pensamentos para assumir o controle de nossa vida. Lipton relata sua extraordinária trajetória em "A Biologia da Crença", tema da entrevista a seguir.
PLANETA - O que é a "nova biologia" a que o senhor se refere em seu livro?
Bruce Lipton - Quando introduzi esses conceitos, em 1980, quase todos os meus colegas cientistas os consideraram inverossímeis. Mas a profunda revisão que a biologia convencional tem feito desde aquela época a leva hoje às mesmas conclusões a que cheguei 25 anos atrás.
Os cientistas sabem que os genes não controlam a vida, mas a maior parte da imprensa ainda informa ao povo o contrário. As pessoas atribuem inicialmente suas deficiências e doenças a disfunções genéticas. As crenças sobre os genes levam-nas a se ver como "vítimas" da hereditariedade.
Os biólogos convencionais ainda consideram que o núcleo (o componente interno da célula que contém os genes) "controla" a vida, uma idéia que enfatiza os genes como o fator primário desse controle. Já a nova biologia conclui que a membrana celular (a "pele" da célula) é a estrutura que primariamente "controla" o comportamento e a genética de um organismo.
A membrana contém os interruptores moleculares que regulam as funções de uma célula em resposta a sinais do ambiente. Para exemplificar: um interruptor de luz pode ser usado para ligá-la ou desligá-la. O interruptor "controla" a luz? Não, já que ele é controlado pela pessoa que o aciona. Um interruptor de membrana é análogo a um interruptor de luz quando liga ou desliga uma função celular, ou a leitura de um gene - mas ele é, de fato, ativado por um sinal do ambiente. A nova biologia enfatiza o ambiente como o controle primordial na biologia.
Sua teoria também está relacionada à física quântica...
Pela medicina convencional, os "mecanismos" físicos que controlam a biologia se baseiam na mecânica newtoniana, a qual enfatiza o reino material (átomos e moléculas). Já a nova biologia considera que os mecanismos da célula são controlados pela mecânica quântica. Ela se concentra no papel das forças de energia invisíveis que formam, coletivamente, campos integrados e interdependentes.
Para a mecânica quântica, as forças invisíveis em movimento nos campos são os fatores fundamentais que modelam a matéria. Os cientistas também reconhecem que as moléculas do corpo são controladas por freqüências de energia vibracional, de forma que a luz, o som e outras energias eletromagnéticas influenciam profundamente todas as funções da vida.
Entre as forças energéticas que controlam a vida estão os campos eletromagnéticos gerados pela mente. Na biologia convencional, a ação da mente não é incorporada à compreensão da vida. Por isso, é uma surpresa a medicina reconhecer que o efeito placebo responde por pelo menos um terço das curas médicas, incluindo cirurgias. Ele ocorre quando alguém sara devido à sua crença de que um remédio ou procedimento médico vai curá-lo, mesmo se o medicamento for uma pílula de açúcar ou o procedimento for uma impostura.
A nova biologia ressalta o papel da mente como o fator primordial a influenciar a saúde. Nessa realidade, uma vez que controlamos nossos pensamentos, tornamo-nos mestres de nossa vida, e não vítimas dos genes.
Em que a nova biologia difere do darwinismo?
Ela frisa que a evolução não é conduzida pelos mecanismos sublinhados na biologia darwiniana. A teoria de Darwin oferece dois passos básicos para explicar como a evolução ocorreu:
- mutação aleatória, a crença de que as mutações genéticas são randômicas e não influenciadas pelo meio ambiente - a evolução é conduzida por "acidentes";
- seleção natural, na qual a natureza elimina os organismos mais fracos numa "luta" pela existência, na qual há vencedores e perdedores.
Em A Biologia da Crença, Lipton (alto) explica a íntima relação entre mente e corpo e o poder do pensamento na cura.
Novas descobertas oferecem uma imagem diferente. Em 1988, uma pesquisa revelou que, quando estressados, os organismos têm mecanismos de adaptação molecular para selecionar genes e alterar seu código genético. Ou seja, eles podem mudar sua genética em resposta a experiências ambientais. Outros estudos mostram que a biosfera (todos os animais e plantas) é uma gigantesca comunidade integrada que se baseia em uma cooperação das espécies. A natureza não se importa com indivíduos numa espécie, mas com o que a espécie como um todo está fazendo para o ambiente.
Segundo a nova biologia, a evolução:
- não é um acidente;
- baseia-se em cooperação.
Uma teoria mais recente sobre o tema ressaltaria a natureza da harmonia e da comunidade como uma força motriz por trás da evolução.
Como o senhor concluiu que podemos comandar e mudar nossas células e genes?
Minhas primeiras idéias científicas basearam-se em experiências que comecei em 1967, usando culturas de células- tronco clonadas. Nesses estudos, células geneticamente idênticas foram inoculadas em três placas de cultura, cada qual com um diferente meio de crescimento. Em uma placa, as célulastronco se tornaram músculo; em outra, células ósseas; na terceira, células de gordura. Meus resultados, publicados em 1977, revelam que o ambiente controlou a atividade genética das células.
Esses estudos mostram que os genes propiciam o surgimento de células com "potenciais", os quais são selecionados e controlados pela célula a partir de condições ambientais. As células ajustam dinamicamente seus genes de forma que eles possam adaptar-se às demandas do ambiente.
Mais tarde, descobri que a membrana celular equivalia ao cérebro da célula. No desenvolvimento humano, a pele embriônica é a precursora do cérebro. Nas células e no ser humano, o cérebro lê e interpreta a informação ambiental e então envia sinais para controlar as funções e o comportamento do organismo.
Quem está no comando do nosso corpo?
Nas primeiras semanas do desenvolvimento do embrião, os genes basicamente controlam o desenvolvimento do plano corporal de um humano (criam dois braços, duas pernas, etc.). Uma vez que o embrião toma a forma humana (torna-se um feto), os genes assumem uma posição secundária, controlando o desenvolvimento do corpo pela informação ambiental. Durante esse período, a estrutura e a função do corpo fetal são ajustadas em resposta à percepção do ambiente da mãe, que, via placenta, influencia a genética e a programação comportamental do feto.
A "leitura" dos sinais ambientais (no útero e após o nascimento) capacita as células do corpo e seus genes a fazer ajustes biológicos para sustentar a vida. Como os sinais ambientais são lidos e interpretados pelas "percepções da mente", a mente se torna a força básica que, em última instância, modela a vida de uma pessoa.
Como os campos energéticos controlam a bioquímica do corpo?
As funções do corpo derivam do movimento das moléculas (basicamente proteínas). As moléculas mudam de forma em resposta a cargas eletromagnéticas ambientais. Influências físicas tais como hormônios e remédios podem oferecer essas cargas elétricas indutoras de movimento. Mas campos de energia vibracional harmonicamente ressonantes também fazem as moléculas mudar de forma e ativar suas funções. Enzimas de proteínas podem ser ativadas num tubo de ensaio por substâncias químicas e por freqüências eletromagnéticas, como ondas de luz.
Podemos evitar doenças enviando mensagens positivas para nossas células?
Só 5% das doenças humanas são relacionadas a defeitos genéticos de nascença. Portanto, 95% de nós nascemos com um genoma adequado a uma vida saudável. Para os doentes dessa maioria, a pergunta é: por que estamos tendo problemas de saúde? Reconhece-se hoje que o estilo de vida causa mais de 90% dos problemas de coração, mais de 60% dos casos de câncer e, talvez, todos os casos de diabete tipo 2. Quanto mais olhamos, mais vemos como nossas emoções, reações à vida, dieta pobre, falta de exercício e estresse modelam nossa vida. Como temos um controle significativo sobre nosso organismo, podemos reprogramar a saúde e a vida com nossas intenções. Se de fato soubessem como o seu organismo funciona, as pessoas poderiam influenciar sua saúde, e isso seria o melhor preventivo para a doença.
É possível remodelar nossos pensamentos mais profundos?
O problema é que não entendíamos como a mente trabalha. Temos duas mentes, a consciente e a inconsciente. Associamos a primeira à nossa identidade pessoal - é a mente pensante, racional. A mente subconsciente opera sem a supervisão da consciente - é a "mente automática". Se as crenças da mente subconsciente conflitarem com os desejos da mente consciente, quem ganhará? A resposta é clara: a mente subconsciente, pois ela é uma processadora de informações um milhão de vezes mais poderosa do que a outra e, como os neurocientistas revelam, opera em torno de 95% do tempo.
Pensávamos que se a mente consciente se tornasse cônscia de nossos problemas, automaticamente corrigiria quaisquer programas negativos descarregados na mente subconsciente. Mas isso não funciona, porque a mente subconsciente é como um gravador - ela grava comportamentos (os fundamentais, na maioria, são armazenados antes dos seis anos de idade) e, ao se apertar um botão, o programa será repetido incontáveis vezes (hábitos). Não existe uma "entidade" na mente subconsciente que "ouça" o que a mente consciente quer.
Pensamentos positivos funcionam quando a meta desejada é apoiada pelas intenções da mente consciente e pelos programas da mente subconsciente. Quanto a isso, existem três maneiras de mudar crenças velhas, limitantes ou sabotadoras na mente subconsciente: a meditação budista mindfulness, a hipnoterapia clínica e a chamada "psicologia da energia". Todos esses métodos são discutidos na seção "Resources" do meu site (www.brucelipton.com).
Revista Planeta
Por Mônica Tarantino e Eduardo Araia
Leia também:
http://sandralage.blogspot.com.br/2012/10/saude-o-corpo-e-um-espelho-de-nossas.html
http://sandralage.blogspot.com.br/2012/10/sistema-de-crencas-como-se-instalam-no.html
http://sandralage.blogspot.com.br/2012/08/o-cerebro-nao-diferencia-imaginacao-de.html
http://sandralage.blogspot.com.br/2012/03/rob-williams-psychology-of-change-1-of.html
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quarta-feira, 4 de julho de 2012
Como gerar energia de uma frustração?
Muitas vezes, assim que acordamos nossa mente busca responder à pergunta: Que dia é hoje? O que eu tenho que fazer? Se surgir em nós um sentimento de dever e obrigação, logo nos sentiremos pesados e cansados. Mas se houver em nós curiosidade e interesse em aproveitar este dia como uma oportunidade única, sentiremos ânimo e alegria.
Se observarmos nossa conversa interior assim que acordamos, poderemos nos dar conta de uma atitude paranóica, baseada no medo constante de que talvez não nos adequemos às situações, e que, portanto, seremos rejeitados ou punidos. Como essa atitude mental já se tornou um hábito, não nos damos conta do quanto nos fechamos na tentativa de nos proteger do mundo, caso as coisas não ocorram como nos programamos para elas.
Lidar com a vida tal como ela é nos exige coragem, abertura e disponibilidade para o desconhecido. Olhar a vida como uma grande oportunidade de crescimento é abandonar o medo de que as coisas não venham a funcionar como gostaríamos.
Às vezes, estamos demasiadamente introspectivos e nos fechamos para olhar para os fatos da vida tais como eles são. A ênfase excessiva no mundo interno pode nos impedir de ter uma comunicação saudável, aberta e relaxada com o mundo externo.
Abrir-se para o mundo significa aceitá-lo tal como ele se apresenta, e na grande maioria das vezes isso significa enxergar o que não gostaríamos de ver. Na tentativa de olhar para o mundo como gostaríamos que ele fosse, nos iludimos. O antídoto da auto-ilusão é reconhecer nossas frustrações como auto-enganos e simplesmente trabalhar com os fatos da vida com abertura e curiosidade em conhecê-los mais profundamente.
Quando enfrentamos os limites impostos pela realidade externa nos deparamos automaticamente com nossos limites internos.
A cada interferência externa, podemos nos dar conta onde estamos internamente. Como diz Judith Viorst em Perdas Necessárias: Sonhar é bom, mas não basta. Desejar algo é o começo de uma idéia, mas traduzi-la em realidade é lidar com os impedimentos e as frustrações ao coloca-la em prática. Equilibrar os sonhos com as realidades exige tempo. Podemos levar muito tempo para aprender que a vida é, na melhor das hipóteses, um sonho sob controle e que a realidade é feita de conexões imperfeitas.
Quando aceitamos tais imperfeições sentimos calma e serenidade. Este sentimento revela nosso senso de realidade: o equilíbrio que rege a percepção de nosso mundo interior em relação ao mundo exterior. Quanto maior for a sensação de sermos iguais dentro e fora de nós, mais poderemos desfrutar desta coerência geradora de confiança e bem-estar.
Não precisamos nos cindir. Podemos perceber a realidade externa ao mesmo tempo em que reconhecemos nossas necessidades e prazeres internos.
No entanto, quando nos tornamos vítimas de nossas frustrações, aumentamos as chances de repetí-las logo mais. Da próxima vez em que as coisas não acontecerem conforme sua expectativa, diga simplesmente: Ok, hoje não deu certo, mas o que eu posso aprender com isso agora mesmo? Lembre-se: o fracasso não existe. O fracasso é uma idéia, uma maneira momentânea de perceber a realidade sob um olhar estreito, imediatista e limitado.
Como dizem os ditados populares: 'Nada dá certo de primeira vez' ou 'Só quem errou muito é que tem chance de acertar'.
Podemos ouvir conselhos sábios e animadores, mas a capacidade de se auto-estimular é uma habilidade que temos que treinar todos os dias. Em geral somos pessimistas. Temos o hábito interno de nos lamentar. Se passássemos um dia gravando nossos pensamentos cotidianos, iríamos nos surpreender do quanto estamos familiarizados em nos desestimular. Como gatos escaldados, temos medo do sucesso. Desconfiamos da felicidade. O importante é lembrar: somente nós podemos nos estimular interiormente a superar os bloqueios interiores.
Os bloqueios interiores surgem quando somos dominados pela opinião alheia ou não assumimos nossa própria opinião como possível e verdadeira. É preciso se arriscar novamente para superar o condicionamento de um bloqueio. Susto só passa com susto. Ou seja, muitas vezes temos que nos ver repetidas vezes frente ao que tememos para reconhecer que já somos capazes de enfrentar tal situação.
Um antídoto para esse tipo de bloqueio é treinar-se para encontrar soluções sem pedir tantos conselhos. Podemos exercitar a sensação de gerar para nós mesmos o que necessitamos saber. Por exemplo, muitas vezes buscamos testemunhas no ato de nossas decisões, quando na realidade já tomamos nossa decisão. Outras vezes buscamos pessoas que estão tão pouco envolvidas com a questão em si, que suas opiniões pouco nos importam. Desta forma, nossa comunicação é unidirecional: não estamos abertos para escutar o que os outros têm para nos dizer, apesar de consultá-los.
Temos uma lição a aprender: sem autêntico engajamento interior, nada muda. Podemos nutrir a disposição interior para agir de verdade. Se nos treinarmos em pequenas situações, aparentemente sem importância, nossa mente estará apta a reagir positivamente quando necessitarmos uma força maior. Desta forma, o que quer que digamos para nós mesmos terá muita importância. Estaremos nos levando a sério e nos divertindo ao mesmo tempo.
Não temos porque deixar que as frustrações nos paralisem. Por de trás de cada frustração há uma nova intenção que espera por ser vista, organizada e expressa. Há um pensamento que pede por um novo olhar, um novo ajuste, uma nova ordem. O caos pode ser uma boa notícia, pois nos anuncia que algo novo está por vir, uma nova chance.
Bel Cesar
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Medos: Caminhos da Realização - dos medos do Eu ao mergulho no Ser / Por Jean-Yves Leloup
Os Medos de Jonas e os nossos medos
Maslow e a psicologia humanista fazem de Jonas o arquétipo do homem que tem medo da realização. O homem que foge da sua vocação, da sua palavra exterior ou dos acontecimentos numinosos. Alguns de nós encontramos esta outra dimensão em determinadas circunstâncias, não somente por uma palavra, mas na natureza, durante uma doença, após um acidente, através de uma experiência amorosa ou admirando uma obra de arte. Cada um sabe em que momento numinoso o tocou, o questionou, o inquietou, para convida-lo a se tornar um ser mais autêntico.
Antes de falar deste medo do numinoso e desta recusa provocada pelo convite à profundidade, a esta realização do Self por meio da superação do Eu, é preciso observar os diferentes medos que precedem este medo da transcendência.
O medo do sucesso
Em 1915, Freud observou, tratando as neuroses, um fenômeno inesperado em alguns de seus pacientes: o sucesso profissional provocava neles uma grande ansiedade. Freud explicou este fato através de um postulado: “Para algumas pessoas, o sucesso equivale a uma morte simbólica do genitor do mesmo sexo”. Quando conseguimos alguma coisa, temos medo de humilhar nossos pais.
Uma tal idéia vai criar, junto à ansiedade, um sentimento de culpa, produzindo um estado de melancolia que pode durar vários anos. Freud descrevia essas pessoas como aquelas a quem o sucesso destrói. Pelo medo de fazer melhor que os seus pais, de vencer onde eles não conseguiram, seja a nível profissional, seja a nível afetivo.
Este medo existe em crianças, mas frequentemente o encontramos em adultos também. Adultos que não se permitem ser felizes como casais porque na união de seus pais havia muito sofrimento ou adultos que se sentem culpados por ganhar dinheiro se em sua família não se ganha dinheiro.
Isso pode parecer curioso, porque nós sempre desejamos que nossos filhos sejam melhores do que nós fomos. É o que os pais geralmente dizem. Eles dizem... mas nem sempre dizem de todo o coração, pois se um filho torna-se mais rico ou mais feliz, ele lhes escapa, sai da família e inconscientemente (nós estamos na esfera do inconsciente, é claro) eles seguem seus filhos no mesmo estado social em que eles pararam e no mesmo estado de dificuldade afetiva em que eles pararam.
Enquanto o sucesso fica ao nível do sonho, do desejo, a neurose do sucesso não necessariamente se manifesta, mas desde que este sucesso se torna uma realidade, por exemplo, após uma promoção, pode ser que aquele que foi beneficiado não o suporte. Talvez vocês conheçam pessoas com este tipo de problema – que obtiveram uma promoção e, curiosamente, em vez de se alegrarem, adoeceram.
Freud dirá que as pessoas adoecem, porque um de seus sonhos, o mais profundo e duradouro, se realiza. Não é raro que o Ego tolere um sonho como inofensivo, enquanto sua existência for apenas uma projeção e que pareça nunca se realizar. É como quando sonhamos ter um homem ou uma mulher e, quando ele ou ela estão lá, nós achamos nosso sonho improvável e o ignoramos.
O Self pode, entretanto, defender-se arduamente desta situação, desde que a realização se aproxime e a concretização seja uma ameaça. Eu creio que este estudo é muito interessante porque existem entre nós muitas pessoas que sonham, que idealizam o sucesso, a plenitude. No entanto, por que estes sonhos jamais se realizam? Eu conheço homens e mulheres muito inteligentes que se organizam sempre e de tal maneira que fracassam em seus exames quando têm capacidade de vence-los. Por que? É o que nós chamamos de neurose do fracasso. No momento em que vamos vencer, no momento em que nosso sonho vai se realizar, inconscientemente nos arranjamos para falharmos. Podemos observar este mecanismo em algumas pessoas como um processo muito doloroso e incompreensível.
Neste contexto, poderíamos dizer que Jonas recusa a voz interior do Ser que o chama, que o chama para que se supere, porque desta maneira ele superará seu pai. Esta é uma explicação edipiana da neurose do fracasso. Tememos o sucesso e suas repercussões, pelo medo de ultrapassarmos nossos pais, seja em felicidade, em educação, em fortuna ou em status. Podemos, assim, nos tornarmos uma ameaça para nossos pais e sermos rejeitados por eles. Vocês percebem que é sempre a presença desta criança em nós que tem medo de não ser amada, que tem medo de não ser reconhecida.
Freud dá, igualmente, o exemplo de um professor universitário que durante muitos anos aspirara à cátedra do seu mestre. Quando seu sonho se realizou, pela aposentadoria do seu mestre, ele foi invadido por uma depressão da qual só saiu depois de longos anos.
Um psicólogo como Fenichel verá, como uma causa profunda do medo de vencer, o sentimento de indignidade. Temos, pois, de observar em nós a nossa relação com o sucesso. Nosso desejo do sucesso e nosso medo do sucesso. E neste medo do sucesso talvez esteja incluído um sentimento de indignidade – esta depreciação de si mesmo que talvez seja a herança de um certo número de julgamentos que nos foram dirigidos. Quando se repete a uma criança que ela nunca será nada, que ela não é inteligente ou que não sabe cantar, ela integrará esta programação. E se um dia ela chegar ao sucesso, inconscientemente, ela pensa que este sucesso não é justo.
Citando Finchel: “O sucesso pode significar a realização de alguma coisa imerecida, que acentua a inferioridade e a culpa. Um sucesso pode implicar não somente em castigo imediato, mas também em aumento de ambição, levando ao medo de futuros fracassos e de sua punição.”
Para Karen Horner, o medo do sucesso resulta do medo de suscitar inveja nos outros, com perda conseqüente do seu afeto. Alguns têm medo de vencer porque não querem que os outros sintam ciúmes dele, o que é muito arcaico. Os gregos expressavam isso da seguinte maneira: “Os deuses têm inveja do sucesso dos homens.” Porque eles consideravam que o sucesso dos homens retirava as suas prerrogativas.
A maioria dos primitivos pensa que muito sucesso atrai para o homem um perigo sobrenatural. Heródoto, em particular, vê em todos os lugares da história a obra da inveja divina. Quando os homens e mulheres são muito ambiciosos, atraem toda sorte de infelicidades. Só está seguro o homem que é obscuro. “Para viver feliz, viva escondido”, para viver feliz, viva deitado.
O medo da diferença
Neste momento reencontramos o arquétipo de Jonas. Talvez ele esteja buscando, através da sua fuga do chamado de Deus, o anonimato mais do que a afirmação da sua própria personalidade. É interessante observar nesta passagem, que alguns podem utilizar a mística, os ensinamentos espirituais para fugir da sua personalidade e regredir ao impessoal ao invés de supera-la. Neste aspecto, a espiritualidade pode servir de pretexto para fugir à afirmação do seu Eu.
Afirmar-se é afirmar-se como diferente. Afirmar-se diferente não quer dizer afirmar-se contra, mas afirmar-se no que temos de próprio, na missão particular que nos foi dada para servir a todos.
O que é pedido a Jonas é que ele não seja apenas um sábio que vive no anonimato de uma cabana no fundo do bosque, mas que seja também um profeta. O silêncio que está nele não é uma ausência de palavras, é a mãe da palavra. Antes de se calar, antes de saborear a beleza do silêncio, ele deverá dizer sua própria palavra.
Antes de chegar a este estado de não-desejo e não-medo, no cume do nosso “vir-a-ser”, do nosso tornar-se, neste estado de Paz integrada, devemos viver esse desejo. Só poderemos supera-lo após tê-lo realizado.
É preciso falar para ir além da palavra. É preciso desejar para ir além do desejo. Algumas vezes nós nos servimos da espiritualidade, nos refugiamos em um falso silêncio e em um não-desejo, que é uma ausência de vida, uma falta de vitalidade que está mais próxima da depressão do que do estar desperto, alerta, mais próximo da despersonalização do que da transpersonalização.
Jonas teme o ciúme e a incompreensão dos seus irmãos. Ele teme ser rejeitado e morto pelo ostracismo de seu povo. Ele teme ser um “colaborador”, um inimigo do seu povo.
O complexo de Jonas não é, apenas, um medo do sucesso, um sentimento de culpa diante do sucesso, um medo de suscitar inveja nos outros. O complexo de Jonas é, também, o medo de ser diferente, de ser rejeitado por aqueles que são diferentes.
Rollo May dizia: “Muitos fatores provam que a maior ameaça, a causa mais nítida da angústia do homem ocidental contemporâneo, não é a castração, mas o ostracismo.” Ou seja, a situação considerada como terrível e aterrorizante é a situação de ser rejeitado pelo grupo ao qual pertencemos.
Muitos de nossos contemporâneos passam por uma castração voluntária, isto é, renunciam ao seu poder, à sua originalidade, à sua independência, pelo medo da rejeição, do exílio. Eles adotam a impotência e o conformismo (para Rollo May o conformismo será a doença mais grave do nosso século) devido à ameaça eficaz e terrível do ostracismo.
O conformismo sempre foi considerado necessário à sobrevida de um grupo e à sua harmonia interna, mas este conformismo pode se tornar opressivo e provocar doenças. Estes fenômenos são observados, algumas vezes, em certos grupos espirituais. Tomam-se as mesmas atitudes, a mesma maneira de olhar mais ou menos inspirada, repetem-se as mesmas frases, sem verdadeiramente pensar em integra-las. Entra-se, assim, em uma atitude mais ou menos esquizóide.
Há aqueles que representam o papel que lhes é pedido, mas o Ser verdadeiro não está neles. Neste caso, ocorre uma espécie de mal-estar, que pode gerar uma doença. Um discípulo de São Tomas de Aquino um dia lhe perguntou: “Se minha consciência me pede para fazer alguma coisa e o Papa me pede para fazer outra, a quem eu devo obedecer?”
Esta questão é muito atual. No lugar do Papa você pode colocar o seu guru, o sol ou a lua, uma pessoa ou autoridade suprema, a referência que você busca quando coloca uma questão profunda. O que acontece se esta autoridade lhe diz para fazer alguma coisa e o seu desejo interior lhe manda fazer outra? A quem obedecer? A qual voz escutar?
Santo Tomas de Aquino dá uma resposta a seu discípulo que talvez surpreenda alguns. Ele não diz: “Obedeça ao Papa”, mas: “Obedeça à sua própria consciência, obedeça à sua consciência procurando esclarecê-la.” Não separe as duas partes da frase: “Obedeça à sua própria consciência” e, ao mesmo tempo, “procure esclarecê-la”.
Essa frase de São Tomas de Aquino é uma boa frase terapêutica. Se ele tivesse dito: “É preciso obedecer ao Papa”, ele teria feito dessa pessoa um hipócrita ou um esquizofrênico. Esta atitude pode ser observada em alguns católicos ou em pessoas que pertencem a outros grupos humanos. Obedecem à autoridade, mas uma personalidade interior se dissocia, pouco a pouco, dos seus atos. Neste divisão entre o que fazemos e o que pensamos vai se introduzir um mal-estar, ou um “estar mal” que gera a doença.
Podemos nos enganar, mas não podemos mais nos mentir. É preciso aceitar que podemos nos enganar, mas ao mesmo tempo devemos buscar esclarecer o nosso caminho, mantendo ambos unidos. Por vezes,ter a coragem de nos diferenciarmos do nosso meio e daqueles que, para nós, constituem uma autoridade. Caso contrário, descobriremos que estamos nos destruindo naquilo que temos de mais autêntico.
O medo de Jonas é o medo de ser diferente, de ser rejeitado por aqueles dos quais ele se diferenciou. O conformismo pode provocar um certo número de patologias. Quantos pássaros tiveram suas asas cortadas ou aparadas para que ficassem felizes e confortáveis em suas gaiolas douradas?
Na lenda do Grande Inquisidor de Dostoievski, esse diz ao Cristo, que retorna à terra: “Vai ser preciso suprimi-lo novamente, porque você vai tornar as pessoas muito infelizes, tornando-as muito livres. Nós queremos tornar os homens felizes. Nós dizemos: faça isto ou aquilo e tudo correrá bem. Ao invés, você quer que os homens sejam livres. Você não diz: façam isso, façam aquilo. O homem é infeliz na sua liberdade. Nós queremos libertar o homem do peso da sua liberdade.”
Este texto continua sendo atual. Estamos, incessantemente, à procura de alguém, de um ensinamento ou de uma instituição que nos diga o que é bom e o que é ruim e que nos isente do exercício da nossa liberdade. Um mestre verdadeiro não nos isenta da nossa liberdade. Ele nos dá elementos de reflexão, um certo número de exercícios ou de práticas a viver a fim de que nos tornemos livres por nós mesmos. Suas palavras não substituem as nossas palavras, elas nutrem nossas palavras. Seu desejo não substitui o nosso desejo. Não somos suas marionetes, seus soldadinhos ou discípulos fanáticos dos seus ensinamentos, mas nos tornamos pessoas livres, nutridas pelas luzes e pela riqueza que ele pode nos comunicar.
A vontade de ser como todo mundo traz um sentimento de impotência excepcional. Os psicólogos humanistas vão nos mostrar que a pressão social é tal e tão forte que a maior parte das pessoas tenta resolver os seus problemas pessoais adaptando-se cegamente, às normas e aos valores do grupo. Cortados da sua atenção primaria, empregam o critério de adaptação como o único ponto de referência para julgar se uma atitude, individual ou coletiva, é aceitável.
Como dizia Harlow: “Parece que a pressão de se conformar (de se adaptar) às normas do grupo é irresistível, mesmo quando esta adaptação está claramente em conflito com as percepções, com as atitudes e convicções do indivíduo.” Este é um bom critério de discernimento.
Um grupo são, saudável, é capaz de conter pessoas muito diferentes, que pensam de maneira diferente e que se enriquecem com suas diferenças. Porque se todos pensarem a mesma coisa, se todos entrarem na mesma concha, não pensaremos mais... Nossa relação deixará de ser uma relação de aliança e se tornará uma relação de submissão a uma doutrina comum. É como a água da chuva que, ao cair em um campo, gerasse flores de uma única cor.
É interessante notarmos que, quando um ensinamento pode florescer sob diferentes formas, ele encontra aplicações em ambientes e mundos diferentes. É o sinal de que estamos num espaço que colabora para nossa evolução em vez de nos destruir, de nos bloquear.
O medo de mudanças
Muitos têm medo de mudanças, mesmo que esta mudança as abra a uma existência melhor e mais feliz. O abandono dos antigos hábitos, a perda do conhecido, cria em algumas pessoas um clima intolerável de insegurança. Não há realmente segurança senão no previsível, mesmo que isto signifique infelicidade e sofrimento.
O desejo de segurança é muito pronunciado nos psicóticos. Em sua infância lhes foi ensinado que toda mudança é uma ameaça. A separação da mãe ou do ambiente familiar foi-lhes apresentado como o equivalente da morte e do caos. Esta noção vai criar, nestas pessoas, um medo de toda e qualquer mudança.
Muita segurança impede a evolução da pessoa, mas muita liberdade vai causar também muita angústia. A criança não sabe mais quais são seus limites. Portanto, o medo de não ser como os outros vai gerar um outro medo: o medo de conhecer-se a si mesmo.
Por Jean-Yves Leloup
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